Christopher A. Ferrara[1]
Tradução de
Guilherme Ferreira de
Araújo
Nota de Antônio Emílio Angueth de Araújo – Caros leitores, este texto
destrói toda a estatura intelectual de von Mises. Mostra que ele é, como
intelectual, um charlatão. Não porque ele fale mal de Nosso Senhor Jesus Cristo
(disso ele já deve ter dado conta ao Altíssimo) e dos apóstolos, mas porque
demonstra, na melhor das hipóteses, desconhecer toda a história do cristianismo
e de como ele criou a Civilização Ocidental. Suas afirmações no livro Socialismo
são grotescas. O texto mostra também a situação lamentável em que se encontra
Tom Woods, autor de um livro recentemente publicado pela Quadrante. Mostra o
que o liberalismo pode fazer com um ser humano. Veja também Expondo as Perigosas Premissas dos Economistas
Liberais.
* * *
Caro Tom:
Quando nós escrevemos A Grande Fachada, em 2002, eu era um dos
defensores mais ardentes do seu trabalho. Na verdade, via você como um
importante elemento para o futuro do movimento “tradicionalista” nos Estados
Unidos. Eu não previa sua dissidência pública da doutrina social da Igreja, em
benefício da “Escola austríaca” de Economia – radicalmente laissez faire
–, cujas pretensões vão muito além da economia até uma abrangente “filosofia da
liberdade” que não pode ser ajustada ao ensinamento do Magistério a respeito
dos deveres dos homens e das sociedades com respeito a Cristo e Sua Igreja, ou
até mesmo aos deveres dos homens uns com os outros no nível da justiça natural.
Também não previa que se tornaria um “professor residente” do Instituto Ludwig
Von Mises, um grupo libertário radical dedicado ao pensamento de von Mises e
seu discípulo “anarco-capitalista”, Murray Rothbard, ambos liberais agnósticos
que rejeitaram completamente o papel da Igreja e do Evangelho na constituição
da ordem social.
Sua dissidência da doutrina social produziu, da parte de respeitáveis
comentadores católicos, uma multidão de artigos contra você, como os que podem
ser encontrados aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, sendo o
último uma série recém publicada em cinco partes na revista Chronicles
sob o título “É Tomas Woods um dissidente?”. Até o momento, pelas minhas
contas, não menos de doze estudiosos católicos denunciaram sua dissidência do
ensinamento do Magistério com relação a princípios básicos tais como salário
justo, primazia moral do trabalho sobre o capital, pecado da usura e da
extorsão pelos preços, imoralidade do dito “direito absoluto” à propriedade
privada e a necessidade de um governo guiado pela lei divina e natural, para o
governo dos homens decaídos. (Recentemente você até começou a promover a fantasia “anarco-capitalista” da abolição
de todos os governos e da criação de uma “sociedade sem estado.”)
O ponto central de A Grande Fachada era que os católicos
“tradicionalistas” não dissentem da doutrina Católica enquanto tal, mas antes
apenas exercitam seu direito a prescindir de certas novidades litúrgicas e
pastorais desconhecidas na Igreja antes da década de 1960 e nunca impostas aos
fiéis como obrigações comprometedoras da nossa religião. Por exemplo, a
proclamação histórica do papa Bento XVI de que a Missa tradicional em latim
“nunca foi ab-rogada” e de que “em princípio foi sempre permitida” demonstrou a
verdade da reivindicação básica do livro. Mas lá estava você, Tom, nos meses
seguintes à publicação de nosso livro, declarando sua dissensão do ensinamento
a respeito da fé e da moral claramente enunciado como obrigatório por numerosos
papas que ensinaram sobre a justiça no mercado e a reta ordenação do Estado.
E visto que foi o livro mesmo do qual fomos co-autores, juntamente com o
seu mandato no The Remnant e no periódico The Latin Mass, que lhe
deram proeminência como um tradicionalista em primeiro lugar, você dificilmente
poderia esperar que seus ex-colegas permanecessem em silêncio à medida que você
continuava sua torrente de pronunciamentos contra o ensinamento papal,
incluindo o comentário descarado de que a
“tentativa dos papas de elevar princípios como os de ‘salário justo’ ao nível
de doutrina obrigatória é algo completamente diferente, e na verdade está carregada
de erros” – não uma afirmação esporádica, mas algo que você repetiu mais
tarde em publicação, no seu muito criticado A Igreja e o Mercado (p. 79). Você não reconhece a completa
audácia que há em um recém-convertido pretender dar conferências a católicos de
berço a respeito dos “erros” dos ensinamentos da Igreja afirmados por papa após
papa durante séculos?
Ora, uma coisa, Tom, é você expressar sua opinião – sua errante
opinião – de que ao se pronunciarem em matéria de economia e justiça social os
papas excederam o que você considera serem os limites de sua competência, ainda
que os próprios papas, respondendo a dissidentes como você, tenham insistido em
seu direito e dever de se pronunciar precisamente a respeito desses assuntos.
Mas é algo completamente diferente alegar, como você o faz, que você está
exercitando legítima liberdade na Igreja – não, você não está – e, muito pior,
engajar-se numa campanha para persuadir católicos de que aquilo que seu
instituto prega – uma forma de liberalismo social e econômico condenada por uma
extensa linhagem de papas (cf. a encíclica Ubi Arcano Dei, de Pio XI, n.61) – é “perfeitamente compatível” com o Catolicismo
Romano tradicional. Essa propaganda encontrou até mesmo o caminho na direção de
um promissor – sob outros aspectos – novo periódico, “O Tradicionalista”, cujo
número inaugural incluiu um anúncio de página inteira em homenagem a von Mises,
cuja dogmática visão de mundo anti-cristã está evidente nas citações mostradas
abaixo.
Num artigo que
mencionava as circunstâncias de nossa discussão por causa de sua dissensão da
doutrina social e de sua cooperação pós-Grande Fachada com o Southern
Poverty Law Center e sua caça às bruxas aos católicos tradicionalistas
(incluindo eu mesmo), eu aludi a algumas das opiniões ultrajantes de Rothbard,
que defende não apenas o aborto legalizado, a prostituição, o uso de drogas, o
suborno e a extorsão, mas também o direito legal de matar de fome crianças não desejadas, em favor do qual ele argumentou num livro que seu Instituto vende para
o mundo como um “clássico da liberdade”. E você,
Tom, escreveu em
louvor ao mesmo livro sem
mencionar suas afirmações morais depravadas, declarando apenas que “Rothbard
descreve as implicações filosóficas da idéia de propriedade de si mesmo” – uma
idéia que está em conflito com o próprio fato de ser o homem uma criatura de
Deus. Você também nunca mencionou o repetido elogio de Rothbard ao que o
conjunto do trabalho dele aclama como sendo “a subversão da Antiga Ordem... por meio de uma ação libertária em massa que estourou em grandes
revoluções do Ocidente tais como a Americana e a Francesa, realizando as
glórias da Revolução Industrial e os avanços da liberdade...”
Por essa razão, Tom, eu nunca vi você criticar o ataque de Rothbard
ao “integrismo” católico – sim, ele usou exatamente aquela palavra, aquele
perfeito insulto aos católicos romanos tradicionais em decorrência do qual você
e eu escrevemos A Grande Fachada para atacar. Lembra-se? Naquele artigo
em particular, Rothbard imperiosamente depreciou “o ódio da Igreja ao
liberalismo em geral, do qual ela deriva seu ataque ao liberalismo
econômico...” No mesmo artigo, seu mentor descreveu o marco que foi a encíclica
social Quadragesimo anno, de Pio XI, como virulentamente
anti-capitalista e, para dizer a verdade, pró-fascista. “Essa tendência
fascista é revelada pelos rumos do catolicismo europeu no período entre
guerras...” Seu mentor chamou o papa Pio XI de fascista, Tom. Mas então, você
também amontoou críticas à Quadragesimo – baseando-se em seu estudo
informal de economia, um campo no qual você não possui nenhum título ou outra
credencial reconhecida. (Na verdade, antes de você ter-se incorporado ao
Instituto você ensinou história numa faculdade pública.)
Aqui eu desejo chamar a atenção dos católicos para as concepções
igualmente Cristofóbicas e anti-católicas de von Mises, recentemente expostas
num debate online em angelqueen.org, num tópico chamado “Desmascarando a Escola Austríaca”. Essas idéias
aparecem no livro Socialismo, de von Mises, o qual seu Instituto vende
como uma “obra-prima” que apresenta “uma crítica de todo o aparato intelectual
que acompanha o pensamento socialista, incluindo as doutrinas religiosas implícitas por trás do pensamento
socialista ocidental...”
Nas treze citações abaixo, do capítulo 29 de Socialismo, von
Mises ataca Cristo, os Evangelhos e a Igreja como sendo inimigos da liberdade e
da sociedade e instigadores do socialismo e da escravidão, chama o Cristianismo
de “religião do ódio”, e declara que a Igreja tem de se reformar cingindo-se ao
liberalismo e ao capitalismo. Todas as citações aparecem online aqui, que é onde o católico que deu origem ao tópico em
angelqueen.org (alguém com o pseudônimo de GordonG) as encontrou.
Tom, uma vez que você rejeitou todos os pedidos privados relativos à sua
campanha para fazer avançar o libertarianismo radical dentro da Igreja e
particularmente entre os tradicionalistas, nós que uma vez promovemos seu
trabalho nos sentimos obrigados a protestar publicamente contra o que você está
fazendo e a exigir que você se retifique pela confusão que está causando.
Porque você tem um dever perante Deus – como um membro da Igreja
confirmado (se bem que um membro um tanto novo) – de denunciar e repudiar
categoricamente as seguintes citações do livro de von Mises, e de romper seus
laços com o Instituto que promove sua (e de Rothbard) ideologia da “liberdade”
anti-católica, Cristofóbica e, de fato, imoral.
Ademais, é tempo de parar de fingir, como você tem feito por anos, que a
controvérsia que suas próprias palavras e ações têm provocado entre os fiéis
seja um debate sobre “economia” ou coisas particulares tais como a sabedoria
das leis do salário mínimo. Você se associou a uma organização cujas visões a
respeito do homem, da sociedade e da liberdade humana são inimigas da lei do
Evangelho. Você deve escolher entre o Magistério e o Instituto Ludwig von
Mises, e nenhuma quantidade de sofismas pode esconder a realidade daquela
escolha.
Como seu ex-colaborador e colega, e como alguém que admira seus talentos
e sabe o que eles poderiam trazer para uma defesa da doutrina social da
Igreja em lugar de seus aparentes ataques incessantes contra ela, eu espero que
você tome esta carta não como uma provocação, mas como um convite a
reconsiderar o caminho que você escolheu, a dar a volta e a se reunir aos seus
irmãos na fé.
Atenciosamente,
Christopher A. Ferrara
* * *
LUDWIG VON MISES
CONTRA CRISTO, O EVANGELHO E A
IGREJA
1. A pregação de Jesus de um Reino vindouro destrói todos os laços
sociais:
A expectativa da reorganização por parte do próprio Deus quando chegou o
tempo, e a transferência exclusiva de toda ação e pensamento para o futuro
reino de Deus tornou o ensinamento de Jesus Cristo completamente negativo.
Ele rejeita tudo quanto existe, sem oferecer nada para repô-lo. Ele chega a
dissolver todos os laços sociais existentes...
2. Jesus é como os bolcheviques:
... Seu zelo pela destruição dos laços sociais não conhece limites.
A força motriz por trás da pureza e do poder de tal completa negação é uma
inspiração extática e uma esperança entusiástica de um novo mundo. Daí seu
ataque apaixonado a tudo quanto existe. Tudo pode ser destruído porque Deus, em
Sua onipotência, vai reconstruir a futura ordem. É desnecessário examinar se
alguma coisa pode ser reaproveitada na passagem da velha para a nova ordem,
porque essa nova ordem erguer-se-á sem auxílio humano. Ela não demanda de seus
partidários, portanto, nenhum sistema ético, nenhuma conduta particular em
qualquer direção positiva. Fé, e apenas fé, esperança, expectativa – isso é
tudo o que é necessário. Ele [o homem] não precisa contribuir em nada para a
reconstrução do futuro, Deus Ele mesmo o sustentou. O mais claro paralelo
moderno à atitude do cristianismo primitivo de completa negação é o bolchevismo.
Os bolcheviques, igualmente, desejam destruir tudo quanto existe porque eles o
consideram algo desesperadamente mau. Mas eles têm em mente planos – por mais
indefinidos e contraditórios que eles possam ser – para uma futura ordem
social. Eles exigem não apenas que seus seguidores devem destruir tudo quanto
exista, mas também que eles adotem uma linha de conduta definida, que conduz em
direção ao Reino futuro com o qual eles sonharam. O ensinamento de Jesus a esse
respeito, por outro lado, é somente negação.
3. Jesus despreza os ricos, incitando o mundo à violência contra eles e
suas propriedades; e Seu ensinamento espalhou “semente maligna”:
Naturalmente, uma coisa está clara e nenhuma interpretação habilidosa
pode ocultar isso. As palavras de Jesus estão cheias de rancor contra os
ricos, e os Apóstolos não são menos brandos a respeito disso. O Homem Rico
é condenado porque ele é rico, o Mendigo é louvado porque ele é pobre. A
única razão por que Jesus não declara guerra contra os ricos e não aconselha
vingança contra eles é que Deus disse: “A vingança é minha”.
No Reino de Deus os pobres serão ricos, mas os ricos estarão envoltos em
sofrimento. Revisores tardios tentaram abrandar as palavras de Cristo contra os
ricos, das quais a versão mais completa e vigorosa é encontrada no Evangelho de
Lucas, mas resta um bocado suficiente para apoiar aqueles que encorajam o
mundo a sentir ódio, a se vingar a assassinar e a queimar os ricos. Até a
época do Socialismo moderno nenhum movimento contra a propriedade privada que
se originou no mundo cristão falhou em buscar autoridade em Cristo, nos
Apóstolos, e nos Padres Cristãos, para não mencionar aqueles que, como Tolstoi,
fizeram do ressentimento evangélico contra os ricos o próprio coração e alma de
seu ensinamento.
Este é um caso no qual as palavras do Redentor espalharam semente
maligna. Mais dano tem sido causado e mais sangue tem sido derramado por conta
delas do que pela perseguição aos heréticos e queima das bruxas. Elas sempre tornaram a Igreja indefesa contra todos os movimentos que
almejam destruir a sociedade humana...
4. A Igreja, e não o liberalismo Iluminista, abriu caminho para o
Socialismo:
…Seria estúpido sustentar que o Iluminismo, ao arruinar gradativamente o
sentimento religioso das massas, abriu caminho para o Socialismo. Ao
contrário, foi a resistência que a Igreja ofereceu à disseminação das ideais
liberais que preparou o solo para o rancor destrutivo do pensamento socialista
moderno. A Igreja não apenas não fez nada para extinguir o fogo, mas ela
até mesmo tocou fogo na brasa...
5. A doutrina cristã destrói a sociedade, proíbe a preocupação com o
sustento e o trabalho, prega o ódio à família e até mesmo endossa a castração:
... É por isso que a doutrina cristã, uma vez separada do contexto no
qual Cristo a pregou – expectativa do iminente Reino de Deus –, pode ser
extremamente destrutiva. Nunca e em lugar algum um sistema de ética social que
abraça a cooperação social poderá ser construído a partir de uma doutrina que
proíbe qualquer preocupação com o sustento e o trabalho, enquanto expressa um
feroz ressentimento em relação aos ricos, prega o ódio à família e defende a
castração voluntária.
6 O Evangelho não desempenhou nenhum papel na construção da civilização
ocidental:.
As façanhas culturais da Igreja durante seus séculos de desenvolvimento
são [fruto] do trabalho da Igreja, e não do cristianismo. É uma questão aberta
quanto desse trabalho se deve à civilização herdada do estado romano e quanto
se deve ao conceito de amor cristão, completamente transformado sob a
influência dos estóicos e de outros filósofos antigos. A ética social de
Jesus não tem papel algum neste desenvolvimento cultural. A realização da
Igreja, neste caso, foi torná-las inofensivas, mas sempre por um período
limitado de tempo...
7. Porque ela se opõe ao liberalismo, a Igreja é uma inimiga da
sociedade:
O destino da civilização está em jogo. Porque não é como se a
resistência da Igreja às idéias liberais fosse inofensiva. A Igreja é um poder
tão poderoso que sua aversão às forças que trazem a sociedade à existência
seria suficiente para quebrar em pedaços toda a nossa cultura. Nas últimas
décadas nós testemunhamos com horror sua terrível transformação em um
inimigo da sociedade. Pois a Igreja, tanto a Católica quanto a Protestante,
não é o menor dos fatores responsáveis pela prevalência de ideais
destrutivos no mundo hoje...
8. O liberalismo é superior ao cristianismo e tem restaurado a
humanidade por meio da destruição da Igreja, motivo pelo qual a Igreja o odeia:
Historicamente é fácil entender a aversão que a Igreja tem mostrado pela
liberdade econômica e pelo liberalismo político sob qualquer forma. O
liberalismo é a flor daquele iluminismo racional que desferiu o sopro da
morte no regime da antiga Igreja e do qual brotou a crítica histórica moderna.
Foi o liberalismo que solapou o poder das classes que por séculos estiveram
intimamente ligadas à Igreja. Ele transformou o mundo mais que o
cristianismo sempre o fez. Ele devolveu a humanidade ao mundo e à vida. Ele
despertou as forças que sacudiram as fundações do tradicionalismo inerte sobre
o qual Igreja cria estar repousada. A nova perspectiva provocou na Igreja um
enorme mal-estar, e ela ainda não se ajustou até mesmo às camadas mais
exteriores da época moderna.
9. O cristianismo se tornou uma religião do ódio, buscando destruir o
“admirável novo mundo” do liberalismo:
De fato, os padres em países católicos borrifam água benta sobre
estradas de ferro recentemente construídas e em dínamos de novas usinas, mas o
cristão confesso ainda estremece intimamente diante dos trabalhos de uma
civilização que sua fé não consegue compreender. A Igreja ressentiu-se
fortemente da modernidade e do espírito moderno. Que surpresa, então, que
ela tenha se aliado àqueles cujo ressentimento levou-os a desejar a dissolução deste
admirável novo mundo, e que tenha explorado seu arsenal bem estocado como
meio para denunciar o esforço terreno pelo trabalho e pela riqueza. A
religião que chama a si mesma religião do amor tornou-se uma religião do ódio,
em um mundo que parecia estar preparado para a felicidade. Quaisquer
pretendentes a destruidores da ordem social moderna poderiam fiar-se no
cristianismo como um líder.
10. Porque eles seguem o Evangelho e porque não foram “vacinados” com a
filosofia liberal, sacerdotes e monges são inimigos da sociedade:
Sacerdotes e monges que praticaram a verdadeira caridade cristã, que
ministraram e ensinaram em hospitais e em prisões e que sabiam tudo o que havia
para saber a respeito da humanidade sofredora e pecadora – esses foram os
primeiros a serem enganados pelo novo evangelho da destruição social.
Apenas uma firme compreensão da filosofia liberal poderia tê-los vacinado
contra o infeccioso ressentimento que se assolou entre os seus protegidos e
que foi justificado pelos Evangelhos. Por assim dizer, eles se tornaram
perigosos inimigos da sociedade. Do trabalho de caridade brotou o ódio à
sociedade.
11. A Igreja e o papado buscam escravizar os homens destituindo-os da
razão e da liberdade espiritual do capitalismo:
A Igreja sabe que ela não pode vencer, a menos que possa vedar a fonte
da qual seu oponente continua extraindo inspiração. Desde que o racionalismo
e a liberdade espiritual do indivíduo sejam mantidos na vida econômica, a
Igreja jamais terá êxito em agrilhoar o pensamento e em tomar conta do
intelecto na direção desejada. Para fazer isso, primeiro ela teria de obter
a supremacia sobre toda atividade humana. Por conseguinte, ela não pode se
contentar com o viver como uma Igreja livre em um estado livre [o próprio
slogan de Cavour, o grande inimigo maçônico da Igreja e do beato Pio IX – CAF];
ela deve procurar dominar aquele estado. Ambos o papado de Roma e as igrejas
protestantes nacionais lutam pela soberania, já que ela as permitiria ordenar
todas as coisas temporais de acordo com seus ideais. A Igreja não pode tolerar
outro poder espiritual. Todo poder espiritual independente é uma ameaça a ela,
uma ameaça que aumenta em força à medida que a racionalização da vida progride.
12. O cristianismo necessita do socialismo a fim de manter a teocracia
contra a ameaça da “produção independente”:
Ora, a produção independente não tolera qualquer autoridade espiritual
suprema. Em nosso tempo, o poder sobre a mente só pode ser obtido por meio
do controle da produção. Todas as Igrejas já estão indistintamente atentas
a isso há tempos, mas para elas isso se tornou claro pela primeira vez quando a
idéia socialista, surgindo de uma fonte independente, fez-se sentir como uma
força poderosa e rapidamente crescente. Então, tornou-se claro para as Igrejas
que a teocracia só é possível numa comunidade socialista.
13. A Igreja deve se transformar cingindo-se antes ao capitalismo do que
ao ensinamento papal tal como o de Pio XI:
Se a Igreja de Roma quiser encontrar uma solução para a crise para qual
o nacionalismo a levou, então ela deve ser inteiramente transformada. Pode ser
que essa transformação e essa reforma a levem à aceitação incondicional da
indispensabilidade da propriedade privada dos meios de produção. Até o presente
ela está longe disso, como testemunha a recente encíclica Quadragesimo anno.
Fonte: angueth.blogspot.com.br/2010/03/ludwig-von-mises-contra-jesus-cristo-o.html.