Carlos Nougué
Nota prévia: este breve escrito se funda grandemente em Padre Álvaro Calderón, La naturaleza y sus causas, t.
II, p. 375-377. O que porém ali não se encontrar será, obviamente, de minha total responsabilidade.
Objeção. Segundo a biologia moderna e contrariamente à doutrina
aristotélico-tomista, o princípio masculino e o feminino concorrem igualmente,
como causas eficientes, para a geração do embrião.
Resposta. Deve dizer-se que tal conclusão da biologia moderna decorre de
uma insuficiência sua, ou seja, do cingir-se ao quantitativo. Com efeito, para
que se trate de um embrião, é preciso que já esteja informado, isto é,
determinado por uma forma. Mas, para que uma forma seja causada por várias
causas eficientes parciais, é necessário que seja de algum modo composta, de
maneira que uma parte se deva a uma e outra a outra. Pode dar-se multiplicidade
de causas, sim, quanto à disposição da matéria para receber a forma
substancial; e é quanto a tal disposição que o óvulo deve absorver o gameta
masculino, em geral bem menor, para que se constitua algo uno, o zigoto. Sucede
todavia que é a forma substancial mesma a que dá unidade a tal composto, e essa
forma é simples, não composta, e não comporta, portanto, distinção real de
partes. Não pode pois ser causada senão por um único agente ou eficiente, ou
seja, ou pelo princípio masculino ou pelo feminino. “E a generalidade das
espécies”, escreve o Padre Calderón, “mostra que se deve atribuir a geração ao princípio
masculino, que é onde a forma específica se dá com maior vigor”.
A espécie humana, é verdade, deve tratar-se à parte,
porque a causa eficiente da alma racional é Deus, não o princípio masculino.
Mas também pelo que se dá no mundo vegetal pode mostrar-se que em geral é o
princípio masculino a causa agente da forma pela qual se constitui o embrião.
Com efeito, cada flor encerra em si todo o necessário para a reprodução sexual:
a parte masculina é o estame, constituído pelo filamento e pela antera; a parte
feminina, ou carpelo, inclui o estigma – que recolhe o pólen –, o ovário – que
contém o óvulo – e o estilete – tubo que liga o estigma ao ovário. Pois bem, o
pólen é produzido na antera, e é liberado quando já está maduro. Mas cada grão
de pólen contém dois gametas masculinos. Ao dar-se a autopolinização, o pólen
chega ao estigma da mesma flor, ainda que na maioria das plantas, na qual se
tem polinização cruzada, o pólen seja transportado pelo ar, ou pela água, ou
por insetos, etc., para outra flor. Se porém o pólen alcança o estigma de uma
flor da mesma espécie, constitui-se um tubo polínico que cresce para baixo ao
longo do estilete e transporta os gametas masculinos até ao óvulo. É então que,
dentro do saco embrionário do óvulo, um gameta masculino fecunda a ovocélula e
se eduz a forma substancial, pela qual se constitui o zigoto e pois o embrião.* (O segundo gameta masculino, no
entanto, une-se a duas células do saco embrionário, chamadas núcleos polares,
para constituir o endosperma nutritivo que envolve o embrião da semente.)
Baste o dito quanto ao que intencionei mostrar principalmente.
Acrescente-se apenas que também pelo que se acaba de ler se tem mais um indício do verdadeiro caráter do evolucionismo ou darwinismo: é anticientífico,
fantasista, além de radicalmente anticristão. Com efeito, é impossível que a
fecundação animal ou vegetal, em toda a sua complexidade, seja resultado da
ação de forças cegas da matéria e não da eficiência primeira de um Artífice.
* Assinale-se, porém,
para entendimento mais cabal do modo como a forma substancial vem ao ser, que o
faz “pela comunhão do agente e da matéria, em cujas [respectivas] potências
ativa e passiva ela preexistia, de maneira que, a uma só vez, [a forma] desce por recepção do agente e ascende
por edução da matéria. [...]: forma
recipitur ab agente in materia, et educitur de materia in esse” (Padre Ávaro Calderón, ibidem, p. 117).