Carlos Nougué
Xavier Zubiri, condenado em vida por modernista e cuja obra conheço muito bem por tê-la traduzido quase toda, tem por doutrina central que a inteligência humana é “senciente” (ou, como preferem outros, “sentinte”), isto é, conhece concomitante e sinteticamente de modo sensitivo e racional, sendo o homem um “animal de realidades”. Como responder tomisticamente a isto? Ao modo essencialista de um Fabro ou de um Tonquédec (essa brecha para um indébito acordo com a epoché husserliana), ou ao modo existencialista de um Gilson ou de um Maritain (e, ao cabo, também de um Fabro)? Ou ao modo entitatista, modo esse quase geral entre os tomistas? De maneira alguma: fazê-lo é acabar por dar razão a Zubiri, porque, com efeito, Zubiri toca em cheio e dolorosamente um nervo sensível do tomismo, o que vem de Santo Tomás jovem e aviceniano para alcançar de algum modo, insista-se, a quase totalidade dos tomistas. A maneira como se deve responder a Zubiri quanto a isto é de todo outra, e supõe o resgate e o aprofundamento de Santo Tomás maduro (o das Questões Disputadas sobre a Alma, da Suma Teológica, etc.), coisa que, sejamos justos, já começou a fazer o mesmo Fabro em Percepção e Pensamento (ainda que algo contraditoriamente e em forma, digamos, de “insight”). Mas é o que pretendo mostrar e fazer o mais cabalmente possível em uma de minhas futuras Questões Metafísicas: “Santo Tomás e/ou Xavier Zubiri? – Do Sentido ao Verbo Cordial”.