Carlos Nougué
Diante da ofensiva do STF contra as “fake news”
(que existem, sim, na direita, embora o STF não diga que também existem na
esquerda), vemos multidão de católicos mornos e subservientes aos princípios
liberais clamar, com a direita, pela “liberdade de expressão para todos”, até
para os inimigos de Cristo e para o erro em geral. Mas, como disse o magistério
tradicional e autêntico da Igreja, o mal, o pecado, o erro não têm direito
algum, nem, portanto, o de expressar-se. A bandeira da “liberdade de expressão”
é uma bandeira liberal-revolucionária e não se ergueu senão para esmagar aquela
que era uma barreira contra o mal e o erro: a Igreja.
Objeção: Mas hoje, se os católicos não se unirem
aos liberais e aos conservadores pela liberdade de expressão em geral, eles mesmos terão
impedida sua liberdade de expressão.
Resposta: Só católicos tíbios, desses que Cristo
mesmo vomitará (como se lê no Apocalipse de São João), podem pensar assim. Não
importa o que nos aconteça: opressão, falta de liberdade, prisão, porque
devemos imitar a Cristo e aos mártires que O imitaram nos primeiros séculos do
cristianismo -- aceitavam docilmente o que lhes adviesse para não acender nem
sequer um incenso aos falsos deuses. E o que lhes adviesse em imitação de
Cristo assegurava-lhes a coroa da justiça na vida eterna.
Objeção: Mas a democracia liberal é menos má que
uma tirania.
Resposta: A democracia liberal, em si mesma já uma
tirania disfarçada, só por um tempo é menos má que a tirania aberta: logo ela
se transforma também em tirania franca, sobretudo, hoje em dia, nos moldes
marcusianos (como a que está instalando-se no Brasil sob o silêncio de Bolsonaro
[tudo para salvar o próprio pescoço e o de seus filhos], e como a que já se instalou
no Canadá, nos países nórdicos, na França, na Inglaterra, na Espanha, etc.). –
Naturalmente, não devemos gritar: Muito bem, STF, reprima mesmo as “fake news”
da direita!, porque isso seria aplaudir um inimigo ainda mais virulento. Mas de
modo algum podemos apoiar uma bandeira iníqua como a da “liberdade de expressão”.
Analogamente, os primeiros cristãos não haveriam de aplaudir o imperador romano
que por qualquer razão decidisse martirizar os membros das falsas religiões
orientais. Mas jamais incorreriam na heresia de erguer a bandeira da “liberdade
religiosa” para todas as religiões, ou seja, incluindo as falsas.
Para entender melhor tudo isso, leia-se a estupenda
encíclica Mirari vos
(1832), do Papa Gregório XVI.