C. N.
Alguns desavisados (e
espera-se que sejam só isso) andam a dizer por aí que sou liderança laica deste
ou daquele grupo religioso. Mas não o sou de modo algum, nem, muito menos, jamais recebi delegação eclesiástica alguma para sê-lo. Para que tal se provasse,
bastariam a coerência de minha vida pública de católico e todas as palavras que
amiúde escrevi contra, justamente, a liderança de movimentos religiosos por
laicos. Como porém se trata de desavisados, faço-lhes o favor de transcrever breve
passagem do prólogo de meu Estudos
Tomistas – Opúsculos, cuja campanha de divulgação há de começar amanhã:
“[Como disse] Pio XII na “Alocução aos Cardeais e Bispos para a canonização de Pio X”
(31 de maio de 1954): “[...]
deve sustentar-se o seguinte: nunca houve, nem há, nem haverá jamais na
Igreja um magistério legítimo de leigos que tenha sido subtraído por Deus à autoridade,
guiamento e vigilância do magistério sagrado [...]. Isso não significa que a Igreja proíba aos leigos a profissão (como num
eco para maior aplicação e difusão) da única e verdadeira doutrina: a do
sagrado Magistério. Um comportamento assim, longe de opor ao magistério
espiritual eclesiástico um magistério espiritual que, em si, seria laico […],
um comportamento assim, ao contrário, é sinal da subordinação que deve existir
entre o poder temporal do laicato e o poder espiritual dos clérigos. A Igreja
não terá jamais demasiados leigos teologicamente formados para fazer que
penetre na substância do temporal o fermento da doutrina elaborada pela
hierarquia eclesiástica”.
Que porém a Igreja não proíba aos leigos tal profissão não quer dizer,
de modo algum, insista-se, que eles possam liderar movimentos religiosos,
porque, com efeito, o que é líder tem de reunir em si dois requisitos: a autorictas, ou seja, a posse da verdade,
o que na Igreja não é possível senão pela assistência do Espírito Santo (prometida
e dada tão somente ao magistério quando cumpridas propriamente ou analogamente
as quatro condições vaticanas); e a potestas,
ou domínio dos meios para fazer os súditos atingir o fim assinalado pela
verdade. Naturalmente, há muito que aprofundar quanto a isto, o que faço no
referido prólogo; quanto ao que nos interessa aqui, porém, baste o dito.
Mas, ademais, nunca me propus a líder nem sequer de movimentos políticos
ou sociais, senão que me limito a ensinar e a escrever segundo o
aristotelismo-tomismo. Quanto trato assuntos políticos práticos, faço-o pois como
indivíduo, não como liderança. Se alguma influência tenho sobre almas, tal não
decorrerá senão da força do mesmo aristotelismo-tomismo, quer no âmbito do
filosófico, quer no do teológico sagrado. Mas no campo do prático sempre será uma
influência mediata, ou ainda indireta – o que não é próprio do líder.
E ponto final.