segunda-feira, 25 de julho de 2016

O Cardeal Pie de Poitiers e as disputas


Assim como um juiz não pode sentenciar em juízo
até haver escutado as duas partes, assim o homem que
estuda filosofia julga melhor se observa o choque
das ideias, como o de dois adversários em pugna. 
Santo Tomás de Aquino


Cardeal Pie de Poitiers

Deve-se preferir seguramente a calma exposição dos dogmas à discussão: nossos ilustres predecessores disseram-no com frequência, e seria muito fácil fazer apenas uma coleção de seus escritos em que o dizem. Mas as exigências do tempo colocavam-nos também a eles em meio a polêmicas, e, quando se leem as suas obras, compreende-se que a polêmica ocupa talvez até a maior parte delas. 
Mas não devemos lamentar-nos disto! Foi para que se vissem brotar daqueles golpes as mais brilhantes centelhas de seu gênio, os traços mais luminosos de seu espírito. Não sei se a tradição católica seria irreparavelmente prejudicada mais com a perda dos livros de apologética e dos tratados de polêmica do que com a dos de catequese e das homilias pastorais. 
Dizem, eu sei, que a contradição pode dar demasiado peso ao agressor, que lhe pode conciliar o favor popular, enquanto o silêncio e o desprezo o deixam afundar na obscuridade e no silêncio. Respondo logo que a Igreja, sem supervalorizar ou engrandecer propositadamente nenhum adversário, tem o costume de não subestimar nenhum, e, portanto, se qualquer se sentir honrado, a culpa não será da Igreja.
Acrescentemos que a teoria do silêncio é um pouco demasiado cômoda para não ser suspeita, e verificamos que, relativamente ao passado, não pode contar a seu favor com o sucesso nem com a autoridade nem com o exemplo.
Uma vez que se insiste tanto na dificuldade de observar a caridade nas discussões religiosas, respondo que os grandes Doutores nos dão exemplos muito claros e regras bem precisas a este propósito. Em textos que todos conhecemos, aconselham o comedimento, a moderação, a indulgência para com os próprios inimigos de Deus e da verdade, o que não os impede de usar, sem contradizer estes princípios, a arma da indignação, às vezes ainda a do ridículo, com uma vivacidade e com uma liberdade de linguagem que incomodariam nossos ouvidos delicados. 
A caridade, com efeito, encerra antes de tudo o amor de Deus e da verdade. Não teme, por isso, desembainhar a espada ao tratar-se dos interesses da causa sagrada, sabendo que mais de um inimigo pode ser refutado e curado somente com golpes ousados e talhos salutares.