Carlos Nougué
Entro a escrever estas
linhas sentindo lástima, por duas razões: primeira, porque me tira um tempo que
eu poderia estar usando para seguir na escrita dos dois livros que estou
terminando agora; e porque é assunto por si mesmo demasiado desagradável. Mas,
ainda que pedindo perdão a seus possíveis leitores em especial por sua
extensão, devo fazê-lo sobretudo porque se trata de defender o tomismo, essa
doutrina que, como disse Pio XI, é a única que a Igreja fez sua.
Histórico
Há uns quatro ou cinco
anos, dois jovens que se diziam tomistas e que me pareceram filosoficamente promissores
procuraram-me, e não hesitei em divulgá-los. Sucede porém que pouco depois o
que parecia ser o líder, Carlos Alberto, mostrou-se verdadeiramente como
neomodernista ao defender contra mim que os islâmicos e os cristãos têm o mesmo
Deus. Em livro, publiquei dois opúsculos meus (um fundado em artigo internacional da FSSPX) em
que julgo mostrar suficientemente a falsidade de tal asserção ao explicar o mesmo islã. Depois, ainda escrevi um artigo para meu blog Estudos
Tomistas em que refutava expressamente a Carlos Alberto quanto a isto; mas
acabei por suprimir a referência expressa a ele por julgar que ele não estava à
altura de obter resposta minha. Mas insistiram e insistiram em que lhe respondesse,
e insisti e insisti em minha postura de não fazê-lo, a qual se deve a algo de que já falarei; e
então começaram da parte deles as “gracinhas”: eu era o “tomista autêntico”, e,
dos dois tomistas com que mais me identifico, o Padre Cornelio Fabro – o maior
metafísico do século XX – passou a ser “palpiteiro”, e o Padre Álvaro Calderón
“caldeirão”! E então, além de considerar que um homem como eu, de 68 ou 69 anos
então, autor de vários livros e professor de pós-graduações e de multidão de
cursos tomistas próprios, três dos quais duram entre três e cinco anos, não
deveria rebaixar-me a debater na Internet com “engraçadinhos” que, além de não
terem nada de seu além de seu “gogó”, perdoem-me a palavra não nobre, eram tão
talentosos que se aviltavam fazendo piadinhas juvenis e dando apelidozinhos tão
infames aos que, vejam só, eles consideravam fossem inferiores a eles.
Depois porém de um
largo período em que por razões graves de saúde pouco apareci na Internet, este
ano, 2024, com a saúde bem mais estável, voltei a gravar muitos vídeos para meu
canal do Youtube, a lançar escritos pela Contra Errores, e a escrever os
referidos dois livros, um para a Contra Errores (Do Verbo Mental ao Verbo
Escrito) e o outro para as Edições Santo Tomás (Comentário ao Apocalipse), ambos os quais, como anunciado publicamente, se
lançarão se Deus quiser no primeiro semestre de 2025. Ora, isto fez crescer os
olhos do grupo, agora mais amplo, de Carlos Alberto, cujos membros passaram a
invadir todos os meus espaços, ou espaços em que participava, como o podcast de
Marcelo Andrade e o do Bacon podcast, para EXIGIR, nada menos que exigir agressiva
e grosseiramente, que eu debatesse publicamente com Carlos Alberto. Sucede
porém que Carlos Alberto já nem sequer é tomista, mas luliano (voltarei a
isto), e eu disse, sem dúvida retoricamente,
no final do podcast com Marcelo Andrade que se ele ao menos fosse scotista eu
debateria; mas não com um seguidor de um tardomedieval, Raimundo Lúlio, cuja vida
pode até ser beata, e o é, e cuja obra até pode ser numerosa, mas cuja doutrina
é tão insignificante que seu nome nem sequer aparece na maioria das Histórias
da Filosofia. Pronto, foi o bastante: agora se ergueu um membro que eu
desconhecia do grupo de Carlos Alberto, um certo Fugita, tão jovem como aquele
(devem beirar os 28 anos), a defender Duns Scot e a desafiar-me a debater com
ele na Internet. Mais que isso, muito mais: agora, verdadeiro bando de
ignorantes grosseiros e ofensivos passaram a invadir meus espaços a exigir que
eu debatesse com o novo mestre de seu grupo, um rapaz que depois vi nem sequer
é scotista, mas luliano! e que só apareceu como defensor de Scot para eu morder
seu anzol.
Mas a coisa não
terminou aí. Como eu respondo a todos os comentários em meus vídeos do
Youtube, um dia apareceu uma tropa carlos-albertiana ou, sei lá, fugitiana a
acusar-me de ter plagiado um texto de Fraile, em sua História da Filosofia, num vídeo sobre Duns Scot. No meio do fogo
cruzado, disse que, sim, havia seguido a Fraile neste vídeo, mas que o tinha
feito de memória. Algum sectário seu tirou um print do que eu dissera, e isso foi
o bastante para Fugita gravar um vídeo em que mostra que eu não o fizera de
memória e que, portanto, “estava provada a minha desonestidade” (voltarei
também a isto). Depois, como o lema “Nougué é desonesto” perdeu um pouco o
calor do momento, passou Fugita e seu bando a criticar todos os meus vídeos,
sem deixar de invadir meus espaços para exigir, sempre agressiva e
grosseiramente e o mais das vezes sob ridículos pseudônimos, que eu debatesse
com ele, com este Doutor da Internet.
Baste o dito como
histórico.
POR QUE NÃO DEBATO COM
CARLOS ALBERTO
NEM COM FUGITA
Ponha-se antes de tudo
que jamais debaterei com eles de modo algum. Mas digo depois que debates de
Internet absolutamente não esclarecem nada; ao contrário, lançam trevas. São
como os debates eleitorais entre candidatos, e não vejo nada mais expressivo e
emblemático para retratá-los que a cadeirada dada por um candidato em outro
recentemente. Como acontece nestes debates entre candidatos, ganham os debates
“filosóficos” de Internet não necessariamente os que têm razão, mas quase
sempre os que melhor sabem fingir que têm razão. É a retórica a serviço do mal,
a mesma retórica que Platão tanto vituperou.
Ademais, sem querer
dizer que o fato de alguém ter lançado uma vasta obra escrita necessariamente
implique que ele tenha razão, o fato é que não lançar nenhum obra escrita depõe
contra quem se queira superior filosoficamente. É que, como dizia Santo Tomás,
mais nobre que contemplar a verdade é divulgar o contemplado, o que é próprio
da caridade. E nenhum desses dois
rapazes jamais publicou mais que algumas linhas e vídeos na Internet. Ora, com
os dois livros que lançarei em 2025 eu terei cerca de 4.000 páginas de livro
publicadas, em 12 volumes, sem contar que a transcrição de minhas sempre objetivas aulas ministradas ao longo de uma década pode ser encadernada em várias volumes que totalizam cerca de 7.000 páginas.
Ademais, tenho 72 anos,
e algumas doenças crônicas graves. Como eu me exporia a debater com pessoas tão
jovens e com uma espécie de furor debatedor, no ambiente turvo e nada idôneo
dos debates de Internet? Como sempre disse aos do referido bando a respeito de
seus dois líderes, cresçam e apareçam, ou seja, tenham uma vasta obra publicada
e terão de mim certo respeito, o
mesmo que tenho para com os filósofos adversários do tomismo que têm uma obra
considerável. Mas certo respeito não
é adesão, nem muito menos implica que eu vá debater de qualquer forma com tais
sumidades – sempre adversários. Tenho mais que fazer, e como disse a um sectário
desse bando: Vão ver se estou lá na esquina.
Uma objeção que os do
bando invasor me lançaram é que eu desafiei Olavo de Carvalho duas vezes a
debater comigo na Internet. Talvez não saibam a razão: a primeira vez foi só
para defender um amigo; a segunda, porque ele, Olavo, estava a estimular seus
sectários a fazer comigo algo semelhante ao que os sectários de Carlos Alberto e Fugita estão a
fazer, e porque sabia que ele não aceitaria o desafio; eu queria apenas tentar
diminuir o ímpeto selvagem de tais sectários; mas desafiei-o a tal, ele negou-se, e calei-me. Aliás, diga-se de passagem que
agora um que ouro olavete se une à ação dos fugitistas contra mim, e dão sua
contribuição ao maravilhoso acervo das pérolas denominativas fugitistas:
relembram que sou “Carlos Ninguém”. A idade mental de toda essa gente deve
girar em torno dos 15 anos, e ainda assim 15 anos mal-educados.
QUEM SÃO CARLOS ALBERTO
E FUGITA
Carlos Alberto, como eu
disse, apareceu como tomista, mas da linha do Cardeal Caetano, a qual não é a minha; nem por isso todavia julguei deveria deixar de divulgá-lo. Depois, passou à linha
de outro tomista, o espanhol Francisco Zumel, que conheço muito pouco;
continuei com a mesma atitude. Mas eis que depois, num prazo de apenas quatro
ou cinco anos, deixa Carlos Alberto de ser tomista e passa a ser seguidor do
também espanhol Francisco Suárez, um prolífico eclético que tentou sintetizar
Santo Tomás e Duns Scot, sem, claro, conseguir grande coisa, além de, como o
provo em livro e em cursos, ter introduzido no meio católico certa “vontade
geral” que é uma como antecipação da de Jean-Jacques Rousseau, contrária
portanto à doutrina da realeza social de Cristo; em seguida deixa de ser
suareziano e passa a dizer-se scotista, ou seja, seguidor de Duns Scot, sem
deixar porém de namorar a semifenomenologia de um Puelles; e por fim – por fim?
– passa a dizer-se luliano. É de surpreender? Parece evidente que não. Mas há
que dizer: isto é que é homem de convicções filosóficas firmes, estáveis,
profundas, enraizadas...
Quanto a Fugita, é um
adventista, loquaz como um pastor, que vive a divulgar sua religião e a
defender furiosamente Lutero contra os católicos que apontam seu verdadeiro
caráter, como por exemplo o fizeram Marcelo Andrade e um convidado seu num podcast, aliás muito interessante. Para Fugita, eles não sabem o
que dizem, deformam primária e toscamente a doutrina de Lutero, assim como eu
absolutamente não entendo a Santo Tomás, nem a Duns Scot, nem, muito menos, a
Raimundo Lúlio. E vejam só: o adventista Fugita vem dizer aos católicos que
não devem seguir a Santo Tomás, contra o que sete séculos de papas disseram; contra a ordem expressa de Leão
XIII, São Pio X (vide sua taxativa
encíclica Doctoris Angelici), Pio XI
e Pio XII de seguir a Santo Tomás nos estudos; e contra as 24 Teses Tomistas
encomendadas por São Pio X e aprovadas e adotadas por Bento XV, com o que como
que se canonizou a doutrina de Santo Tomás. E ainda algum deles tem a
petulância de contrariar esta evidência com certas palavras de Pio XI em que,
no entanto, o Papa diz apenas que, em questões filosóficas e teológicas disputadas
e não centrais, pode não seguir-se a
Santo Tomás, como aliás o fazem vários tomistas (e eu em particular: é pública
minha crítica aos que julgam ser Santo Tomás tão inerrante, que chegam a dizer
que ele não errou quanto à Imaculada Conceição, quando em verdade errou, sim,
ele, São Bernardo de Claraval, Santo Alberto Magno e São Boaventura). Mas
haverá petulância maior que um adventista dizer aos católicos que mestre eles
devem seguir? Isto é absurdo até segundo o senso comum: é como se eu dissesse
aos protestantes que não devem seguir a Lutero mas a Melâncton ou a Calvino ou
a Armínio ou qualquer coisa assim.
Nota: Veja-se que, depois
mesmo da referida primeira investida desse grupo contra mim, divulguei o livro
de um protestante que faz parte dele em que se expõe o tomismo do ângulo do
Cardeal Caetano (e de outros comentadores de Santo Tomás), não totalmente, é
claro, porque como um protestante defenderia o Caetano firme defensor da Igreja
Una, Santa, Apostólica e Romana? Mas ainda assim o divulguei, na
esperança até, de como eu disse então publicamente, de que ele acabasse por
converter-se à verdadeira Igreja; assim como Couperin e Bossuet se
correspondiam com Bach e com Leibniz porque estes dois homens, de boa vontade,
sonhavam com a reunificação dos cristãos. De fato, aquele protestante cujo
livro publiquei também parecia um homem de boa vontade (e não digo que tenha
deixado de parecer tal; apenas nunca mais soube dele senão por breves
aparecimentos seus em meu perfil do Facebook). Mas pode dizer-se o mesmo de
Fugita?
SEU MODO DE AGIR E A
QUESTÃO DE MEU
VÍDEO SOBRE DUNS SCOT
Certo dia, pouco depois
de Fugita ter “provado” a minha desonestidade e sem que eu tivesse tomado ainda perfeito
conhecimento desta acusação, escreve-me pelo Messenger um rapaz de 17 anos que
um dia me visitara com seus pais dizendo-se da Resistência (e apenas relembro
que, embora eu me considere tradicional, já não faço parte de nenhum grupo
tradicionalista, ainda que me incline mais a um deles). Foi muito agradável a
visita. Mas eis, repito, que esse jovem de 17 anos um dia me escreve pelo
Messenger para dizer-me que ou debatia com Carlos Alberto e Fugita ou me adviriam
consequências ruins. Eu, crendo-o tradicionalista, respondi com argumentos
tradicionais. Mas seu tom aumentou ou engrossou, sei lá, numa segunda mensagem sua, e como se não
fosse um jovenzinho falando com um homem de 72 anos, depois de uma série de
invectivas e de “profundas” lucubrações filosóficas, perguntou-me de chofre:
Leu a Fraile na palestra sobre Duns Scot? Não sabe da acusação de plágio? Ou
disse tudo aquilo de memória?
Respondi: Plágio (no
caso, filosófico) dá-se quando alguém escreve ou diz algo que não é seu dizendo porém que é
seu, coisa que nunca fiz, nem, tampouco., no referido vídeo. Quanto à questão da memória,
como eu a tenho muito ampla – que dizer de minha quase repetição de memória no
podcast com Marcelo Andrade de dois artigos da questão II da primeira parte da Suma Teológica? que dizer das numerosíssimas
palestras presenciais em que falei duas, três horas sem sequer nenhum roteiro diante
dos olhos? e que dizer das aulas de 10 horas seguidas (ou melhor, intercaladas
só pelo almoço e por um cafezinho) na pós-graduação da Gama Filho que repeti ao
longo de 10 anos em oito capitais do Brasil e dadas sempre de memória, enquanto
quase todos os demais professores as davam com projeção de slides? –, como
então tenho de fato grande memória, no momento em que os do bando me atacavam com
mil acusações e perguntas simultâneas, eu disse uma impropriedade, ou antes uma
meia-verdade, o que sem dúvida constitui falsidade. Em alguns poucos vídeos, de fato, com efeito, tenho o texto em que me baseio diante
do olhos, de modo que ora o leia, ora o repita de memória, ora o comente. Como
atinar, no meio de um fogo cruzado e depois de muitos anos, para a porcentagem em que essas coisas se tinham dado no vídeo em questão? Mas que a acusação de desonesto
é uma infâmia maliciosa prova-se pelo seguinte: antes de tudo, e até sob algumas críticas,
em meus livros sou escrupulosamente citacionista, de modo que ao contrário até
do que era comum na Escolástica (Santo Tomás, por exemplo, muitas vezes citava
palavras de outrem sem o dizer, claro que não por malícia, mas por introjeção e
assimilação do texto alheio; Santo Alberto Magno, pela mesma razão, escreveu sobre
Metafísica fazendo uma como paráfrase da de Avicena; etc.), ao contrário, digo,
disto que se dava na Escolástica medieval, cito sempre abundantemente mil autores, incluindo
os adversários; depois, tanto nas aulas de Teologia da pós-graduação em tomismo
em que hoje leciono como em dois das dezenas de tratados de minha longa Escola Tomista
faço verdadeiras lectiones: leio o livro de texto (embora aqui e ali cite passagens suas de memória) para o ir comentando passo a passo.
Por que então seria desonesto num simples vídeo de Internet, eu, que ademais, como já disse aqui mesmo, tenho absoluta certeza de que vídeos de Internet não trazem verdadeira marca autoral, servindo
apenas, em meu caso, para despertar nas pessoas o interesse pelo tomismo?
Volto contudo à
autoridade de 17 anos. Além de ela nem sequer me ter dito na primeira vez que já não era
tradicionalista e que agora se alinhava com o grupo de Carlos Alberto – fui confirmá-lo
em seu perfil de Facebook –, por que depois de nossa segunda conversa não levou seu
print a Fugita para que ele, com o mesmo estardalhaço com que mostrara o print
do que eu dissera sob fogo cerrado e em que incorrera em resposta objetivamente falsa,
o exibisse publicamente? Ou lho terá dado, e Fugita motu proprio resolveu não divulgá-lo? Não o posso saber. Mas sem
dúvida isto é indicativo do espírito geral do grupo, porque esta autoridade de
17 anos foi incapaz de pelo menos divulgar ela mesma o que eu lhe disse, e
continuou a ridicularizar por aí os “tomistoscos”. Vê-se que aprendeu bem a ser
tão “gracioso e profundo” em seus julgamentos filosóficos como seus novos mestres.
Nota: É claro que eu tenho
o print destas conversas com o rapazote.
CONCLUSÃO
Que esta carta pública
seja minha última palavra sobre este grupo ou bando. É muito provável que seus
principais façam algum estardalhaço difamatório em resposta, repetindo ademais uma
vez mais e sempre que ninguém além deles entende Tomás, Caetano, Suárez, Scot,
Puelles, Lúlio. Não me importa. Não treplicarei. Sirva esta carta de alerta aos
católicos católicos (infelizmente hoje é necessário recorrer a redundâncias
como esta) quanto à verdadeira face desse grupo e de seus expoentes. E sirva
ademais para que estes mesmos saibam que ser vituperado e difamado e ter a
reputação assassinada por hereges é um galardão, é um prêmio, é um troféu; mais,
redunda em certo mérito. E eu, que já vou bem avançado em idade nesta vida, e que obviamente não sou inerrante nem impecável, pretendo porém levar
comigo este mérito para a vida eterna. Obrigado, senhores hereges.
P.S.: Para mais confirmar a profundidade filosófico-teológica dos desse bando, veja-se abaixo que profunda crítica eles me dirigem: