Carlos
Nougué
PERGUNTA. Professor, já que estamos tratando da
encarnação de Cristo, quero lhe perguntar a respeito da Imaculada Conceição. Os
apologistas, bem como a Doutrina, sustentam a Imaculada Conceição como razão
para a pureza de Cristo em sua natureza humana, como diz as Escrituras: Quem fará sair puro do
impuro? Mas então fica sempre uma dúvida: Essa pureza teria, então, que existir
em santa Ana e remontar até a origem da família de Nossa Senhora? Como se dá
preservação de Maria sem que Ana tenha sido imaculada? Quando puder, gostaria
que sanasse esta minha dúvida ou ignorância. Grato desde já.
RESPOSTA. Maria foi preservada da mancha do pecado
original porque devia ser carne apta para tornar-se a mãe de Deus, preservação
que se deu por milagre singular e especial.
Não é necessário nem devido, portanto, remontar na ascendência carnal. – Depois, o milagre da Imaculada Conceição (ou
Concepção) não fez de Maria uma exceção à redenção universal do Salvador, senão
que, sendo Cristo o eixo dos tempos e
estando a Concepção Imaculada ordenada imediatamente ao advento dele na Terra,
é o efeito mais precioso – ainda que anterior no tempo – dessa mesma redenção. Evita-se
assim o erro de Santo Tomás (e de outros doutores) que o levou a duvidar da
Imaculada Conceição.
Observação. Não se diga,
todavia, que Santo Tomás cometeu um pecado contra a fé ao duvidar da Imaculada
Conceição. Com efeito, antes de tudo, a Cristandade estava dividida a tal ponto
quanto a isto, que na época de Tomás de Aquino a própria igreja de Roma não
celebrava a festa da Imaculada Conceição. Depois, não se pode atentar com
anterioridade contra um dogma estabelecido posteriormente pelo magistério: até
então, com efeito, esta questão permanecia disputada – e o gênio dócil e humilde
de Santo Tomás seria o primeiro a curvar-se à decisão do magistério, que quando
infalível, como o dizia o mesmo santo e doutor, é a regra próxima da fé. Por
isso mesmo, aliás, é que o magistério infalível da Igreja está, de certo modo,
ou seja, como a regra com respeito ao regrado, acima da própria fé.