Carlos Nougué
Nota prévia 1. Peço-lhes desde já
imenso perdão pela extensão e pela aridez das linhas que se seguirão. Como
porém todo o caso que culmina na decisão minha que se lê no título deste texto
envolve muita desinformação, duplicidade e inverdade, e como nos últimos três
anos minha atividade católica pública esteve muito identificada com o CDB e com
a LCR, vejo-me obrigado a escrevê-las assim. Mas tentarei que seja minha última
palavra sobre o assunto. Quero virar esta página definitivamente, e só voltarei
ao tema se se disserem falsidades graves acerca de mim. Não se pense que me
tenho em alta conta; meu ofício não é ter razão, e sou um pecador como outro qualquer.
Mas tenho coisas que defender: um magistério tomista, uma produção livresca
filosófica, e antes de tudo uma família, onde meu filho de 15 anos jamais verá
seu pai encolher-se como uma donzela diante de nenhuma cara feia – nem, muito
menos, de hereges.
Nota prévia 2. O que relatarei
aqui tem muita semelhança com algo que vivi entre 2009 e 2011. Não vou tocar este
caso neste texto, e não o farei nunca se deixarem de aguilhoar-me com
indiretas. Se todavia continuarem a fazê-lo, ver-se-á perfilar por minhas
palavras uma figura horrenda, mesclada de inveja, de traição e de covardia.
1) Converti-me aos 49 anos (tenho
hoje 68) após uma vida de ateísmo e de revolução; e converti-me já em ambiente
tradicionalista. A partir de certa altura, ademais, passei a fazer parte do
movimento tradicionalista conhecido por Resistência.
2) Há cerca de três anos e meio, no
entanto (e perdoem-me qualquer imprecisão cronológica), conheci o CDB e afastei-me da Resistência (sem animosidade, creio) porque ela não via nos rapazes do
CDB o que eu julgava ver: no bojo da crise deflagrada na Igreja pelo
pontificado de Francisco, a evolução desses rapazes para a doutrina da realeza
de Cristo e para um conhecimento cada vez maior das raízes dessa mesma crise.
De início, é verdade, deparei com um clima muito influído pelo olavismo, além,
é claro, de uma mistura indigesta de correntes católicas não raro antagônicas.
Mas como não ter esperanças, se, semanas depois de uma queda de braços com um
jovem astrólogo (por sinal, um jovem de ouro), veio agradecer-me ele: tinha até
confessado a um padre o pecado da astrologia? Como não tê-la, se se formava a
Liga Cristo Rei, se se começava a defender aí o estado católico, se me deixavam
campo aberto para tratar a crise da Igreja, se progressivamente mais e mais
jovens aderiam ao rito tridentino, etc.? Nunca, em nenhum momento, nem nas
aulas no CDB nem nas palestras dos fóruns da LCR, eu deixei jamais de expor a
mesma doutrina que sempre expus desde minha conversão. – Além disso,
afeiçoei-me a alguns rapazes como a filhos, além de que, já gravemente doente
há três anos e meio, sempre recebi generosa e caridosa ajuda deles e do CDB em
geral (por exemplo, o CDB arcou com todas as despesas do funeral de minha irmã,
após o qual eu teria a primeira de cinco internações no ano passado). A gratidão
que lhes tenho irá comigo após a morte como vincos na alma.
3) Mas eis que há uns dois anos
minha esperança cambaleou pela primeira vez. Um dos principais dirigentes do
CDB me escreveu um dia: “Professor, acho que devemos parar de falar um pouco do
estado cristão. O Olavo vai reagir, etc., etc.” Eu, na hora, meio atordoado,
disse que sim. Mas exatamente na manhã seguinte lhe escrevi: “Se quiserem vocês
parar de falar do estado cristão, façam-no. Eu continuarei a fazê-lo, e que me
ataque Olavo”. – Foi por então que percebi a grande influência que Antônio
Donato, o responsável pelo grupo Anistia (que coordena, ao que parece, a
resistência nacional ao aborto, etc.), exercia sobre alguns dos principais
membros do CDB. Ora, já escrevi no FB que por seu livro A Educação segundo a
Filosofia Perene não se pode ver em Donato um gnóstico ou perenialista; mas
deve ver-se, sim, um modernista conservador, o que se pode provar sobretudo
pelo capítulo de seu livro atinente à política: puro Jacques Maritain, o corruptor
do tomismo no século XX. Como quer que seja, contudo, é inegável que do Anistia
fazem parte muitos e não desprezíveis olavetes, e que a postura geral do
Anistia com respeito a Olavo de Carvalho e sua seita é pelo menos de cordialidade.
As coisas começavam a juntar-se em minha mente, e não faltava confirmação por
parte de algumas pessoas. Como porém algum tempo depois o CDB voltou a falar em
estado cristão, minha beata e beócia ingenuidade fez-me cegar outra vez.
4) Mergulhei mais e mais no CDB e
na LCR, que passaram a ser o centro de minha vida católica pública. Sucede no
entanto que no primeiro semestre do ano passado me chegou ao conhecimento que o
ministro Ernesto Araújo, gnóstico perenialista assumido, palestraria no III
Fórum da LCR. Opus-me (com outros), mas a resposta da parte do CDB era sempre a
mesma: Nossos mestres (Antônio Donato, Leonardo Penitente, Dom Justino...), além
de personalidades como o Dr. Ricardo Dip e Miguel Ayuso, não veem óbice nenhum na
participação do ministro. Disse então ao CDB que não palestraria eu no Fórum. Após
porém muitos e-mails, telefonemas e reuniões, acabei por ceder, até porque se
me fez a promessa de que eu poderia palestrar imediatamente após o ministro e
dizer, pois, o que eu quisesse acerca do perenialismo, etc. Quis a fortuna que
o ministro não pudesse comparecer ao encontro.
5) No III Fórum da Liga Cristo Rei,
minha ingenuidade beata e beócia cegou-me ainda mais. Realmente, afigurava-se-me
que a Liga como um todo progredia firmemente para posições católicas
tradicionais e consequentes. Lembre-se, aliás, que pouco antes do Fórum pude
gravar para o CDB a primeira aula da série “Raízes da Crise na Santa Igreja”,
na qual resumi a doutrina de meu livro Do Papa Herético (cf. https://www.youtube.com/watch?v=M1fGx3uJhfw&t=202s).
– Quanto a OdC, desde 2011, depois de desafiá-lo a um debate para desagravar a
honra de um amigo (desafio de que ele correu em meio a mentiras e xingamentos),
eu houvera por bem criticar sempre suas heresias gnóstico-modernistas sem todavia
citá-lo nominalmente (estando sempre preparado, no entanto, para o confronto
público se ele me atacasse nominalmente), e acreditei ver no CDB a
mesma política. Eis no entanto que há poucos meses descobri, tristemente, que
não era esta a política do CDB, mas a de não entrar nunca em confronto com OdC.
Em verdade, descobri que eu não era mais que uma fachada tradicionalista para o
CDB e a LCR, capaz de atrair muita gente, desde porém que não se tocasse o
ninho de vespas das relações cordiais entre CDB-LCR, Anistia e OdC.
6) Para que se veja a justeza do
que digo, sou forçado a dar a cronologia dos eventos que me fizeram cair enfim
as escamas dos olhos.
a) Há uns meses, o Padre Sérgio
Muniz e dois importantes dirigentes do CDB começaram a criticar Italo Marsili
pelo tratamento prostibular que aplicara a um suposto paciente seu pedófilo. Nunca
entendi muito bem por que os três passaram a criticá-lo publicamente e tão
duramente, porque, pensava, OdC muito provavelmente reagirá em defesa de
Italo. Continuo sem entendê-lo.
b) A reação do sofista psiquiátrico
foi dura, bem ao estilo da seita olavética, e vi os três que haviam começado a
criticá-lo esmorecer. Era uma humilhação. Entrei na briga com Italo para defender
os três e o CDB. Travou-se então este diálogo escrito entre um desses dois dirigentes
do CDB e mim:
Eu: “Mas exatamente por isto é que tomei a frente
da coisa: para aliviar o CDB. Fique tranquilo. Sou casca-grossa, velho
comuna... Um abraço grato e saudoso”.
Ele: “kkkk. o sr estará em
nossa história, mestre”.
Pouco depois, o outro
dirigente do CDB escreveu num comentário de meu perfil do FB: “O senhor está
nos mostrando o que é a verdadeira testosterona (a católica)”.
c) Mas eis que uns
seguidores de Italo e de OdC começaram a detratar-me, pasmem! pelo fato de eu
ter cuidado durante um ano de uma cadela de OdC!... (Eu fora editor de OdC durante dois anos antes de minha conversão.) Não me fiz rogar: escrevi
um post no FB chamando-os “um imbecil coletivo”. – Hoje, os dirigentes do CDB
dizem que com este post fui eu quem começou a briga com OdC; que o provoquei eu.
Certamente quereriam que eu pusesse o rabo entre as pernas como eles têm feito
diante de fundas humilhações públicas que OdC, Italo Marsili, Silvio Grimaldo, Mauro Ventura et
caterva lhes vêm infligindo (não as mostro aqui; mas, se o negarem, fá-lo-ei
em outra publicação). Ademais, ainda que tenha sido esta a razão do que se verá
a seguir, que erro ou pecado há em criticar um herege e gnóstico? Ou talvez o haja,
segundo as cordiais relações entre CDB-LCR, Anistia e OdC...
d) Como era de
esperar, OdC passou a atacar-me – e eu a reagir. Não me é preciso recapitular
os muitos passos desta contenda. Mas devo mostrar, ainda, os dois últimos diálogos
entre mim e o mesmo dirigente do CDB que dissera que eu entraria para a
história deste. O primeiro:
Ele: “Mestre. Avalia
se é necessário estender essa briga [com OdC]. Pense mais um pouco”.
Eu: “É guerra, meu amigo, sem passo atrás. Não sou cão
para pôr o rabo entre as pernas. Ele é que começou. Agora vou com tudo. E quem
quiser apoiar-me que o faça. Quem não quiser que não o faça. Já me acostumei
com os XXXs da vida. Acho que vou mostrar a meu filho um ato de covardia? Quer
que ele veja seu pai enxovalhado sem reagir? Por favor, XXX. Repense-o você”.
[Note-se que eu não disse que o CDB e a Liga não
precisavam apoiar-me, como querem seus dirigentes vender agora ao público. Acho
que aprenderam bem de OdC o uso da estimulação contraditória.]
Ele: “Está bem. Desculpa”.
O segundo diálogo
deu-se depois de o mesmo dirigente do CDB, justamente um dos que começara a guerra
com Italo, ter dito que a guerra que então se travava era um show de
vaidades. Perguntei-lhe:
“Você me inclui no show de vaidades?”
Respondeu-me:
“Eu não acompanhei
seus posts. [...] Eu caí diversas vezes em vaidade. Não quero pagar esse preço
no tribunal divino”.
Quem sabe um dia Deus
me dará a graça de entender isto? Enquanto isso, porém, prossigamos.
e) Depois, passei a
sofrer ataques de dupla frente: OdC e seus sequazes, por um lado, e CDB-LCR,
por outro. Para a maioria dos dirigentes destes, o que eu estava fazendo, ao
enfrentar o herege OdC, era imprudente! “Primeiro precisamos ser fortes para
depois enfrentá-lo”, diziam e dizem; é como se os primeiros cristãos dissessem:
“Primeiro precisamos ser fortes para depois enfrentar os judeus”. Creio que
Santo Estêvão não o aprovaria. Mas o pior ainda estava por vir: alguns
dirigentes do CDB-LCR passaram a dizer que não estavam preparados ainda para o
confronto, e que seria preciso primeiro estudar bem o perenialismo para enfim
lançar-se a criticar OdC. Haja sofisma, ou melhor, haja covardia travestida de
sofisma! Se alguém, como OdC, diz – como de fato o faz –
que a religião é um “conto de fadas”, de que precisa mais um católico para
afastar-se dele? Se esse mesmo OdC diz – como de fato o faz – que Cristo não
veio trazer-nos nenhuma doutrina (nem moral!), de que precisa mais um católico
para denunciá-lo? Nem de meditação, nem de estudo, nem de conselho. Mas parece
que pelas veias de muitos líderes católicos atuais corre sangue de barata.
f) Estou para terminar este texto, tão aborrecido para mim como
certamente para todos. Mas antes preciso ainda tecer algumas considerações.
a) Não vou parar a luta contra OdC e sua seita gnóstica
disfarçada de católica. Mas o vou fazer sobretudo em livros, etc. Quero vê-los
refutar-me. Vou sair do terreno deles, ou seja, o das futricas de FB, e forçá-los
a lutar em terreno onde são de todo ineptos: o da fé, o da doutrina, o da
verdadeira filosofia. Chutar comunista morto é fácil. Venham arrostar-me a mim.
b) Rompo formalmente
toda e qualquer relação, incluindo a editorial, com o CDB-LCR. Isto me afetará
financeiramente; perco público comprador de livros. Mas não vou agir como eles,
que, como me disse alguém indignado, agem assim “porque não querem perder os
contatos” – o grand monde do
conservadorismo donatista-olavético. – Como porém não sou sectário,
sempre que o CDB e a LCR fizerem algo de efetivamente bom pelo catolicismo, ou
lançarem um livro de real importância, divulgá-lo-ei sem nenhuma hesitação.
c) Por fim, acusei-me
mais acima duas vezes de “ingenuidade beata e beócia”. Mas devo ser tão duro
comigo? Em parte sim, mas em parte não: porque a Liga Cristo Rei não é composta
somente de timoratos. É com um coração vibrante que vejo quatro centros da LCR
enfrentar virilmente, com toda a hombridade, não só a seita nefasta de OdC, mas
os restantes centros da mesma Liga. São eles: o Centro São Pedro de Verona (Maceió),
o Instituto Leão Magno (São Paulo), o Instituto Jackson de Figueiredo (Aracaju)
e o Centro Cultural Ávila (Belém). Que prossigam, ainda que minoritariamente.
d) Mas não os lidero,
nem os vou liderar, apesar das falsas acusações de que são dirigidos por mim (é
que quem só sabe viver sob o tacão de um guru não consegue imaginar outra coisa).
Meu ato de rompimento é solitário. Já vai longe o tempo de minha estada nesta
terra. Peço a Deus que me deixe completar a educação de meu filho, a gravação
das 250 aulas da Escola Tomista, e os muitos livros que estou escrevendo
(alguns com atraso por causa de meu péssimo estado de saúde, pelo que, aliás,
peço outra vez desculpas). Mas o fato é que vivo hoje numa bolha; já nem posso
sair de casa; e não é difícil de imaginar que me encontro em constante preparação para
a morte. Não posso pois dar-me agora ao luxo de fazer o que nunca quis:
liderar nada. Os referidos quatro centros têm todo o meu apoio; mas deles não
espero senão que continuem viris.
Que tudo seja para
maior glória de Deus – e viva Cristo Rei!
P.S.: Não poderia deixar de agradecer aqui, penhoradamente, o apoio que sempre me prestou a Sociedade da Santíssima Virgem Maria, de Montes Claros (MG); e, para fazê-lo, nada melhor que repetir uma vez mais seu brado: Maria sempre!
P.S.: Não poderia deixar de agradecer aqui, penhoradamente, o apoio que sempre me prestou a Sociedade da Santíssima Virgem Maria, de Montes Claros (MG); e, para fazê-lo, nada melhor que repetir uma vez mais seu brado: Maria sempre!