sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A resposta tomista atual ao problema da origem da alma dos brutos


Escrevi (Carlos Nougué) o seguinte ao Padre Luiz Carlos Lodi, um pouco à guisa de objeção:

“Li e estudei atentamente seu A Alma do Embrião Humano, e adiro a suas conclusões (aliás, diga-se que nunca fui mediatista, e que em meu estudo introdutório ao Compêndio de Teologia assinalei que, quanto a isto, Santo Tomás se equivocara, e que poderia não tê-lo feito como não o fizera S. Máximo). Mas pergunto-lhe: se é necessário que a alma humana informe desde o início o zigoto, do mesmo modo será necessário que nos brutos sua alma informe desde o início o zigoto. Mas a alma humana provém de Deus. De onde provém, por conseguinte, a alma dos brutos? Dos mesmos dois gametas de seus pais? E pode estender-se analogamente a pergunta ao problema da alma vegetal.”

Respondeu-me magnífica e tomisticamente o Padre, contra os mesmos tomistas mediatistas:

«Segundo S. Tomás, as almas vegetativa e sensitiva, por não serem intrinsecamente dependentes da matéria, são eduzidas dos genitores.
A animação retardada, defendida por S. Tomás também para os animais, ocorreria quando a matéria estivesse devidamente disposta para receber a alma sensitiva. Quem disporia a matéria para esse fim seria alma do genitor, através da vis formativa presente no sêmen.
O Doutor Angélico jamais disse que a alma vegetativa (presente desde o primeiro momento) seria capaz de “dispor” a matéria para receber a alma sensitiva. Tal afirmação (que se encontra hoje entre tomistas) contradiria o princípio de causalidade, segundo o qual a perfeição do efeito não pode superar a perfeição da causa. Uma alma inferior não teria condições de formar os órgãos de uma alma superior.
Somente uma alma pode ser causa eficiente para a disposição da matéria para a chegada (por edução ou criação) de outra alma. E essa alma, no caso do homem, tem que ser racional. No caso de um animal, deve ser sensitiva. É portanto, segundo o Aquinate, a alma sensitiva do pai (animal) a que dispõe a matéria do embrião, por meio da vis formativa presente no sêmen.
No entanto, é um dado biológico novo que o sêmen não permanece envolvendo o embrião após a concepção, como pensava S. Tomás. Logo, na ausência da vis formativa do sêmen (que se degenera logo após o encontro dos gametas), resta apenas que a alma sensitiva (no caso dos animais) esteja presente desde a concepção. Se ela não estiver presente (mas estiver presente apenas um organismo com alma vegetativa), jamais poderá estar presente.
Como a alma sensitiva se torna presente no momento da concepção? Ela é eduzida dos pais (que têm alma sensitiva), retirada da potencialidade da matéria [eu acrescentaria: mediante a vis formativa presente nos gametas] .
Em resumo. Os novos dados da biologia impelem-nos a defender a animação imediata tanto para os irracionais como para o homem.
Quanto aos vegetais, a animação só pode ser imediata. Não faria sentido falar em animação retardada, pois não há uma alma inferior à vegetativa.»