Carlos Nougué
Um
teologuinho de algibeira e furibundamente antitradicional afirma que é mentira,
uma invenção dos tradicionalistas, a história de que o Papa Libério teria
excomungado Santo Atanásio -- e que portanto (haja pirueta lógica!) D. Lefebvre
foi, sim, justamente excomungado. A este teratológico pensador, deve
responder-se assim.
1) O caso de Libério e Atanásio não
é invenção tradicionalista. Refere-o o Cardeal Newman (feito já cardeal,
insista-se) e outros importantes historiadores católicos.
2) Mas há que conceder ao nosso
liliputiano (coisa que este é incapaz de fazer, por defeito de formação
lógico-dialética) que em muitíssimos casos históricos não se alcança a certeza.
É o que se dá com o episódio em questão, que é negado por outros historiadores.
3) Do mesmo modo, como o mostro no
livro Do Papa Herético, é historicamente controversa a condenação do
Papa Honório I pelo VI e VII Concílios Ecumênicos por heresia monotelita. Mas,
como o mostro no mesmo livro, independentemente de que Honório I tivesse sido
ou não monotelita, é incontroverso que o VIII Concílio Ecumênico o condenou por
herege, condenação aprovada pelo Papa Adriano II com estas palavras: “Lemos que
o Romano Pontífice sempre julgou as cabeças de todas as igrejas; mas não vemos
em parte alguma que quem quer que seja o tenha julgado a ele. No entanto, é
verdade que Honório, após sua morte, foi vergastado com o anátema pelos
orientais. É necessário todavia não esquecer que ele foi acusado de heresia e
que este é o único crime que torna legítima a resistência dos inferiores aos
superiores, bem como a rejeição de suas perniciosas doutrinas”.
4) Ora, como o mostro ainda no
citado livro, isso é o bastante para que aceitemos duas coisas: primeira, que
um papa pode incorrer em heresia (enquanto doutor privado); segunda, que nem
assim deixa de ser papa ipso facto, porque com efeito nenhum dos três referidos
concílios pôs que ele deixara de ser papa por herético.
5) Independentemente, pois, de que
Atanásio tenha sido excomungado por Libério ou não, o fato é que os papas podem
incorrer em heresia, como doutores privados, e que neste caso é lícito resistir
a eles (em Do Papa Herético arrolo multidão de citações do magistério e dos Doutores da
Igreja que afirmam tal direito de resistência).
6) Mas o chamado magistério
conciliar (ou seja, o do CVII e dos papas que o seguiram), por liberal (ou
seja, por não falar in persona Christi e sim in persona populi Dei),
reduz-se a magistério privado, razão por que pode, sim, incorrer em heresia.
7) Mais: de fato o fez e segue
fazendo, como o mostro ainda no mesmo livro. Ora, como o põe Adriano II,
devemos resistir ao papa que incorra em heresia. Logo, D. Lefebvre não foi
cismático e foi excomungado iniquamente.
Observação final: gostaria muito de
ver o referido teólogo de algibeira escrever um livro que tentasse refutar não
só meu Do Papa Herético, mas sobretudo A Candeia Debaixo do Alqueire,
do Pe. Álvaro Calderón. Mas para isso ele teria de deixar de ser
"teólogo" de Internet para dedicar-se a um sério estudo que começasse
pela Lógica e após anos e anos culminasse na Teologia Sagrada. Isso, todavia,
supõe disciplina e ascese...