ESTÁ CORRETO D. VIGANÒ AO DIZER QUE “O FIM DOS TEMPOS ESTÁ AGORA APROXIMANDO-SE DIANTE DE NOSSOS OLHOS”?
Carlos Nougué
Numerosas vezes já expressei publicamente minha grande admiração por D.
Carlo Maria Viganò. É o único membro da hierarquia – além de D. Athanasius
Schneider mas ainda mais vigorosamente que este – que já tomou o caminho de
retorno à tradição (e não nos esqueçamos de que a crise da Igreja não terá solução
senão com o retorno da hierarquia à tradição). Creio, porém, que ele ainda não
superou de todo certo liberalismo que infecta o catolicismo norte-americano,
razão por que na campanha presidencial vem apoiando a Trump de modo, digamos,
acrítico. Naturalmente, há que apoiar a Trump nesta campanha. Se não a ele, a
quem mais, senhores católicos liberais? A Biden? Ou a um voto nulo que favorecesse a Biden? Mas deveria tratar-se de apoio expressa
e publicamente crítico, ou seja, a tão somente um “mal menor”. Por outro lado,
ademais, acaba D. Viganò de dar uma estupenda entrevista a Life Site: “Archbishop Viganò sees evidence ‘that the end
times are now approaching before our eyes’” (https://www.lifesitenews.com/blogs/archbishop-vigano-sees-evidence-that-the-end-times-are-now-approaching-before-our-eyes).
É de tocar o coração de qualquer católico que não tenha perdido o senso da tradição.
Quanto, porém, e data venia, a que a proximidade do fim dos tempos
esteja bem diante de nossos olhos, tal é dito, parece-me, sem as devidas
explicitações.
1) Antes de
tudo, concedo perfeitamente que os dois sinais dados por Cristo para a proximidade
do fim (apostasia das nações e abominação da desolação instalada no
lugar santo) parece que já se
cumpriram ou estão cumprindo-se. Mas insisto: é essencial este parece.
2) Depois,
quando na Escritura se usa o termo “aproximação”, não se quer necessariamente
dizer com isso que o acontecimento de que há aproximação já bata às portas. Porque, ainda que se considere que aqueles dois sinais dados por
Cristo se referem a acontecimentos anteriores ao advento do último Anticristo,
entre a morte deste e o fim dos tempos, todavia, decorrerá um tempo que é estrito segredo de
Deus. Há múltiplas as opiniões ou hipóteses quanto a isto. Eu tendo a crer que
será ínfimo. Mas pode ser de mil, dois mil anos, etc.
3) Ademais, é parte
do mesmo segredo de Deus o tempo que decorrerá entre o cumprimento dos dois
sinais dados por Cristo (se se considera que a "abominação" é anterior e não simultânea ao derradeiro Antricristo) e este. Com efeito, quanto tempo durará a atual
sexta-feira da paixão da Igreja? Nada sabemos disto, igualmente.
4) É natural
que os católicos queiramos a Parusia, a segunda vinda de Cristo, e a Jerusalém
celeste final, sobretudo se estamos sob o grande sofrimento que nos causa a atual
apostasia na Igreja. Mas devemos conter as ânsias de nosso coração e
preparar-nos para o que venha, porque sempre devemos dizer a Deus: Seja feita a
vossa vontade.
5) Além disso e
por fim, como dizia S. Agostinho, erram os que queiram determinar, ainda que
aproximadamente, o tempo do fim, quer afastando-o, quer aproximando-o em termos
literais. Mas sobretudo erra aquele que o diz próximo em sentido literal,
porque, se o faz e o fim não se dá proximamente em termos literais, isso pode abalar
a fé de muitos.