domingo, 16 de julho de 2017

Convite de Carlos Nougué ao Sr. Sottomaior, presidente da ATEA (Associação de Ateus e Agnósticos)


Convite de Carlos Nougué ao Sr. Sottomaior, presidente da
ATEA (Associação de Ateus e Agnósticos)

Carlos Nougué

Sr. Sottomaior, o senhor e sua associação são useiros e vezeiros em ultrajes à Religião e suas crenças mais venerandas, a ponto de forjarem imagens falsas para denegrir o Padre Paulo Ricardo. Indignado, fiquei eu cá a meditar que resposta lhe poderia dar, eu, que, professor católico, tenho responsabilidade moral diante de verdadeira multidão de alunos que professam minha mesma fé ou ao menos a respeitam.
Antes porém de referir-lhe o convite que decidi fazer-lhe, digo-lhe que de certo modo o entendo perfeitamente: é que só me converti à Religião há cerca de 20 anos. Até então estivera entre o ateísmo e o agnosticismo. É verdade que nunca fui capaz das ignomínias que o senhor empreende contra a fé. Mas isso são acidentes: essencialmente, eu fui igual ao senhor até aos 48 anos. Mais ainda, Sr. Sottomaior, como todo cristão, não me glorio de mim mesmo. Todo cristão é como São Francisco de Assis, que, ao ver passar dois condenados numa carroça em direção ao cadafalso, chorou e chorou, para ao fim dizer: “Se não fossem as graças que recebi de Deus, eu seria pior que aqueles”. E isto, na boca de um cristão, não é recurso retórico, Sr. Sottomaior, mas a mais inabalável certeza. Em suma, se me converti, não o devo a mim mesmo.
Mas, se o senhor pode cometer as ignomínias que comete contra a religião e suas crenças mais venerandas, é porque, em última instância, não considera que Deus exista. Pois bem, convido-o a um debate público cujo tema seja, justamente, “Se Deus existe”. Naturalmente, eu não seria tonto – sou um aristotélico-tomista, ou seja, um realista estrito – para convidá-lo a debater a Religião: como aprendi de Tomás de Aquino, ninguém deve discutir com ninguém sem um ponto que seja comum a ambos. Mas é de supor que ambos, o senhor e eu, sejamos dotados de razão (bem ou mal usada, o que é outro assunto). Daí meu convite: proponho-me no debate a demonstrar que Deus existe, e convido-o a tentar fazer o contrário, demonstrar que Deus não existe. Se o senhor o fizer, se demonstrar que Deus não existe, ficará mostrado que os cristãos somos os mais miseráveis dos homens. Mas, se se der o contrário, ou seja, se eu demonstrar que Deus existe, ficará mostrado que os ateus – ou seja, ao menos os que não se dão sequer o direito da dúvida quanto à existência de Deus – são os mais miseráveis dos homens. Mas repita-se: demonstrar, não proferir slogans nem nada parecido. E tenha certeza, Sr. Sottomaior, que, conseguindo-o eu, rezarei ainda mais pelo senhor, para que receba de Deus a graça imensa que este pecador que lhe escreve recebeu um dia.
Quanto à modalidade do debate, fique por combinar entre nós. Fornecerei toda a infraestrutura, viajarei aonde for preciso, e só não se permitirão claques nem baderna.
Fico pois à espera de sua resposta, que retransmitirei publicamente tal qual seja.