Salvo raras exceções, o autodidata não organiza os seus
conhecimentos. O seu crescer não é vital; assemelha-se mais ao dos minerais,
onde o aumento do volume se faz por simples justaposição de novas partes. As
noções, hauridas ao acaso das leituras, conservam a marca da origem e não
chegam nunca a fundir-se na unidade coerente de um todo orgânico que se
desenvolve por verdadeira assimilação do alimento. Na inteligência assim
atulhada, nada foi digerido; não houve germinação espiritual; é a desordem, a
incoerência, o caos. Daí a mentalidade própria do sem-mestre, que é, de regra,
indócil, teimoso; simplificador de problemas complexos; facilmente convencido
de que todos os conhecimentos que ele acaba de adquirir são completamente
ignorados pelos outros, como até aí o haviam sido por ele; e sobretudo, bem-aventuradamente satisfeito de si mesmo e de sua autossuficiência, não lhe
ocorre a possibilidade da dúvida nem a prudência da interrogação.