Carlos Nougué
1) A falácia da equivocidade. Exemplo: quer-se assimilar o
“conhecimento por presença” de Olavo de Carvalho – que é antes de fulcro
schellinguiano e guénoniano – a nada menos que a doutrina de S. Tomás! Qual é o
truque? Tomar a própria expressão “conhecimento por presença” em Olavo e em
Tomás como unívoca, quando em verdade é tão equívoca como chamar ursa ao animal
fêmea e à constelação.
2) A falácia do corte e costura. Exemplo: quer-se passar a
imagem de que S. Tomás teve a Hugo de São Vítor por mestre, apesar de que na Suma
Teológica Tomás refuta a doutrina de Hugo relativa ao sacramento e o refere
pouquíssimas vezes, enquanto em De veritate chama à sua doutrina sobre a beatitude, por um ângulo, herética – reduzindo-a à heresia do
monotelismo (a que acarretou o anátema a Honório I) – e, por outro ângulo, ao
menos temerária. Qual é então o truque? Simples: cala-se tudo o que não
convenha à imagem pretendida, e amplificam-se migalhas de citações
convergentes. Corte e costura, pois.
Observação: não raro essas duas espécies
de sofisma andam de mão dada.
Pois bem, se eu fosse
responder – como me pedem – a todos os casos de recurso a tais falácias ou
sofismas, não faria outra coisa na vida, tal a quantidade com que brotam do
solo infecto da internet. Verdadeira cornucópia de atentados à lisura
científica, seu nome também é legião. Mas tudo tem seu tempo debaixo do céu:
volte-se por favor a ler o programa de meu curso “Uma História Tomista da
Filosofia”, e ver-se-á que tais ofensas à ciência não ficarão sem refutação – e
refutação definitiva.