Carlos Nougué
É o que se lê e ouve por aí. E, com efeito, Nelson Rodrigues chegou a
elogiar Dom Lefebvre. Mas em verdade não o fez senão para contrapô-lo a Dom Helder
Câmara e todo o “catolicismo marxista”, porque anticomunista de fato Nelson Rodrigues
foi. Como todavia chamar, já nem se diga católico tradicionalista, mas católico
pura e simplesmente a quem disse coisas como a que se lê na imagem abaixo ou
como esta: “Sou um menino que vê
o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de
morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de
ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino)”? Ou a quem teve numerosos romances e peças teatrais interditados pela censura, o mais
das vezes a pedido da Igreja, por atentado à moral?
Veja-se uma relação parcial dessas obras censuradas e muitos
de seus “edificantes” títulos, tão “edificantes” como seu conteúdo: A mulher sem pecado, Álbum de família, Bonitinha mas ordinária, Vestido de noiva, Anjo negro, Senhora dos Afogados, Vinde ensaboar vossos pecados, Valsa
nº 6, A falecida, Perdoa-me por me traíres, Viúva, porém honesta, Boca
de Ouro, Toda nudez será castigada.
Mais: foram suas peças uma das principais molas e inspirações
da maré montante da pornografia no cinema brasileiro a partir do próprio regime
militar. Ademais, mesmo depois de sua “conversão” ao tradicionalismo católico,
jamais Nelson Rodrigues foi capaz de fazer a mínima autocrítica com respeito a
estas obras suas.
Mas dirão seus
defensores... católicos: Em suas peças Nelson Rodrigues apenas espelha com
realismo a realidade do pecado, “a vida como ela é”. Já lhes respondeu porém Pio XII, falando do
cinema: “Uma
coisa é conhecer os males, procurando dar-lhes explicação na filosofia e na
Religião; outra é fazer deles objeto de espetáculo e diversão. Ora, acontece
que dar forma artística ao mal, descrever-lhe a eficácia e o desenvolvimento,
os caminhos claros ou tortuosos com os conflitos que gera ou através dos quais
caminha, tem para muitos uma atração quase irresistível” (“Alocução de 28 de
outubro de 1955 aos representantes do mundo cinematográfico”).
Você,
católico que quer contribuir para a salvação de seus filhos, teria ânimo para
dar-lhes a ler tais obras de Nelson Rodrigues? ou ao menos temeria o julgamento
de Deus por isto? ou ainda se poria a si mesmo em ocasião de pecado lendo ou vendo tais peças?