Carlos Nougué
Todo o esquema bolsolavista está ruindo, enquanto
os bolsolavistas, tentando salvar a própria pele, passam de fanfarrões a
cordeirinhos lamurientos. Voltará ao poder a esquerda? Se voltar, sofreremos
todos; no entanto, a culpa terá sido toda não só do tosco e estúpido Bolsonaro
mas – e talvez sobretudo – de toda a hoste de seus ideólogos (OdC e olavetes.
Donato e donatistas, IPCO, e outros que tais, incluindo não poucos
tradicionalistas católicos), tão trapalhões e tão irracionais como o mesmo
Bolsonaro. A negação do evidente – o pior dos pecados intelectuais – fez
Bolsonaro e sua cloroquina ser atropelados pela pandemia; o liberalismo
econômico fez Bolsonaro não obrigar os banqueiros, os grandes financistas e os
grandes industriais a arcar, junto com o governo, com o ônus da crise da
covid-19 e do necessário sustento dos economicamente mais frágeis, além de, sob
a batuta imbecil de Paulo Guedes, tê-lo impedido de implementar um vasto plano
de obras públicas para compensar as falências e as demissões galopantes; o
liberalismo ideológico fez Bolsonaro descumprir a promessa de campanha de lutar
a todo o custo contra a ideologia de gênero, que ao contrário ganhou mais e
mais espaço sob seu governo; a incapacidade de entender o que é uma guerra justa,
que supõe um exato exame da correlação de forças, fez Bolsonaro ver-se minado
por atos bravateiros não só próprios, mas de um Allan dos Santos, dos 30...
ops, dos “300” de Brasília e seus “mortíferos” rojões, etc.; a ausência da
verdadeira moral, que reza, por exemplo, que mentir é sempre pecado, fez
Bolsonaro, seus filhos, os olavetes e outros que tais incrementar uma idiota
indústria de fake news, igualzinha à da esquerda, com, aliás, as
consequências que estamos vendo agora; e a falta de um verdadeiro programa
cultural e doutrinal que formasse a ampla base popular de apoio ao presidente – base que se
estreita cada vez mais – fez Bolsonaro aliar-se a gente tão “impoluta” como Roberto Jefferson
sob o aplauso de olavetes e de donatistas. Diante deste triste quadro, não nos
cabe senão repetir com Pio XII: “Nós percebemos a numerosa classe daqueles que
consideram os fundamentos especificamente religiosos da civilização cristã
[...] sem valor objetivo [para os dias de hoje], mas gostariam de conservar o
brilho exterior dela para manter de pé uma ordem cívica que não poderia passar
sem tal. Corpos sem vida, acometidos de paralisia, são eles mesmos incapazes de
opor qualquer coisa às forças subversivas do ateísmo” (Discurso à União
Internacional das Ligas Femininas Católicas).