Carlos Nougué
Já há cerca de 10 anos reneguei TUDO quanto havia escrito
anteriormente, quer para o blog Contra Impugnantes, quer em apresentações ou
prefácios de livros, etc. (mas não em livros meus, porque só de dez anos para
cá é que os publiquei). Isto se deve a que ainda não havia conhecido a obra do
Pe. Álvaro Calderón e, portanto, ainda não o havia tomado por mestre, o que só
se deu a partir de minha tradução de seu A Candeia Debaixo do Alqueire.
Conhecendo tal obra, de um tomismo verdadeiramente vivo, veraz e fiel, tive de
renegar meu passado tomismo por eclético e não raro heterodoxo, fruto de
autodidatismo, coisa que hoje não hesito em condenar. (É claro que tal passado
me permitia tomar o Pe. Calderón por mestre a partir tão somente do estudo de
sua extensa obra, sem contato pessoal nem online com ele. Mas em si mesmo esse
passado era condenável, repito-o, por eclético e não raro heterodoxo.) Pois
bem, dou um exemplo disto: o prefácio ou apresentação que fiz do livro de Jorge
Martínez Barrera A Política em Aristóteles e Santo Tomás, publicado pela
editora Sétimo Selo e que eu também traduzira. Em tal apresentação, bem como em
palestras que então dei no Rio de Janeiro, defendi entusiasticamente o livro.
Mas hoje sei perfeitamente que a obra padece de certo e grave liberalismo
(católico...) quanto às relações entre poder temporal e poder espiritual e
quanto à compreensão da Política aristotélica, que o autor também vê com tais
lentes liberais. Renego pois tudo quando escrevi e falei, há mais de dez anos,
sobre este livro. Mas por que insisto agora naquela renegação geral e nesta
renegação particular? Porque o Centro Dom Bosco relançou o livro com minha
antiga apresentação. Atenção: não estou criticando o CDB, que adquiriu
legitimamente da Sétimo Selo os direitos de publicar também este livro
(incluída minha apresentação). Um dirigente seu até me ofereceu que eu
revisasse a apresentação. Declinei a oferta por uma razão óbvia: não se
trataria de revisão, mas de crítica aberta ao livro. Sem imputar pois nada ao
CDB, sinto-me porém agora no dever de esclarecer publicamente minha atual
postura com respeito à obra e à minha mesma apresentação. E baste aqui o dito.
Nota 1: Jorge Martínez Barrera é homem boníssimo, com quem
desfrutei ótimos momentos durante sua estada no Rio de Janeiro para o
lançamento da referida obra. Mas amigos, amigos, verdades à parte.
Nota 2: quando digo que tive (e tenho) o Pe. Calderón por
mestre, não quero dizer que ele adira ao escrito em meus livros. Ele os possui,
mas creio que não lê em português. Não sei, pois, que opinião teria sobre eles
se os lesse. E eles são de minha inteira responsabilidade. É que sempre chega o
momento de o pupilo entrar a voar com as próprias asas.