Carlos Nougué
A discussão e a divulgação, em meios católicos,
das mais estapafúrdias, das mais estupidificantes teorias conspiratórias
difundidas pela gnose perenialista internacional (que aliás se divide em
pró-EUA e pró-Israel [Steve Bannon, OdC] e pró-Rússia [Dugin]) têm duplo
efeito nefasto. 1) Deixam os católicos pendentes de uma como novela de
televisão, fazendo-os afastar-se assim da única doutrina política que
interessa, a da realeza de Cristo, de suas vicissitudes ao longo da história,
de sua aplicação aos dias apocalípticos de hoje. 2) Tornam tais católicos meros
apêndices políticos da mesma gnose perenialista, que alcança assim um objetivo
seu de sempre: tornar-se hegemônica entre eles (sobretudo entre os
tradicionalistas, como se viu no já antigo episódio de sua infiltração na
FSSPX, graças a Deus sustada por D. Lefebvre). – Ademais, são linhas
confluentes a gnose perenialista e o modernismo. Com efeito, não raro é
impossível distingui-los doutrinalmente; e ainda está por investigar-se a
história de suas relações mútuas. – Mas dizem-me alguns católicos: Esta é uma
questão disputável! Respondo: Não é, não! Depositar as esperanças políticas num
Trump, por exemplo, não é nada católico; é liberal. Esquecemos que o
liberalismo é a raiz de todas as revoluções? Além disso, é óbvio que quem se deixa infiltrar nos
princípios acaba por tornar-se vulnerável a infiltrações, digamos, físicas. Em
outras palavras: se não conseguimos distinguir perfeitamente os princípios
políticos católicos dos princípios políticos perenialistas, nem o modo católico de
atuação política do modo perenialista de atuação política, como impediremos que
se misturem entre nós os mesmos perenialistas? Temos certeza de que isto já não
se dá bem diante de nosso nariz?