Tradução
Carlos Nougué
Porque me pediste que
escrevesse se é lícito recorrer aos juízos dos astros, e querendo satisfazer
teu pedido, tratei de escrever o que nos foi transmitido sobre isto pelos sacros
doutores.
Em primeiro lugar,
portanto, é-te necessário saber que a virtude dos corpos celestes se estende a
imutar [modificar] os corpos inferiores. Diz com efeito Agostinho, no livro V
de Da Cidade de Deus: “não de todo
absurdamente pode dizer-se que certos influxos sidéreos são suficientes só para
diferenças dos corpos”. E assim, se se recorre aos julgamentos dos astros para
conhecer antecipadamente efeitos corporais, como, por exemplo, tempestade e
serenidade do ar, saúde ou enfermidade do corpo, ou abundância e esterilidade
dos frutos, e coisas assim que dependem de causas corporais e naturais, parece não
haver nenhum pecado. Pois todos os homens, acerca de semelhantes efeitos, se utilizam
de alguma observação dos corpos celestes: assim, os agricultores semeiam e colhem
em certo tempo, que se observa segundo o movimento do sol; os marinheiros
evitam navegações no plenilúnio, ou no eclipse da lua; os médicos, com respeito
às doenças, observam dias críticos, que são determinados segundo o curso do sol
e da lua. Por isso não é inconveniente recorrer, segundo outras observações
mais ocultas das estrelas, ao juízo dos astros com respeito a efeitos
corporais.
É necessário todavia
manter totalmente que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos
astros; sem isso pereceria o livre-arbítrio: e, supresso este, nem se
atribuiria ao homem o mérito das boas obras, nem se lhe atribuiria a culpa das más.
E por isso todo cristão deve sustentar certissimamente que tudo o que depende
da vontade do homem, como é o caso de toda e qualquer obra humana, não se
sujeita à necessidade dos astros: e por isso se diz em Jeremias X, 2: “não
temais os sinais do céu, como temem os gentios”.
Mas o diabo, para
arrastar todos ao erro, imiscui-se em suas obras que têm respeito aos juízos
dos astros. E por isso diz Agostinho em II [17] de Super Gen. ad litteram: “deve reconhecer-se que, quando coisas
verdadeiras são ditas pelos astrólogos, são ditas por impulso de algo ocultíssimo,
que ignorantes mentes humanas padecem: o que, como se faz para enganar os
homens, é uma operação de espíritos imundos e sedutores, aos quais se permite conhecer
coisas verdadeiras das coisas temporais”. E por isso diz Agostinho no livro II
de De doctrina Christiana [II, 23] que
semelhantes observações dos astros se relacionam a certos pactos tidos com os demônios.
Mas o cristão deve evitar totalmente ter pacto ou sociedade com o demônio,
segundo aquilo do Apóstolo em I Coríntios X, 20: “Eu não quero que vos torneis
sócios dos demônios”. E assim deve ter-se por certo que é pecado grave recorrer
aos juízos dos astros com respeito às coisas que dependem da vontade do homem.
* * *
Sancti Thomae de Aquino
De iudiciis astrorum
Quia petisti ut tibi scriberem an liceret iudiciis astrorum uti,
tuae petitioni satisfacere uolens, super ea quae a sacris doctoribus traduntur,
scribere curaui.
In primis ergo oportet te scire quod uirtus
celestium corporum ad immutanda inferiora corpora se extendit. Dicit enim
Augustinus V De ciuitate Dei Non
usquequaque absurde dici potest ad solas corporum differentias afflatus quosdam
sydereos peruenire. Et ideo, si aliquis iudiciis astrorum utatur ad
prenoscendum corporales effectus, puta tempestatem et serenitatem aeris,
sanitatem uel infirmitatem corporis, uel ubertatem et sterilitatem fructuum, et
cetera huiusmodi que ex corporalibus et naturalibus causis dependent, nullum
uidetur esse peccatum. Nam omnes homines circa huiusmodi effectus aliqua
obseruatione utuntur celestium corporum: sicut agricole seminant et metunt
certo tempore quod obseruatur secundum motum solis; naute nauigationes uitant
in plenilunio, uel in lune defectu; medici circa egritudines creticos dies
obseruant, qui determinantur secundum cursum solis et lune. Vnde non est
inconueniens, secundum aliquas alias occultiores obseruationes stellarum, circa
corporales effectus uti astrorum iudicio.
Hoc autem omnino tenere oportet, quod uoluntas hominis non est
subiecta necessitati astrorum; alioquin periret liberum arbitrium, quo sublato
non deputarentur homini neque bona opera ad meritum, neque mala ad culpam. Et ideo
certissime tenendum est cuilibet christiano, quod ea que ex uoluntate hominis
dependent, qualia sunt omnia humana opera, non ex necessitate astris subduntur;
et ideo dicitur Ier. x A signis celi nolite metuere que gentes timent.
Sed dyabolus, ut omnes pertrahat in errorem, immiscet se
operibus eorum qui iudiciis astrorum intendunt ; et ideo Augustinus dicit in II
Super Genesim ad litteram Fatendum,
quando ab astrologis uera dicuntur, instinctu quodam occultissimo dici, quem
nescientes humane mentes patiuntur; quod cum ad decipiendos homines fit,
spirituum immundorum et seductorum operatio est, quibus quedam uera de
temporalibus rebus nosse permittitur. Et ideo Augustinus dicit in II De
doctrina christiana quod huiusmodi obseruationes astrorum referende sunt ad
quedam pacta cum demonibus habita. Est autem omnino christiano uitandum pactum
uel societatem cum demonibus habere, secundum illud Apostoli I Cor. x Nolo uos fieri socios demoniorum. Et ideo pro certo
tenendum est graue peccatum esse, circa ea que a uoluntate hominis dependent
iudicio astrorum uti.