Carlos Nougué
Nota prévia: como se verá, diferentemente do que se dá com
o magistério da Igreja com respeito ao Reinado Social de Cristo, o qual nos
fornece documentos em abundância, a boa bibliografia sobre o assunto é algo parca,
enquanto a má bibliografia é algo vasta. Primeiro, darei a relação dos bons
livros, com alguns comentários. Depois, a dos maus livros segundo graduação de
falsidade, também com alguns comentários. – E, sim, só apresentarei livros do
âmbito católico, para bem ou para mal.
I. A Boa e
Indispensável Bibliografia
1) Carta de Santo Agostinho ao governador
Bonifácio.
2) De regno, de Santo Tomás de Aquino.
Em português, publicou-se Do Reino e outros escritos (Armada e
Resistência Cultural), com tradução e estudo introdutório meus. Aí está já a
doutrina definitiva do Reinado Social de Cristo. É a sólida rocha sobre a qual
hão de dar-se posteriores aprofundamentos.
3) La Royauté Sociale de N.-S. Jesus-Christ d’après
le cardinal Pie [de Poitiers] (A Realeza Social de N. S. Jesus Cristo
segundo o Cardeal Pie de Poitiers). Infelizmente, só se encontra em francês (ainda
que também em PDF, na Internet). Mas é fundamental, porque o nosso Cardeal é um
dos grandes paladinos do Reinado Social de Cristo. O livro tem coisas datadas,
que porém não lhe tiram importância.
4) Pour qu’Il règne (Para Que Ele
[Cristo] Reine), de Jean Ousset, leigo cujo movimento La Citè Catholique (A Cidade
Católica) foi apoiado vivamente por Pio XII e por D. Marcel Lefebvre. Não sei
se há em outras línguas. Também tem algo de datado, além de padecer de otimismo
exagerado quanto à recristianização do mundo, sem que todavia nada disso lhe
tire importância.
5) El Reino de Dios – La Iglesia y el Orden Político
(O Reino de Deus – a Igreja e a Ordem Política) e Prometeu – A Religião do
Homem (este último pela Castela Editorial), ambos do Padre Álvaro Calderón.
O primeiro é indispensável porque consolida definitivamente a doutrina. O
segundo, para entender o destronamento de Cristo na sociedade pelo próprio magistério
conciliar. Considero o P. Calderón o maior e mais profundo Mestre auxiliar de
S. Tomás.
§ OUTRAS OBRAS
Também são de interesse os seguintes livros:
1) Disputationes
de controversiis christianae fidei adversus hujus temporis haereticos,
Terceira Controvérsia Geral: De Summo
Pontifice (1576-1588); e Tractatus
de potestate summi pontificis in rebus temporales, adversus Gulielmus Barclay (1610),
de São Roberto Belarmino. Por vezes, especialmente por sua terminologia antes platônica,
parece que o nosso Doutor não sustenta a posição do magistério quanto à relação
entre poder temporal e poder espiritual; mas não é verdade: ele o faz, e numa época
adversa para tal. Tem, pois, grande mérito.
2) Les Pourquoi de la Guerre mondiale (Os Porquês da [Primeira] Guerra Mundial), de Mons. Henri Delassus. Cuidado apenas com a tendência de Delassus a ser quasi um milenarista por seu otimismo excessivo quanto à recristianização do mundo.
3) Conférences de S. Paul de Liège. De la maternité de l'Eglise. Relations essentielles des sociétés catholiques avec l'Eglise (Da Maternidade da Igreja. Relações Essenciais das Sociedades Católicas com a Igreja), do P. Feux. (Creio que não haja tradução ao português.)
§§ COM
O PERDÃO DA AUTORREFERÊNCIA
Toda
a parte de Política Teológica de meu livro Estudos Tomistas – Opúsculos II:
• Da Realeza de Cristo
• Corte e costura humanista
Apêndice I: Se pode o homem ter mais de um fim último (Exposição)
Apêndice II: A doutrina tomista sobre tirania e
rebelião
• Notícia
histórica da Doutrina Social da Igreja
• A pólis em ordem a Deus
Apêndice: Santo Tomás de Aquino e a
fina “arte” de discernir o mal menor
• O que é a
ideologia
• Fátima e a Rússia de Putin, ou quando se faz imperioso um
“parece”
• Quanto a Charles Maurras quem tem razão?
• Diferenças
entre a revolução marxista e a revolução marcusiana
• Governo
mundial, pandemia, governo Bolsonaro – os campos opostos do catolicismo
tradicional e do “catolicismo” liberal-conservador
Apêndice I: Direitismo conservador “católico” versus
Teologia da Libertação – duas cabeças da mesma hidra
Apêndice II: Um jesuíta vestido de brâmane – ou de como
tornar-se uma democracia-cristã de sinal invertido
• Uma proposta lançada em solo estéril (Proposta de programa de
governo cristão para o Brasil)
II. A MÁ BIBLIOGRAFIA
Todos os livros abaixo padecem algum
problema doutrinal com respeito à Realeza Social de Cristo. Divido-os em menos
maus (porque ainda não saem demasiado da doutrina cristã) e em piores. No
entanto, sugiro-lhes que não leiam nenhum deles senão após estarem firmes na
doutrina infalível do magistério da Igreja quanto a este assunto.
§
MENOS MAUS
1) La
Chiesa e lo Stato, do Padre Mateo
Liberatore. (Creio que tampouco tem tradução ao português.)
2) De
subordinatione indirecta Status ad Ecclesiam, in
De habitudine Ecclesiae ad civilem societatem,
segundo tomo do Tractatus de Ecclesia Christi,
do Cardeal Louis Billot. (Sem tradução ao português, creio.)
3) Doctrina
política de Santo Tomás (ou Pueblo
y Gobernantes al servicio del Bien Común), de Santiago
Ramírez O.P. (Não sei se tem tradução ao português.)
4) Segundo
volume (Ecclesia et Status) de
Institutiones Iuris Publici Ecclesiastici,
do Cardeal Ottaviani.
5) Os
capítulos relativos à relação entre cidade e Igreja de De
Lamennais a Maritain, do P. Julio
Meinvielle. Como diz o P. Calderón, foi um tropeço do grande Meinvielle, devido
a que aqui segue servilmente neste assunto a autoridade do Cardeal Billot. Mas
quase todos os outros livros de Meinvielle são de todo recomendáveis.
§§ PIORES
1) De Monarchia, de Dante Alighieri.
2) De potestate civili, De potestate
ecclesiae I-II e De Jure belli Hispanorum in barbaros, de
Francisco de Vitoria, o introdutor, no século XVI, do nominalismo no tomismo
quanto às relações entre estado e Igreja.
3) De
legibus e Defensio fidei,
ambos de Francisco Suárez, que introduz na Igreja uma sorte de “vontade
geral” semelhante, mutatis mutandis, à de Jean-Jacques Rousseau.
4) L’humanisme
politique de Saint Thomas, de Louis Lachance O.P.
5) Tratado de Filosofía del Derecho, tomo II, de Francisco Elías de Tejada.
6) La Juridiction de l’Eglise sur la Cité, do Cardeal Charles Journet.
7) Religion
et Culture, Du régime
temporel et de la liberté, Humanismo Integral
e On The Philosophy of History,
de Jacques Maritain, o “tomista” corruptor do tomismo e da doutrina da Realeza
Social de Cristo – e pai intelectual do CVII e seu destronamento de Cristo.
* * *
Espero que a sugestão de programa de estudos que
termina aqui os ajude. Obviamente, esta sugestão padece uma falha: só posso
falar dos livros que li – e há multidão de outros que não li. Bons estudos.