Carlos Nougué
O liberal aborrece a autoridade, porque para ele a autoridade limita a
liberdade. O católico ama a autoridade, porque para ele a autoridade aperfeiçoa
a liberdade – e isto em todos os campos, do científico ao político. Ademais,
como diz S. Tomás na “Suma Teológica”, o católico só deve desobedecer à
autoridade política quando esta lhe queira obrigar a fazer algo contra os
principais artigos da lei natural; até quando se trate de algo que vá contra
artigos menos centrais da lei natural (como, por exemplo, impostos
escorchantes), deve o católico cumprir, se o pode fazer, o determinado pela
autoridade política. O católico é dócil. Imita assim a Cristo.
Mas eis que um ultraliberal e anarcocapitalista, do site do Instituto
Rothbard, acaba de lançar um artiguete intitulado “Pelo direito básico de
respirar: a tirania (anticientífica) das máscaras tem que acabar”. Ao ler o
artigo, veio-me à mente um menino batendo o pezinho, fazendo beicinho e
gritando “não” ao papai, esse ditador... Mas a coisa é mais grave. O referido
autor e seguidor de Rothbard, que foi eugenista e abortista, ou seja,
darwinista social, consegue influenciar até católicos com a pretensa
“cientificidade” de negar a eficácia “científica” das máscaras contra o novo coronavírus. O inepto articulista, contudo, não sabe sequer o que
é ciência: deveria usar o termo “antiartístico”, porque, com efeito, se tal
máscara é ou não é eficaz, esse é um problema de “artefato” (e “artefato” quer
dizer “feito com arte”). E tal máscara é tão eficaz, que os médicos e os
enfermeiros sempre a usaram em seu ofício. Mas aos birrentos meninos
negacionistas da atual epidemia, liberais ou católicos liberais, sugiro-lhes:
tenham a coragem de entrar sem máscara num hospital de campanha para tratamento
de casos graves de covid-19. Se o fizerem, continuarão a ser estúpidos, mas ao
menos terão o mérito da coerência.