sábado, 17 de setembro de 2016

Um herói da Religião: Dom Vital


Dom Vital

C. N.

Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, OFM Cap (Pedras de Fogo, 1844-Paris, 1878), frade capuchino, foi designado aos 26 anos bispo de Olinda, Pernambuco.
Mas logo se tornaria protagonista da chamada “Questão Religiosa”, que aconteceu no Brasil entre 1872 e 1875 por causa da interdição do próprio Dom Vital e de Dom Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará, de que o clero tivesse relações com a Maçonaria. Dom Vital foi preso em 1875, por ordem do Visconde do Rio Branco (ele mesmo maçom), em seu próprio palácio episcopal por um juiz, pelo chefe de polícia e por um coronel da polícia.
Quando entraram no palácio e bateram à porta do quarto do bispo, Dom Vital saiu paramentado, com mitra e com báculo. Assim foi preso; mas, ao chegarem à rua, os policiais viram aumentar a multidão que dava vivas ao bispo. Puseram-no num carro e levaram-no para o Arsenal de Marinha, onde ficou preso à espera do navio que o levaria ao Rio. Em Salvador, embarcaram-no em outro navio para que chegasse ao Rio sem ser esperado; e no Rio foi encarcerado no Arsenal. Não foi de modo algum tratado brutalmente. Mas em todas as partes (Recife, Salvador, Rio...) cresciam as homenagens e os protestos de outros bispos, do clero, do povo, enfim.
O Papa Pio IX também passou a protestar. Escreveu ao imperador brasileiro para pedir-lhe que libertasse os bispos e para dizer-lhe que eles se tinham conduzido como verdadeiros príncipes da Igreja. Ao que tudo indica, Dom Pedro II não deu maior importância à carta do papa. Foi então, porém, que por outras razões caiu o gabinete do Visconde do Rio Branco, e o Duque de Caxias foi chamado para constituir o novo. Aceitou o convite, com a condição, todavia, de que o imperador libertasse os dois bispos. Dom Pedro enfim o aceitou, e em setembro de 1875 anistiou Dom Vital e outros, incluindo o bispo do Pará. Em outubro Dom Vital foi a Roma e foi recebido efusiva e paternalmente por Pio IX, que, comovido, lhe repetia “Mio Caro Olinda”, “Mio Caro Olinda”.
Dom Vital retornou à sua diocese em outubro de 1876. Foi recebido de modo triunfal. Retomou prontamente suas atividades. Mas eis que, de repente, se agrava muito seu já precário estado de saúde. Voltou à Europa em busca de tratamento, não sem escrever ao Papa para informá-lo de que renunciava à diocese. O papa, porém, não aceitou a renúncia, ainda que o tratamento a que se submetia não debelasse a doença e seus enigmáticos sintomas.
O nosso Dom Vital morreu em Paris, em 4 de julho de 1878. Ao receber o viático, disse: “Perdoo de coração aos meus inimigos e ofereço a Deus o sacrifício da minha vida”. Mas Monsenhor de Ségur, na oração fúnebre recitada em suas exéquias, disse que Dom Vital morrera envenenado. Assim terminou a “Questão Religiosa”.
Pois bem, não escrevi esta breve notícia histórica (o que não é muito de meu feitio) senão para dizer que, se digo convictamente que a república foi um golpe, e que, se for possível, a restauração monárquica será um benefício para o Brasil, digo também que “quem semeia vento colhe tempestade” (Oseias 8, 7): tanto o golpe militar contra o império como a república que se seguiu foram da mesma maçonaria que Dom Pedro II permitira desenvolver-se na antiga Terra da Santa Cruz.