Escrevi (Carlos Nougué) o seguinte ao Padre Luiz
Carlos Lodi, um pouco à guisa de objeção:
“Li e estudei atentamente seu A Alma do Embrião
Humano, e adiro a suas conclusões (aliás, diga-se que nunca fui mediatista,
e que em meu estudo introdutório ao Compêndio de Teologia
assinalei que, quanto a isto, Santo Tomás se equivocara, e
que poderia não tê-lo feito como não o fizera S. Máximo). Mas
pergunto-lhe: se é necessário que a alma humana informe desde o início
o zigoto, do mesmo modo será necessário que nos brutos sua alma
informe desde o início o zigoto. Mas a alma humana provém
de Deus. De onde provém, por conseguinte, a alma dos brutos? Dos mesmos
dois gametas de seus pais? E pode estender-se analogamente a pergunta ao
problema da alma vegetal.”
Respondeu-me magnífica e tomisticamente o Padre,
contra os mesmos tomistas mediatistas:
«Segundo S. Tomás, as almas vegetativa e sensitiva,
por não serem intrinsecamente dependentes da matéria, são eduzidas dos
genitores.
A animação retardada, defendida por S. Tomás também
para os animais, ocorreria quando a matéria estivesse devidamente disposta para
receber a alma sensitiva. Quem disporia a matéria para esse fim seria alma do
genitor, através da vis formativa
presente no sêmen.
O Doutor Angélico jamais disse que a alma vegetativa
(presente desde o primeiro momento) seria capaz de “dispor” a matéria para
receber a alma sensitiva. Tal afirmação (que se encontra hoje entre tomistas)
contradiria o princípio de causalidade, segundo o qual a perfeição do efeito
não pode superar a perfeição da causa. Uma alma inferior não teria condições de
formar os órgãos de uma alma superior.
Somente uma alma pode ser causa eficiente para a
disposição da matéria para a chegada (por edução ou criação) de outra alma. E
essa alma, no caso do homem, tem que ser racional. No caso de um animal,
deve ser sensitiva. É portanto, segundo o Aquinate, a alma sensitiva do
pai (animal) a que dispõe a matéria do embrião, por meio da vis formativa presente no sêmen.
No entanto, é um dado biológico novo que o sêmen não
permanece envolvendo o embrião após a concepção, como pensava S. Tomás. Logo,
na ausência da vis formativa do sêmen
(que se degenera logo após o encontro dos gametas), resta apenas que a alma
sensitiva (no caso dos animais) esteja presente desde a concepção. Se ela não
estiver presente (mas estiver presente apenas um organismo com alma
vegetativa), jamais poderá estar presente.
Como a alma sensitiva se torna presente no momento
da concepção? Ela é eduzida dos pais (que têm alma sensitiva), retirada
da potencialidade da matéria [eu acrescentaria: mediante a vis formativa presente nos gametas] .
Em resumo. Os novos dados da biologia impelem-nos a
defender a animação imediata tanto para os irracionais como para o homem.
Quanto aos vegetais, a animação só pode ser
imediata. Não faria sentido falar em animação retardada, pois não há uma alma
inferior à vegetativa.»