sábado, 25 de abril de 2020

ANTES COM A VERDADE DO QUE MAL ACOMPANHADO


Carlos Nougué

Há uma movimentação entre católicos (incluindo tradicionalistas, uma vergonha) para que o substituto de Moro seja um católico. Ah! de fato devemos estar no fim dos tempos... Como um católico vai compor um governo junto com maçons, liberais, gnósticos? Uma coisa é julgar que dado governo dessa estirpe seja um mal menor que outro. Outra coisa é participar dele – o que implica anuência, concordância programática. Um mal menor não deixa de ser um mal. Podemos votar nele, assim como se amputa uma mão gangrenada para salvar o corpo. Mas não podemos aderir à gangrena! Um governo que não se ponha sob a realeza de Cristo é um cadáver de governo, por efeito do mesmo pecado original. Pode até fazer algumas coisas boas – o que até agora, ademais, o governo Bolsonaro quase não fez: especializou-se em trapalhadas e arrogância –, e podemos nós apoiar tais coisas. Mas a autoridade ou se funda na verdade (como aliás o próprio étimo da palavra o indica) ou terá o que chamo jurisdição precária. E a verdade é Cristo mesmo, que disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, tanto, digo, para os indivíduos como para as sociedades. Como dizia o Cardeal Pie de Poitiers, “para os povos como para os indivíduos, para as sociedades modernas como para as sociedades antigas, para as repúblicas como para as monarquias, não há sob o céu outro nome dado aos homens em que eles possam ser salvos além do nome de Jesus Cristo”. Portanto, católicos, sejamos católicos e andemos de braço dado com a Verdade, ainda que sós.

Observação: e não me venham falar da ameaça de volta da esquerda. Se isto acontecer, terá sido culpa unicamente de uma direita dirigida por um aloprado (do qual falarei num próximo artigo). Ademais, creem mesmo que um ministro da Justiça católico vai salvar o governo Bolsonaro do naufrágio? Assim será: se tal católico se fizer ministro, afundará junto com esse governo inepto, que foi incapaz até agora até de lutar frontalmente contra a ideologia de gênero (talvez a bandeira principal da campanha de Bolsonaro). Deixemos de hipocrisia – ou de estupidez.


domingo, 5 de abril de 2020

JEJUM AOS DOMINGOS?


Carlos Nougué

1) Antes de tudo, sugiro-lhes, católicos, que não se deixem levar por discussões com respeito às quais não tenham certeza advinda do magistério da Igreja. Nesta Quaresma, há muito mais que fazer.
2) S. Agostinho punha-se contra o jejum aos domingos (e não só contra o jejum, mas contra orar de joelhos! coisa que todos hoje fazemos): “Jejuar em dia de domingo é grande escândalo”, escreve, em 396, a Casulano (Carta 36, 27).
3) Mas S. Tomás admitia o jejum aos domingos, como se lê em seu sermão sobre os Dez Mandamentos: nestes dias, diz ele, “secundo corpus nostrum affligere, et hoc ieiunando: Rom. XII, 1: obsecro vos per misericordiam Dei, ut exhibeatis membra vestra hostiam viventem Deo, sanctam”.
4) A divergência quanto a isto entre os dois maiores doutores da Igreja indica uma divisão mais vasta, entre os cristãos em geral, ao menos até o século XIII.
5) O Concílio de Braga, no século VI, decretara: “If anyone does not truly honor the birthday of Christ according to the flesh, but pretends that he honors (it), fasting on the very day and on the Lord’s Day, because, like Cerdon, Marcion, Manichaeus, and Priscillian, he does not believe that Christ was born in the nature of man, let him be anathema”. Ou seja, anátema seja ao que fizer jejum aos domingos com intenção não reta, ou seja, com a intenção dos hereges Marcião, Prisciliano, maniqueus, etc., descrita no texto. Mas não se proíbe o jejum aos domingos.
6) Por fim, o cânon 1252, parágrafo 4, do Código Canônico de 1917 (muito mais rigoroso que o do pós-CVII) reza: “Cessa a lei da abstinência, ou da abstinência e do jejum, ou do jejum só, nos domingos ou festas de preceito, excetuadas as festas que caiam na Quaresma [...]; cessa também a dita lei no Sábado Santo depois do meio-dia”. Ou seja, cessa nesses dias a lei que OBRIGA o jejum e/ou a abstinência, mas NÃO SE PROÍBEM estes.
7) Em outras palavras, não é pecado jejuar nos domingos em geral, com o que se reduz a disputa sobre a matéria a uma questão de conveniência segundo costumes locais ou pendores individuais.
8) Mas pergunto: quem é Bolsonaro para dirigir-me religiosamente em qualquer ato? Pecador público até agora impenitente (que mude!), nem de longe tem autoridade religiosa sobre mim nem sobre nenhum católico. Os “católicos” que dizem que ele a tem são da seita direitista bolsonaro-olavética (ela mesma herética). Ademais, tenho certeza de que nossos sacrifícios, jejuns e abstinências durante toda esta tão especial Quaresma, marcada pela pandemia, já são de nossa parte oferecimento bastante a Deus pelos pecados públicos que O levaram a infligir-nos este duro flagelo.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

SANTO TOMÁS DE AQUINO: "MEU DEUS, NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM" -- ORAÇÃO


[Tradução: Gederson Falcometa]

Meu Deus, não te esqueças de mim,
quando eu me esqueço de ti.
Não me abandones, Senhor,
quando eu te abandono.
Não te distancies de mim,
quando eu me distancio de ti.
Chama-me se fujo de ti,
seduz-me se te resisto,
levanta-me se caio.
Dá-me, Senhor, Deus meu,
um coração vigilante
que nenhum vão pensamento leve para longe de ti,
um coração reto
que nenhuma intenção perversa possa desviar,
um coração firme
que resista com coragem a toda adversidade,
um coração livre
que nenhuma paixão torpe possa vencer.
Concede-me, peço-te, uma vontade que te busque,
uma sabedoria que te encontre,
uma vida que te agrade,
uma perseverança que te espere com confiança,
e uma confiança que ao fim chegue a possuir-te.
[Amém.]