Carlos Nougué
Uma coisa é dizer que os entes de razão e as relações de razão chamados lógicos não têm fundamento próximo na realidade extramental, porque tais entes, com efeito, não abstraem nenhuma quididade nova. Uma coisa, também, é dizer que entes imaginários como o unicórnio ou o centauro não têm fundamento próximo nem remoto na realidade extramental (razão por que, aliás, em certo sentido são os entes mais propriamente ditos de razão; embora eles, enquanto são mesclas imaginárias de coisas reais, tampouco deixem de ter certo respeito à realidade extramental). Outra coisa, porém, é negar que enquanto tais, ou seja, enquanto produtos de nossa mente, todos esses entes e relações de razão existem de fato, são de fato, são, enfim, reais. Cai-se com esta negação numa sorte de irrealismo, porque, com efeito, tudo o que se produz em nossa mente é tão real como ela, se, insista-se, se considera em si mesmo e não com respeito à realidade extramental. Insista-se ainda: as operações e as obras de nossa mente fazem todas parte, justamente, da realidade mental, de modo que, se obviamente um juízo falso sobre a realidade extramental não encontra lugar nesta, nem por isso, todavia, deixa de estar solidamente assentado na realidade mental. Mas tudo isto, que começa a tratar-se na Lógica, só pode compreender-se perfeitamente quando se alcança a Metafísica, a rainha das ciências, aquela de que todas as demais ciências não são senão partes potenciais. Não podemos, contudo, enquanto estamos na Lógica, erguer muros de incompreensão que se mostrem instransponíveis ao alcançarmos a Metafísica, motivo por que o melhor professor de Lógica não pode ser senão o lógico-metafísico (assim como o melhor professor de Música há de ser o músico-matemático, et reliqua).