terça-feira, 1 de dezembro de 2020

FOI LUTERO O CAUSADOR DO FIM DA CRISTANDADE?

                                                                                                                             Carlos Nougué

 Não o foi. O fim da cristandade começou no século XIV com a aliança da burguesia e dos reis rebeldes contra a direção espiritual da Igreja sobre as nações. Aprofundou-se no século XV-XVI com o humanismo e o mal chamado renascimento, quando o vírus alcançou o mesmo papado; é um dos momentos mais tristes da história da Igreja. Quando Lutero fez o que fez, só restava de cristandade o império de Carlos V; era a chamada Cristandade menor, que, efêmera, só duraria até a morte de Felipe II, filho e sucessor imediato de Carlos V. Na França galicana, é verdade, Cristo ainda estava presente de algum modo nas leis; mas ali já não era a Igreja a que dirigia espiritualmente o estado, senão que era este o que, cesaripapisticamente, dirigia aquela. A revolução francesa daria fim ao mesmo cesaripapismo galicano. – O que portanto o heresiarca Lutero causou, ou seja, a grave divisão da própria Igreja, não constituiu todavia senão um aprofundamento do que já se vinha dando desde o início do século XIV. E nada mais natural, sobretudo se se levam em conta as ambições cesaripapistas que já se haviam enraizado em solo alemão com o Sacro Império Romano Germânico. – Em suma, Lutero não é senão um dos elos, ainda que muito importante, da cadeia histórica da apostasia das nações.