domingo, 8 de janeiro de 2017

Questões acerca do Novo Testamento (VI): Pergunta sobre a Imaculada Conceição


Carlos Nougué

PERGUNTA. Professor, já que estamos tratando da encarnação de Cristo, quero lhe perguntar a respeito da Imaculada Conceição. Os apologistas, bem como a Doutrina, sustentam a Imaculada Conceição como razão para a pureza de Cristo em sua natureza humana, como diz as Escrituras: Quem fará sair puro do impuro? Mas então fica sempre uma dúvida: Essa pureza teria, então, que existir em santa Ana e remontar até a origem da família de Nossa Senhora? Como se dá preservação de Maria sem que Ana tenha sido imaculada? Quando puder, gostaria que sanasse esta minha dúvida ou ignorância. Grato desde já.

RESPOSTA. Maria foi preservada da mancha do pecado original porque devia ser carne apta para tornar-se a mãe de Deus, preservação que se deu por milagre singular e especial. Não é necessário nem devido, portanto, remontar na ascendência carnal.  – Depois, o milagre da Imaculada Conceição (ou Concepção) não fez de Maria uma exceção à redenção universal do Salvador, senão que, sendo Cristo o eixo dos tempos e estando a Concepção Imaculada ordenada imediatamente ao advento dele na Terra, é o efeito mais precioso – ainda que anterior no tempo – dessa mesma redenção. Evita-se assim o erro de Santo Tomás (e de outros doutores) que o levou a duvidar da Imaculada Conceição.
Observação. Não se diga, todavia, que Santo Tomás cometeu um pecado contra a fé ao duvidar da Imaculada Conceição. Com efeito, antes de tudo, a Cristandade estava dividida a tal ponto quanto a isto, que na época de Tomás de Aquino a própria igreja de Roma não celebrava a festa da Imaculada Conceição. Depois, não se pode atentar com anterioridade contra um dogma estabelecido posteriormente pelo magistério: até então, com efeito, esta questão permanecia disputada – e o gênio dócil e humilde de Santo Tomás seria o primeiro a curvar-se à decisão do magistério, que quando infalível, como o dizia o mesmo santo e doutor, é a regra próxima da fé. Por isso mesmo, aliás, é que o magistério infalível da Igreja está, de certo modo, ou seja, como a regra com respeito ao regrado, acima da própria fé.