Carlos Nougué
Nota prévia: tentarei ser o mais sucinto
possível aqui; mas é impossível tratar este grave assunto em poucas palavras.
O “psicólogo” comunista Ivan Pavlov (1849-1936) mostrou, com acerto,
que a estimulação contraditória é o modo mais rápido e eficaz de romper as
defesas psicológicas de uma pessoa ou de uma porção de pessoas, reduzindo-as a
um estado de credulidade beata em que aceitarão como naturais as ordens mais
absurdas e como verdadeiras as opiniões mais contraditórias. E isto sempre
foi atribuído pela direita, com acerto também, à esquerda. Mas eis que os
direitistas ou conservadores que defendem a falácia do prostíbulo também se têm
mostrado habilíssimos nessa “arte”.
1) Antes de tudo, os que operam a
estimulação contraditória devem ser previamente respeitados por tais pessoas
reduzidas a uma credulidade beata. Como chegam a ter tal respeito, aí está o
que varia segundo o caso. O que importa é que, contando com tal respeito não
raro intelectual, esses operadores podem anular a capacidade crítica de seus
seguidores dizendo-lhes constantemente as “verdades” mais contraditórias entre
si, com o que, insista-se, esses seguidores são capazes até de “atirar-se num
abismo” por mandato de seus operadores. Ou seja, são tão incapazes de discernir
as contradições em que creem quanto são capazes de servir a seus operadores como
soldados disciplinados e denodados. Vejamos como isto se vem dando no caso
concreto da falácia do prostíbulo.
2) Antes de tudo, descreva-se a falácia do prostíbulo. Com efeito, dizem por aí que estimular um pedófilo a
ir a um prostíbulo é análogo à pena de morte: um mal menor. Sofisma dos mais
grosseiros. Um juiz que condena um criminoso à morte não induz ninguém a pecar;
enquanto alguém – incluindo qualquer psicoterapeuta ou psiquiatra ou psicólogo –
que estimula outro a ir ao prostíbulo o induz a pecar (e mortalmente, ainda que
sob a justificativa de que assim se pode curar o enfermo de sua pedofilia).
Logo, o juiz tampouco peca; enquanto o estimulador do pedófilo também peca
mortalmente.
3) Posto
isso, e que, como é evidente, um vício não pode
ser curado com outro vício, mas tão somente com a virtude oposta, os defensores
de tal falácia mudam de discurso e tática e dizem: Não se trata de curar
a pedofilia com a fornicação num prostíbulo. É apenas o uso provisório de um
mal menor. Haja ridiculez! Se assim é, se se trata de alguém com tara de matar
crianças (isso existe), e como a morte de velhos com os dias contados seria um
mal menor que a morte de crianças, que então provisoriamente o tarado use de matar velhos em estado terminal que
queiram morrer. Depois se prosseguirá com o tratamento.
4) Exposta
pois a ridiculez de tal “argumento”, emitem-se outros muitos, todos igualmente
ridículos e contraditórios entre si, mas brandidos como “verdades” de
circunstância. Deem-se alguns exemplos.
a) Se
alguém lhes contra-argumenta que o ideal em casos assim seria, por exemplo, a
castração química, retrucam: Mas o pedófilo em questão nunca praticou nenhum ato
pedófilo; trata-se apenas de uma tendência. Mas, se nunca praticou nenhum ato pedófilo,
por que mandá-lo então a um prostíbulo?
b) Não é
isso, dizem, mudando rapidamente como camaleões. É que o enfermo sofre tanto
com essa tendência que é capaz até de matar-se. Ah! que “caritativo”, digo-lhes
eu. Impedem assim o suicídio do enfermo e expõem a prostituta a qualquer sanha
de um perturbado, tomado de cólera, por exemplo, por sua impotência para
concretizar o ato sexual. Mas quem sabe para esses conservadores defensores da
falácia do prostíbulo uma prostituta não valha mais que um velho em estado
terminal que pede para morrer?...
c) Não
desistem, porém, os nossos falaciosos, e alcançando os píncaros da sofística dizem:
É que o psiquiatra tal, embora seja católico, não pode atuar ali como católico,
mas como psiquiatra! Dizem-nos isso e dão a volta olímpica por sua vitória com
argumento tão imbatível... Só se esquecem todavia das palavras de S. Tomás de
Aquino (a quem esses sofistas têm até a ousadia de invocar como suporte para sua
grosseira falácia): é necessário para a salvação de cada
católico professar as verdades de fé na devida hora e lugar, o que não se dá se
por omissão da declaração de sua crença o católico deixa de prestar a honra
devida a Deus ou deixa de concorrer para a utilidade espiritual do próximo; ou
se, ao ser interrogado sobre sua fé, ele se cala, podendo resultar desse silêncio,
para o próximo, ou a conclusão de que a fé não é verdadeira, ou a perda dela,
ou a desistência de abraçá-la. Como seja, o fato é que não nos basta a adesão
interior à verdade divina; é-nos de preceito confessá-la exteriormente pelo
menos nas condições indicadas por Santo Tomás. E são de Nosso Senhor mesmo
estas inequívocas palavras: “Todo aquele que não me tiver confessado diante dos
homens, o Filho do homem tampouco o confessará diante dos anjos de Deus. E
aquele que me tiver negado diante dos homens, esse será negado diante dos anjos
de Deus” (Luc. 12, 8-9) (cf. Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II,
q. 3, a. 2).
d) E pensam vocês que os nossos sofistas
se deram agora por vencidos? Ledo engano. São titânicos em seu erro, há que reconhecê-lo.
Agora têm a audácia de dizer-nos: Que poderia fazer neste caso o pobre psiquiatra,
se o enfermo nem católico é? Então por isso, digo-lhes eu, por não católico,
entregue-se o tarado ao pecado e ao inferno junto com a prostituta! Imagine-se
se o enfermo mata a prostituta, busca alguma criança para enfim cometer seu
primeiro ato de pedofilia, e depois se mata: tudo o que é muito provável dada a
história mesma que nos contam esses sofistas. O resultado? O enfermo e a prostituta
herdarão o fogo eterno da geena! Mas quem sabe a nossa multidão de falaciosos
psiquiátricos não consideram que, afinal, esse doente não valha mais que uma
prostituta e que um velho em estado terminal que pede para morrer?...
e) Cansados? Eu também. Mas é preciso
continuar a ouvir os nossos sofistas e seu exército de defensores. Que têm para
dizer-nos ainda? Que os que criticam o psiquiatra que mandou um pedófilo a um
prostíbulo devem pôr-se no lugar desse pobre profissional, que teve de decidir
rapidamente diante de uma pressão incalculável de fatos graves que se
precipitavam. Coitado. E digo-lhes eu: Concedo. Todos somos capazes de errar em
situações assim. Mas então por que argumentaram tudo o que precede? Por que não
admitir um erro em vez de tentar justificá-lo das mais variadas e toscas maneiras?
Mais ainda: por que vangloriar-se dele e dar-lhe ampla publicidade como se se
tratasse de um grande feito?
5) Poder-se-iam (uma mesóclise! que horror!),
poder-se-iam multiplicar suas variações em torno da mesma falsidade. Mas basta,
porque o que importa agora é insistir no fato de que multidão de crentes
devotos e afetados de dessiso serve a seus estimuladores como um exército
disciplinado, entrando em perfis alheios, ofendendo com palavrões e sarcasmos
ferinos os que põem a nu a falácia de seus inspiradores, maculando reputações com
inverdades – tal e qual fazem os mesmos sofistas seus diretores de inconsciência.
Qualquer semelhança com o modo de operar
da esquerda, tenha-se certeza, não é mera coincidência.
6) Muitos e muitos dos que me leem este
texto são capazes de testemunhar que sofreram na própria carne tais ataques,
quer dos superiores, quer de seus soldados. Quanto a mim, já decretaram: sou o
guru do Centro Dom Bosco, ajo como se fosse um papa ou um inquisidor-geral (que
defende o Index, vejam só! e não é que a esquerda tem razão?) ou um chefe de cruzada
moralista (e não é que a esquerda tem razão novamente?). Já respondi mais que
suficientemente a tais ataques sórdidos (cf. https://www.estudostomistas.com.br/2020/01/se-sou-o-guru-do-centro-dom-bosco.html
e https://www.estudostomistas.com.br/2020/02/respostas-detracoes.html)
e até já dei uma brevíssima biografia minha (cf. https://www.estudostomistas.com.br/2019/08/quem-sou-eu-uma-brevissima.html), mas espero muitos outros ainda mais graves e sujos. É que, com efeito, nada detém
o exército sofístico.
7) Pois bem, querem guerra? Tê-la-ão (ah!
essas malditas mesóclises). Parafraseando a Karl Marx (se os conservadores falaciosos
têm tanta afinidade com a esquerda em seu modo de operar, por que não posso eu
beber uma vezinha na principal fonte desta?), posso dizer que não tenho nada
mais a perder que os grilhões desta vida com sua carne corruptível e suas
lágrimas. E... não, não, não! Já ia eu cometendo uma dupla injustiça. Esquecia-me
culposamente de dizer se os operadores sofísticos creem de fato ou não no
que eles mesmos dizem e de expor seu último, seu derradeiro argumento. A
resposta à primeira questão – em que afinal eles creem verdadeiramente? –
deixo-a para outra oportunidade. Mas, para cumprir com um estrito dever de
justiça, dou aqui com toda a fidelidade seu derradeiro argumento: