quarta-feira, 1 de julho de 2020

O LIBERAL, O CATÓLICO E A MÁSCARA ANTICORONAVÍRUS


Carlos Nougué

O liberal aborrece a autoridade, porque para ele a autoridade limita a liberdade. O católico ama a autoridade, porque para ele a autoridade aperfeiçoa a liberdade – e isto em todos os campos, do científico ao político. Ademais, como diz S. Tomás na “Suma Teológica”, o católico só deve desobedecer à autoridade política quando esta lhe queira obrigar a fazer algo contra os principais artigos da lei natural; até quando se trate de algo que vá contra artigos menos centrais da lei natural (como, por exemplo, impostos escorchantes), deve o católico cumprir, se o pode fazer, o determinado pela autoridade política. O católico é dócil. Imita assim a Cristo.
Mas eis que um ultraliberal e anarcocapitalista, do site do Instituto Rothbard, acaba de lançar um artiguete intitulado “Pelo direito básico de respirar: a tirania (anticientífica) das máscaras tem que acabar”. Ao ler o artigo, veio-me à mente um menino batendo o pezinho, fazendo beicinho e gritando “não” ao papai, esse ditador... Mas a coisa é mais grave. O referido autor e seguidor de Rothbard, que foi eugenista e abortista, ou seja, darwinista social, consegue influenciar até católicos com a pretensa “cientificidade” de negar a eficácia “científica” das máscaras contra o novo coronavírus. O inepto articulista, contudo, não sabe sequer o que é ciência: deveria usar o termo “antiartístico”, porque, com efeito, se tal máscara é ou não é eficaz, esse é um problema de “artefato” (e “artefato” quer dizer “feito com arte”). E tal máscara é tão eficaz, que os médicos e os enfermeiros sempre a usaram em seu ofício. Mas aos birrentos meninos negacionistas da atual epidemia, liberais ou católicos liberais, sugiro-lhes: tenham a coragem de entrar sem máscara num hospital de campanha para tratamento de casos graves de covid-19. Se o fizerem, continuarão a ser estúpidos, mas ao menos terão o mérito da coerência.