“Diane Montagna: Quais
foram os principais argumentos contra o Arcebispo Lefebvre e os críticos do
Vaticano II?
Dom Schneider: Foi
dito: “Sua posição é tomada apenas de alguns Papas, de Gregório XVI, Pio IX,
Pio X, Pio XI, Pio II, enquanto nossa posição é de 2.000 anos. O senhor está
fixado em um período muito breve de pensamento do século XIX”. Esse foi
substancialmente o argumento da Santa Sé contra o Arcebispo Lefebvre e contra
aqueles que levantaram sérias questões legítimas sobre pontos duvidosos nos textos
do Concílio.
No entanto, isso não está
correto. Os pronunciamentos dos Papas perante o Concílio, mesmo os [Papas] dos
séculos XIX e XX, refletem fielmente seus predecessores e a constante tradição
da Igreja de maneira ininterrupta. Não se poderia reivindicar nenhuma ruptura
nos ensinamentos daqueles Papas (Gregório XVI etc.) em relação ao Magistério
anterior. Por exemplo, com relação ao tema da realeza social de Cristo e da
falsidade objetiva das religiões não cristãs, não é possível encontrar uma ruptura
perceptível entre os ensinamentos dos Papas Gregório XVI a Pio XII, por um
lado, e os ensinamentos do Papa Gregório Magno (século VI) e seus antecessores
e sucessores, por outro. Pode-se realmente ver uma linha contínua, sem qualquer
ruptura, desde os tempos dos Padres da Igreja até Pio XII, especialmente em
tópicos como o reinado social de Cristo, liberdade religiosa e ecumenismo.
Diane Montagna:
Alguns fortes defensores do Vaticano II dizem que o Concílio é um meio para a
Igreja voltar às raízes, ao modelo pré-Constantiniano.
Dom Schneider: É
precisamente nesse argumento que eles se revelam ou “desmascaram-se” e, graças
a Deus, eles dizem isso. Voltarei ao seu argumento, mas eu apenas gostaria de
acrescentar que geralmente os argumentos da Santa Sé contra o Arcebispo
Lefebvre eram de que os pontos disputados do Concílio estavam em total
continuidade com os ensinamentos anteriores da Igreja. Dessa maneira, os homens
que trabalham para a Santa Sé acusaram implicitamente Gregório XVI, Pio IX e
todos os Papas, até Pio XII, de serem, de alguma forma, um fenômeno exótico nos
dois mil anos de história da Igreja, uma ruptura com o tempo antes deles.
Diane Montagna: Uma
ruptura de 150 anos, um parêntese na história da Igreja...
Dom Schneider:
Eles não disseram isso explicitamente, mas de fato é assim. E o que eles dizem
agora, como a senhora mencionou, é que o parêntese encerra não apenas 150 anos,
mas o período do século IV (com Constantino) ao Vaticano II - um parêntese de
1700 anos! No entanto, esse pensamento claramente não é Católico. Esta é, em
substância, a posição teológica de Martinho Lutero. Seu argumento principal era
que, com Constantino, a Igreja se desviou do caminho da verdadeira doutrina do
Evangelho, um parêntese que durou até sua própria emersão no século XVI. Esse
argumento é a posição dos liberais hoje, e, especialmente, também do Caminho
Neocatecumenal. Tal posição teológica é, em última análise, protestante e
herética, porque a Fé Católica implica uma tradição ininterrupta, uma
continuidade ininterrupta, sem nenhuma ruptura doutrina e litúrgica
perceptíveis.”
Dom Athanasius Schneider e Diane
Montagna. Christus Vincit: o triunfo de Cristo sobre as trevas destes tempos,
1ª edição. São José dos Campos: Instituto Gratia, 2020, p. 143-145.