Carlos Nougué
I
Como digo em
vários lugares, meus esforços filosóficos e
docentes voltam-se 1) para o estabelecimento do devido ordo
sustentationis e pois da devida ordem pedagógica das disciplinas
(refiro-me às ciências alcançáveis pela razão e às artes liberais) e 2) para o
aprofundamento destas sempre que necessário. Sem dúvida, também me volto para a
Teologia Sagrada (que ocupa mais da metade das 400 páginas de meu livro Do Papa Herético e outros opúsculos), a
ciência cujas conclusões não podem ser contraditas por nenhuma outra ciência
nem por nenhuma arte, justo porque 1) a Teologia Sagrada é não só especulativa
mas prática (conquanto seja antes especulativa que prática), 2) tem por sujeito
a Deus enquanto Deus ou sob a razão de Deus e
3) parte de princípios revelados por Deus mesmo – tudo o que lhe dá segurança e
certeza máximas. Mas o fato é que Santo Tomás de Aquino, se nos legou uma
doutrina teológica sagrada perfeitamente sistematizada, não nos legou, todavia,
uma doutrina filosófica sistematizada, ainda que nos tenha deixado todas as
premissas para que a empreendêssemos nós.
O
sacerdote argentino Álvaro Calderón – o contemporâneo nosso que, contra a
incompreensível incredulidade de alguns, é um dos maiores mestres
auxiliares de Santo Tomás – foi o grande iniciador de tal sistematização
filosófica, e dá-lhe magnífico prosseguimento com os oito tomos físicos
de La naturaleza y sus causas (dois dos quais já publicados).
Busco participar eu também desta sistematização, o que se pode ver pelos frutos
de minha atividade:
a) Seis livros já escritos:
• Suma
Gramatical da Língua Portuguesa (São Paulo, É Realizações, 3.ª ed.,
2017, 608 pp.);
• Estudos
Tomistas (Formosa, Edições Santo Tomás, 2016, 192 pp.);
• Do
Papa Herético e outros opúsculos (Formosa, Edições Santo Tomás, 2017,
406 pp.);
• Da
Necessidade da Física Geral Aristotélico-tomista, estudo introdutório de
cerca de 120 pp. à minha tradução do Comentário de S.
Tomás à Física de Aristóteles (São Paulo, É Realizações, cerca
de 700 pp., por publicar ainda em 2017);
• Do
Verbo Cordial ao Verbo Vocal (São Paulo, É Realizações, cerca de 700
pp., por publicar ainda em 2017);
• Das
Artes do Belo (Formosa/São Luís, Edições Santo Tomás/Resistência
Cultural, cerca de 700 pp., por publicar em meados de 2018);
b) Cinco cursos online pagos e um gratuito:
• Para Bem
Escrever na Língua Portuguesa (64 horas, 32 aulas, com apostilas, exercícios e
respostas a perguntas);
• Por uma
Filosofia Tomista (60 horas, 30 aulas, com respostas a perguntas);
• A
Existência de Deus e a Criação do Mundo segundo S. Tomás de Aquino (24 horas,
12 aulas, com respostas a perguntas);
• O Melhor
Regime Político segundo S. Tomás de Aquino (24 horas, 12 aulas, com respostas a
perguntas);
• História
da Música Erudita Ocidental (24 horas, 12 aulas, com respostas a perguntas,
ainda em gravação das últimas aulas);
• A Ordem
das Disciplinas segundo S. Tomás de Aquino (12 aulas, gratuito).
c) Tradução de várias obras de Cícero, de Santo Agostinho, de São
Bernardo de Claraval, de Santo Tomás de Aquino.
Pois bem,
é para dar continuidade, em patamar superior, a tal sistematização, e para
contribuir para a formação de uma sólida corrente tomista, que empreenderei uma
Escola Tomista online, composta de duas partes. Na primeira,
ministrar-se-á a maior parte das ciências alcançáveis pela razão e as artes
liberais, ou melhor, sua parte principal. Na segunda, a Teologia Sagrada
segundo a Suma Teológica e outras obras de Santo Tomás de Aquino.
Naturalmente, não pode deixar de ser algo de longa duração: cinco
anos. Mas não é senão formando pessoas nestas disciplinas de modo
profundo e exaustivo e segundo a devida ordem que se poderá ter no Brasil uma
elite intelectual em toda a extensão do termo, porque, com efeito, só será tal
se for aristotélico-tomista. E só depois de formada tal elite é que será
possível formar adequadamente adolescentes e jovens em escolas e em
universidades efetivamente católicas ou numa educação doméstica de fato
profícua.
II
Eis o
programa dos dois cursos da Escola Tomista.
Parte 1
1. Introdução filosófica
às diversas ciências e às diversas artes: as primeiras noções.
Observação. Mostrar-se-á, antes de tudo, o que são as ciências e as artes, e
de que modo as artes podem dizer-se ciências, e as ciências artes
(especialmente liberais). Mostrar-se-á,
ainda, a distinção entre arte e experiência.
2. A Lógica ou
ciência-arte propedêutica a todas as demais ciências e a todas as
demais artes.
a) Introdução e a Lógica em si mesma.
Apêndice: A Gramática.
Observação
1. Não se estudará a Gramática (nem
a portuguesa nem a latina) em sua parte normativa propriamente dita, mas apenas
em seus fundamentos lógicos.
Observação
2. Aqui também se tratará a arte da Tradução não literária.
b) O tratado dos predicáveis.
c) A querela dos universais.
d) As categorias ou predicamentos.
e) Os análogos e os análogos supremos (os transcendentais).
f) O tratado da proposição.
g) O tratado da figura do silogismo.
h) O tratado da demonstração.
Observação. Em todo o estudo da Lógica mais propriamente dita ou stricto
sensu, ter-se-á de tratar criticamente a doutrina de muitos tomistas.
i) As partes potenciais da
Lógica.
• A Dialética, ou
tratado da investigação do provável.
• A Retórica, ou
a arte de fazer tender ao verossímil mediante o bem e o justo.
• A Poética, ou a
arte de fazer tender ao bom e ao verdadeiro mediante o belo.
Observação 1. Aqui se mostrará que o conjunto das artes do belo, desde a Poética
propriamente dita até às demais (Música, Escultura, etc.), tem o mesmo fim.
Mas, se a razão de parte potencial da Lógica que deve dar-se à Poética
(assim como à Retórica) é mais frágil que a que deve dar-se à Dialética, mas
ainda é própria, haverá portanto que mostrar se se pode dar a mesma razão às
demais artes do belo.
Observação 2. Também se tratará a arte da Tradução
literária.
• Os elencos sofísticos, ou o tratado das falácias ou sofismas.
3. As ciências práticas
do agere.
a) A Ética, ou
ciência do autogoverno.
b) A Econômica, ou
ciência do governo doméstico e de seu desdobramento na pólis.
c) A Política, ou
ciência do governo da pólis.
Observação
1. A Prudência docens ou
Ética é verdadeira ciência (prática), mas não é arte de modo algum, enquanto a
Prudência utens ou Prudência propriamente dita não é ciência
de modo algum, mas se diz arte em sentido amplo.
Observação
2. Aqui também se tratará, ainda que
algo sumariamente, o Direito.
Observação
3. Diga-se o mesmo da História.
4. A Física Geral,
ou ciência genérica do ente móvel.
Observação 1. Lançar-se-á um olhar às partes subjetivas da Física Geral:
a) a Cosmologia ou
ciência física do ente segundo o lugar;
b) a Química ou
ciência física do ente segundo a geração e a corrupção;
c) a Biologia ou
ciência física do ente segundo o aumento e a diminuição;
d) a Psicologia ou
ciência física do ente segundo alteração.
Observação
2. A alteração é a espécie de
movimento relativa às qualidades, e as qualidades por antonomásia são as
virtudes intelectuais e morais do homem. Mas a Psicologia ou Antropologia,
enquanto trata precisamente a parte intelectivo-volitiva da alma humana,
obviamente não é ciência física. Logo, a Psicologia é uma como ciência média entre
a Física e a Metafísica, o que decorre da mesma natureza humana. Estudar-se-á
detidamente.
Observação
3. Tratar-se-ão, criticamente, as
chamadas “ciências modernas”, e muito especialmente o darwinismo e a
relatividade einsteiniana.
Observação
4. Mas também há que corrigir
e atualizar a doutrina aristotélico-tomista quanto a algumas das partes
subjetivas da Física Geral, muito especialmente a Cosmologia.
5. A Matemática ou ciência do ens quantum.
a) A Aritmética ou ciência matemática das quantidades discretas.
b) A Geometria ou ciência matemática das quantidades contínuas.
Observação. No curso, não se tratará a Matemática detidamente, sobretudo porque
esta atingiu tal grau de complexidade, que só um especialista seria capaz de
ensiná-la. Mas dar-se-ão suas notas gerais.
6. A Metafísica
(ou Filosofia Primeira, ou Teologia Filosófica), ou ciência
do ente enquanto ente.
Apêndice: História da Filosofia:
Do Impulso Grego ao Abismo Moderno
Observação. Algo do que se dirá aqui já terá sido tratado, profundamente, ao
longo do curso.
1. A
Filosofia Pagã Clássica:
a) Os pré-socráticos:
• Os
naturalistas; Pitágoras e os pitagóricos; Xenófanes e a Escola Eleática;
Empédocles; Anaxágoras; os atomistas; o ecletismo; a decadência sofística.
b) Sócrates: a abertura da estrada real da filosofia.
c) Os socráticos menores: decadência.
d) Platão.
e) Aristóteles: a Filosofia por antonomásia.
f) Entre
o período helenístico e o fim da era pagã – longa decadência:
• As
escolas socráticas, platônicas e aristotélicas; o estoicismo; cepticismo e
ecletismo.
g) O neoestoicismo romano.
h) Andrônico, o renascimento do aristotelismo e o neoaristotelismo de
Alexandre de Afrodísias.
i) Epicurismo, pirronismo, cepticismo e cinismo tardios.
j) Fílon de Alexandria.
k) Médio-platonismo e neopitagorismo.
l) O neoplatonismo:
• Plotino
e seus discípulos, em especial Porfírio.
2. O
Filosofar Cristão.
§ Não se tratará aqui a Teologia Sagrada. Mas ter-se-ão sempre em
conta as luzes que ela projeta sobre a mesma Filosofia.
a) Os Padres e Santo Agostinho.
b) A Escolástica até Santo Tomás de Aquino.
§ Avicena e Averróis.
c) A decadência:
• Duns Scot;
Ockham e o nominalismo.
d) A reação tomista ao scotismo e ao nominalismo: seus méritos, seus
defeitos:
• Os
primeiros; o Cardeal Caetano; Salamanca; João de Santo Tomás; et alii.
e) Fora do tomismo:
• Nicolau de
Cusa.
• O
ecletismo de Suárez.
3. A
Filosofia Moderna ou o
Antiaristotelismo:
a) O surgimento no Renascimento da chamada “ciência moderna” (e suas
sementes humanistas).
• Giordano
Bruno, Bacon, Gassendi, Galileu; Maquiavel; et alii.
b) De Descartes a Leibniz:
• Descartes;
Pascal; Malebranche; Spinoza; Leibniz.
c) De Hobbes a Hume:
• Hobbes; Locke; Newton; Berkeley; Hume.
d) De Wolf a Kant:
• A
Ilustração francesa; a Ilustração alemã; Vico; Kant.
e) De Fichte a Nietzsche:
• Fichte;
Schelling; Hegel; Schopenhauer; Kierkegaard; o primeiro materialismo; o
neokantismo; Nietzsche.
§ O marxismo e o darwinismo.
f) De Bentham a Merleau-Ponty:
• Bentham;
Spencer; Mill; Spencer; o idealismo anglo-saxão; o pragmatismo;
Moore; Russell.
§ Whitehead.
• Maine
de Biran; Comte e o positivismo; Ravaisson; Husserl e a fenomenologia; Bergson;
Heidegger; Sartre; Merleau-Ponty.
§ O modernismo “católico”.
§ O neotomismo.
§ A Psicanálise, a Sociologia e a Linguística.
§ Louis Lavelle e Xavier Zubiri.
g) O fundo do abismo contemporâneo.
Parte 2
§ A Sagrada
Teologia, ou ciência de Deus enquanto Deus
(ou sob a razão de Deus) – a única das ciências que é simultaneamente
especulativa e prática e cujos princípios não se alcançam pelas luzes da razão
Observação. O curso fundar-se-á em toda a Suma Teológica de Santo Tomás
de Aquino, incluído seu Suplemento, e em outras obras do Doutor Angélico.
Observação
geral 1. Dar-se-á sempre, ao longo de ambos os
cursos, a devida bibliografia.
Observação
geral 2. Os alunos poderão sempre escrever
ao professor suas dúvidas relativas aos cursos; e as respostas do professor
ficarão disponíveis, por escrito ou em vídeo, para todos os alunos. Não raro,
todavia, a resposta não será individual, mas a um conjunto de perguntas de dois
ou mais alunos.