quarta-feira, 29 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
La Syrie sous le joug des 4 cavaliers de l'Apocalypse (A Síria sob o jugo dos 4 cavaleiros do Apocalipse)
Jean-Claude e
Geneviève Antakli apresentam sua obra Syriapocalypse. Tratam ali os três últimos
anos de conflito na Síria e desvelam o plano de Washington para incendiar o mundo
árabe-muçulmano e redesenhar o mapa geopolítico do Oriente Próximo. Jean-Claude
e Geneviève Antakli explicam também o papel que desempenharam as petromonarquias
do Golfo, a Turquia e a oposição síria soi
disant democrática para a desestabilização do poder de Bachar el-Assad.
terça-feira, 21 de junho de 2016
Aulas completas do curso “A Ordem das Disciplinas segundo Santo Tomás de Aquino”
•
A Ordem das Disciplinas - Aula 1
•
Curso A Ordem das Disciplinas - Aula 2
• A Ordem das Disciplinas - Aula 3 - A Gramática
• Aula 4 de A Ordem das Disciplinas - O Aprendizado de
Outras Línguas
• Aula 5 de A Ordem das Disciplinas - A Arte de Traduzir
• Aula 6 de A Ordem das Disciplinas - O Órganon
Aristotélico
• A Ordem das
Disciplinas - Aula 7 - A Poética (20/01, às 21 horas)
• A Ordem das Disciplinas - aula 8: A Ética, a Política e a
História
• A Ordem das Disciplinas: A Física Geral
aristotélico-tomista (I) (3 de fevereiro - 21 h)
• A Ordem das Disciplinas: A Física Geral
aristotélico-tomista (II) (quarta-feira 17 de fevereiro - 21 h)
• A Ordem das Disciplinas: A Física Geral
aristotélico-tomista (III) (quinta-feira, 25/2, às 21 horas)
• A Ordem das Disciplinas: A Física Geral
Aristotélico-tomista IV (última aula de Física)
• A Ordem das Disciplinas (penúltima aula) - Metafísica
(quarta-feira 25 de maio, às 21 horas)
A liberdade segundo Santo Tomás (II): «Se todas as coisas apetecem a Deus mesmo»
C. N.
(Exposição)
Se todas as coisas
apetecem a Deus mesmo[1]
A maioria
das coisas apetece naturalmente a Deus – atenção! – implicitamente, não explicitamente. Para mostrá-lo, diga-se, com efeito,
que toda causa segunda só pode influir sobre seu efeito na medida em que recebe
da causa primeira – e Deus é a causa primeira de tudo e em todos os sentidos – a
virtude ou poder para isso. Pois bem, há quatro causas (a eficiente, a material,
a formal e a final), mas aqui não nos interessa senão duas delas (a eficiente e
a final). Desse modo, assim como para a causa eficiente (ou seja, a causa «fazedora»)
influir é agir, assim também para a causa final (ou seja, a causa das causas,
aquela em razão da qual ou em ordem à qual a causa eficiente faz algo) influir
é ser apetecida ou desejada. Por isso mesmo, assim como o agente ou causa eficiente
segunda só age graças à virtude ou poder que lhe vem do agente ou causa primeira,
assim também o fim segundo só é apetecido graças ao que lhe vem do fim primeiro
(também e mais propriamente dito último,
porque, embora seja o primeiro na intenção, é o último na consecução ou conseguimento):
porque, com efeito, de algum modo a causa segunda se assemelha à primeira. Desse
modo, assim como Deus, por ser o agente ou causa eficiente primeira, age em
todos os outros agentes (segundos), assim também Deus, por ser o fim último, é
apetecido por todos os outros fins (ou seja, todos os outros fins se ordenam a
Deus).
Mas isso,
se considerado em geral, é justo apetecer a Deus implicitamente. De fato, a virtude
ou poder da causa primeira está na causa segunda assim como os primeiros
princípios estão nas conclusões.[2] Mas reduzir analiticamente as conclusões a
princípios,[3] ou reduzir as causas segundas às primeiras, pertence
tão somente à virtude ou potência racional. Sendo assim, apenas a natureza racional
pode ordenar a Deus mesmo os fins segundos mediante certa análise ou resolução,
de maneira que apeteça a Deus explicitamente.
Desse modo, assim como nas ciências a conclusão só será correta mediante a redução
analítica aos primeiros princípios, assim também o apetite da criatura racional só será reto se apetecer explicitamente a Deus mesmo.
Acrescentem-se
as seguintes precisões.
• Deus pode
ser conhecido de dois modos: ou em si mesmo, ou em seus efeitos. Se conhecido
em si mesmo, ou seja, enquanto é por essência a própria bondade, não pode ser
amado por nós, nesta vida.[4] Nesta vida, não o podemos conhecer senão
por seus efeitos, ou seja, por sua criação, e só segundo isto, portanto, há de
ser apetecido ou amado.
• A criatura
racional é propriamente a única capaz de Deus, porque é a única que o pode amar
e conhecer explicitamente. Mas as demais criaturas participam de algum modo da
semelhança de Deus, e por isso a seu modo apetecem a Deus.
• Note-se porém
que para nós, nesta vida, a necessária
identidade entre Deus e o fim último do homem – ou seja, a felicidade ou
beatitude – não é evidente, ou seja, o homem não a reconhece necessariamente, ao contrário do que se dá, por exemplo, com o
fato de o quadrado ter lados e ângulos iguais ou com o de a soma de 1 + 1 ser
igual a 2: o reconhecimento deles pelo intelecto é de caráter necessitante. Com
efeito, diz Santo Tomás de Aquino: “Há bens particulares que não têm vinculação
necessária com a beatitude, porque se pode ser beato [bem-aventurado] sem eles.
A tais bens a vontade não adere necessariamente. Mas há outros bens que têm
vinculação necessária com a beatitude, ou seja, aqueles pelos quais o homem
adere a Deus, o único em que se encontra a verdadeira beatitude. Antes porém
que a necessidade dessa vinculação seja demonstrada pela certeza da visão da
divindade [a visão beatífica], a vontade não adere necessariamente a Deus nem
às coisas que são de Deus. Mas a vontade de quem vê a Deus por sua essência
adere necessariamente a Deus, assim como agora queremos necessariamente ser
felizes. É patente, portanto, que a vontade não quer necessariamente tudo o que
ela quer” (Suma Teológica, I, q. 82, a. 2).
Para que nesta vida se reconheça a identidade entre Deus e a felicidade do
homem, é preciso, antes de tudo, conhecer que Deus é, e, ademais, concluir por tal
identidade (o que muito ordinariamente depende da própria revelação divina);
ora, nem aquele conhecimento nem o objeto desta revelação são evidentes; logo,
nesta vida, nunca tal identidade se dará necessariamente.[5] Voltaremos
a este ponto.
(Continua.)
[1] Vide Santo Tomás de Aquino, De Verit. q. 22, a. 2; Super Sent. I,
d. 3, q. 1, a. 1, ad 2 e II, d. 1, q. 2, a. 1-2 ;
Cont. Gent. III, cap. 17-18;
Sum. Th. I, q. 6,
a. 1, ad 2 e q. 44, a. 4; Comp. Theol., cap. 100-101.
[2] Por exemplo, muitas conclusões da geometria se seguem
do princípio de que o todo é maior que a parte. Se pois se seguem deste
princípio, é porque este mesmo princípio se encontra nelas, assim como a causa
primeira se encontra na causa segunda.
[3] Ou seja, falando tecnicamente, resolvê-las em
princípios.
[4] Por isso, todavia, é amado em si mesmo pelos
que o veem por essência, ou seja, os homens e os anjos bem-aventurados. E, com
efeito, tanto mais se ama a Deus quanto mais se conhece a Deus mesmo. (Como se
verá, ademais, contra a equivocada opinião de Duns Scot, o bem-aventurado já
não pode pecar, porque seu intelecto já descansa na Verdade, e sua vontade já
está definitivamente fixada por uma caridade perfeita. Nesse sentido, o
bem-aventurado não apetece propriamente a Deus, senão que propriamente o ama.)
Por outro lado, nesta vida mais vale amar a Deus que conhecê-lo, e é justamente
segundo o grau deste amor que, na beatitude eterna, os bem-aventurados veem
mais ou menos perfeitamente a Deus. Nossa Senhora, por conseguinte, é o beato
humano que mais perfeitamente vê a Deus por essência.
[5] Cf. ainda para o tema, Santo
Tomás de Aquino, De veritate, X, 12, especialmente ad 5; XXII, 7; Suma contra os Gentios, I, I, 6 e 11; Suma Teológica, I, q. 2, a. 1, ad 1; I, q. 82, a. 1-2; etc. Em sentido
contrário, cf. por exemplo R. Garrigou-Lagrange, El realismo del principio de finalidad, op. cit., pp. 201-219; e Dios. I. Su
existencia, Madri, Ediciones Palabra, 1976, p. 240-270.
[1] Vide Santo Tomás de Aquino, De Verit. q. 22, a. 2; Super Sent. I,
d. 3, q. 1, a. 1, ad 2 e II, d. 1, q. 2, a. 1-2 ;
Cont. Gent. III, cap. 17-18;
Sum. Th. I, q. 6,
a. 1, ad 2 e q. 44, a. 4; Comp. Theol., cap. 100-101.
[2] Por exemplo, muitas conclusões da geometria se seguem
do princípio de que o todo é maior que a parte. Se pois se seguem deste
princípio, é porque este mesmo princípio se encontra nelas, assim como a causa
primeira se encontra na causa segunda.
[3] Ou seja, falando tecnicamente, resolvê-las em
princípios.
[4] Por isso, todavia, é amado em si mesmo pelos
que o veem por essência, ou seja, os homens e os anjos bem-aventurados. E, com
efeito, tanto mais se ama a Deus quanto mais se conhece a Deus mesmo. (Como se
verá, ademais, contra a equivocada opinião de Duns Scot, o bem-aventurado já
não pode pecar, porque seu intelecto já descansa na Verdade, e sua vontade já
está definitivamente fixada por uma caridade perfeita. Nesse sentido, o
bem-aventurado não apetece propriamente a Deus, senão que propriamente o ama.)
Por outro lado, nesta vida mais vale amar a Deus que conhecê-lo, e é justamente
segundo o grau deste amor que, na beatitude eterna, os bem-aventurados veem
mais ou menos perfeitamente a Deus. Nossa Senhora, por conseguinte, é o beato
humano que mais perfeitamente vê a Deus por essência.
[5] Cf. ainda para o tema, Santo
Tomás de Aquino, De veritate, X, 12, especialmente ad 5; XXII, 7; Suma contra os Gentios, I, I, 6 e 11; Suma Teológica, I, q. 2, a. 1, ad 1; I, q. 82, a. 1-2; etc. Em sentido
contrário, cf. por exemplo R. Garrigou-Lagrange, El realismo del principio de finalidad, op. cit., pp. 201-219; e Dios. I. Su
existencia, Madri, Ediciones Palabra, 1976, p. 240-270.
domingo, 19 de junho de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Novo curso (pago) de Carlos Nougué: «O melhor regime político segundo Santo Tomás (e o atual momento brasileiro)»
O Melhor Regime Político
segundo Santo Tomás
(e o atual momento brasileiro)
Curso on-line de
18 horas ministrado por
Carlos Nougué
“A felicidade última do
homem está na contemplação da Verdade.”
Santo
Tomás de Aquino
[Comunicado 1]
ABERTURA DAS
INSCRIÇÕES PARA O CURSO
1) A partir do dia 4
de julho próximo, estarão abertas as
inscrições para o curso on-line O Melhor Regime Político segundo
S. Tomás (e o atual momento brasileiro), de 18 horas, divididas em 12
aulas de cerca de uma hora e meia cada uma.
2) As inscrições far-se-ão em nosso site:
VALOR E FORMAS DE
PAGAMENTO
1) Valor total:
a) ou R$ 180,00 em até 6 parcelas sem juros no cartão de
crédito;
b) ou R$ 165,30 por pagamento à vista mediante débito on-line
ou boleto bancário.
Observação. O pagamento se fará, em
nosso próprio site, mediante o PagSeguro.
2) Ao pagarem, os alunos-subscritores receberão automaticamente
uma senha de acesso aos vídeos-aula e
à bibliografia; e aos que se inscreverem em julho enviar-se-á, no mesmo mês e ao endereço posto por eles mesmos no cadastro, o livro Estudos Tomistas – Opúsculos.
INÍCIO E DURAÇÃO DO
CURSO
1) O curso se iniciará no mesmo dia 4 de julho próximo.
2) Os alunos-subscritores terão acesso aos vídeos-aula durante um ano a contar da data de
inscrição.
EMENTA DO CURSO
I. Apresentação geral:
1. A Política segundo Santo
Tomás.
2. Ciência da Política e
Prudência Política.
II. Os regimes políticos segundo Santo Tomás.
1. A monarquia: virtudes e
dificuldades; sua corrupção: a tirania.
2. A aristocracia: virtudes e
dificuldades; sua corrupção: a oligarquia.
3. A politia (ou
democracia não democratista): virtudes e dificuldades; sua corrupção: a
democracia democratista.
Excurso: A democracia dos 400 mil de Edmund Burke.
4. Os regimes mistos.
5. O regime misto assinalado por Santo Tomás como a melhor forma de
regime.
III. A devida ordenação do
poder temporal ao espiritual.
IV. A política na Cristandade.
IV. O progressivo fim da cristandade e suas razões.
V. A revolução e suas etapas.
§ As sementes.
1. O Renascimento, Henrique VIII e a chamada Reforma.
2. O naturalismo, o
iluminismo e o liberalismo.
3. A Revolução Industrial Inglesa:
o cercamento dos campos e a ruína da família camponês-obreira.
Excurso: Se a economia pode pensar-se autonomamente.
4. A Revolução Francesa: o
esmagamento da monarquia e dos corpos intermediários, e da ordenação do poder
temporal ao espiritual – a Igreja sitiada.
5. Marx, a Primeira Guerra
Mundial e a Revolução Russa – a reação da Igreja e da Cristandade restante.
6. Antonio Gramsci; György
Lucácks e seu “Terrorismo Cultural”; o chamado neomarxismo da Escola de
Frankfurt: Max Horkheimer, Erich Fromm, Herbert Marcuse, Theodor W. Adorno, Jürgen
Habermas, Walter Benjamin, entre outros;
7. A Segunda Guerra Mundial, a consolidação
das democracias liberais, a expansão do comunismo.
8. O Concílio Vaticano II.
9. A vitoriosa revolução marcusiana – “É
Proibido Proibir” e “A Imaginação no Poder” – e a queda do Muro de Berlim.
VI.
O mundo atual e a
preparação para o advento do Anticristo: questões político-teológicas.
VII. O Brasil atual: a ruína do regime republicano-partidário,
e o crescimento do movimento monarquista.
CURRÍCULO DE CARLOS
NOUGUÉ
I. Dados pessoais:
Nome: Carlos (Augusto Ancêde) Nougué;
Nacionalidade: brasileira;
Idade: 64 anos.
II. Qualificações profissionais:
1) Professor de Filosofia e de Teologia por diversos lugares;
2) Professor de Tradução e de Língua Portuguesa em nível de pós-graduação;
3) Tradutor de Filosofia, de Teologia e de Literatura (do latim,
do francês, etc.);
4) Lexicógrafo.
III. Autor dos seguintes
livros:
• Suma Gramatical da
Língua Portuguesa – Gramática Geral e Avançada (São Paulo, É Realizações,
2015, 608 pp.);
• Estudos Tomistas –
Opúsculos (Formosa, Edições Santo Tomás; por sair este mês);
• Comentário à Isagoge
de Porfírio (Formosa, Edições Santo Tomás; por lançar-se);
• Comentário às Categorias
de Aristóteles (Formosa, Edições Santo Tomás; por lançar-se);
• Das Artes do Belo (São
Paulo, É Realizações; por lançar-se);
• A Necessidade da
Física Geral Aristotélica (São Paulo, É Realizações; por lançar-se como
estudo introdutório da tradução do Comentário de Santo Tomás à Física de
Aristóteles).
• Do Papa Herético (Formosa, Edições Santo Tomás; por lançar-se).
IV. Outros cursos on-line ministrados por Carlos Nougué:
V. Responsável pelas seguintes páginas web:
• Estudos Tomistas (www.estudostomistas.com.br);
• A Boa Música (www.aboamusica.com.br).
Observação
geral.
Há em nosso site uma seção chamada Perguntas
Mais Frequentes (F.A.Q.), em que cremos responder a todas as possíveis dúvidas a
respeito do Curso. Caso, porém, persista alguma dificuldade, escreva-se a Marcel Barboza (cursos@carlosnougue.com.br).
CAPA DO LIVRO ESTUDOS TOMISTAS – OPÚSCULOS
Uma iniciativa conjunta
Central de Cursos Contemplatio
Associação Cultural Santo Tomás
quinta-feira, 16 de junho de 2016
A liberdade segundo Santo Tomás (I): «Se todas as coisas apetecem o bem»
C. N.
(exposição)
Se todas as coisas apetecem o bem[1]
Efetivamente,
todas as coisas apetecem o bem. E insista-se: todas as coisas, não só as que conhecem
de qualquer maneira, mas ainda as desprovidas de todo e qualquer conhecimento. Se
assim não fosse, como o prova Aristóteles no livro II da Física, tudo se daria ou se produziria por acaso. Ora, o que se
produz por acaso só se dá poucas vezes e não se repete com regularidade alguma;
mas, ao olharmos o mundo, constatamos facilmente que tudo se produz o mais das
vezes com repetição regular. Se assim é, é necessário dizer que todas as coisas se ordenam e se dispõem como
a um fim, porque a regularidade com que se produzem não poderia dar-se se não
se ordenassem a um fim e, portanto, se não o apetecessem.
Pois bem,
as coisas ordenam-se ou dirigem-se a um fim de duas maneiras: antes de tudo, por
si mesmas, assim como o homem se dirige por si mesmo a determinado lugar; depois,
enquanto movidas por outro, assim como a flecha é atirada pelo arqueiro a
determinado lugar. Ora, só as coisas que conhecem de algum modo podem dirigir-se
por si mesmas a um fim, enquanto, insista-se, as coisas que não conhecem têm de
ser dirigidas ou ordenadas por outro, que justamente conhece aquilo a que as
dirige ou ordena. Desse modo, ainda que necessitem ser ordenadas por outro, também
as coisas que não conhecem podem ser dirigidas a um fim determinado. Isto, porém, se dá de dois modos. Às vezes a coisa que
é dirigida a um fim é tão somente lançada ou movida pelo que a lança, sem
receber nenhuma forma que a faça inclinar-se ou tender naturalmente a tal fim. Por
isso se diz que a inclinação dada pelo arqueiro à flecha para que esta atinja o
alvo é uma inclinação violenta. Às
vezes, todavia, aquilo que é dirigido ou inclinado a um fim recebe do que o
dirige ou inclina uma forma pela qual essa inclinação lhe convém naturalmente: assim como Deus deu à
pedra a inclinação natural a ser
atraída pela terra, ao contrário do que fez ao fogo, que naturalmente se eleva e
não é atraído pela terra. Desse modo, portanto, todas as coisas naturais se inclinam ou se ordenam naturalmente ao que lhes convém, de maneira
que de certo modo alcançam por si
mesmas seu respectivo fim: ou seja, não são pura e simplesmente conduzidas,
como se dá com a flecha por inclinação violenta.
Em outras palavras, as coisas naturais, graças a princípios naturais postos nelas
por Deus, como que cooperam com aquele que as inclina ou ordena, ou seja, Deus
mesmo. Com efeito, a natureza é o efeito de certa arte divina intrínseco aos
entes que os faz mover-se por si mesmos a seu fim.
Assim, o que
é ordenado ou inclinado por outro a um fim é inclinado a algo que está na intenção
daquele que o inclina ou dirige: com efeito, a flecha é atirada para o alvo mesmo
que está na intenção do arqueiro. Mas
todas as coisas naturais, mediante certa inclinação natural, são inclinadas ou
ordenadas a seu fim pelo primeiro motor, que é Deus, razão por que é necessário
que aquilo a que cada coisa natural naturalmente se inclina seja algo querido
por Deus mesmo, algo que esteja em sua intenção.
Sucede porém que, em sua vontade, Deus não tem outro fim que a si mesmo, não
apetece senão a si mesmo, e, porque ele é a própria bondade ou a essência mesma
da bondade, é necessário que todas as outras coisas sejam naturalmente inclinadas
ao bem: e dizer bem é dizer fim. Ora, apetecer não é senão inclinar-se a algo e
ordenar-se a este algo. Por conseguinte, porque todas as coisas são dirigidas
ou ordenadas por Deus ao bem, mediante algum princípio posto nelas por Deus e graças
ao qual tendem por si mesmas ao bem, deve dizer-se que toda e qualquer coisa
apetece naturalmente o bem. Com efeito, se as coisas fossem inclinadas ao bem sem
ter em si nenhum princípio para tal inclinação, poderíamos dizer que seriam
conduzidas ao bem, mas não que apetecessem o bem. Mas, em razão do princípio
intrínseco que receberam de Deus, diz-se que todas as coisas apetecem o bem, justamente enquanto
tendem espontaneamente a ele.
Por isso
se diz em Sabedoria 8, 1 que a sabedoria divina «dispõe todas as
coisas com suavidade», o que é o mesmo que dizer que todas as coisas tendem por
seu próprio movimento àquilo mesmo a que são ordenadas por Deus.
(Continua.)
[1] Vide Santo Tomás de Aquino, De Verit. q. 22, a. 1; Super Sent. I, d. 34, q. 2, a. 1, ad 4 e IV,
d. 49, q. 1, a. 2, qc. 1 ; supra q. 21, a. 2; Cont. Gent. III, cap. 3; Super Dion. De div. nom., cap. 4,
l. 3 e 9; Sum. Th. I, q. 5, a. 1 e a. 2, ad 1; Super Ethic. I, l. 1.
[1] Vide Santo Tomás de Aquino, De Verit. q. 22, a. 1; Super Sent. I, d. 34, q. 2, a. 1, ad 4 e IV,
d. 49, q. 1, a. 2, qc. 1 ; supra q. 21, a. 2; Cont. Gent. III, cap. 3; Super Dion. De div. nom., cap. 4,
l. 3 e 9; Sum. Th. I, q. 5, a. 1 e a. 2, ad 1; Super Ethic. I, l. 1.
quarta-feira, 15 de junho de 2016
La vraie religion reconnue à ses fruits (Domincains d'Avrillé)
http://www.dominicainsavrille.fr/la-vraie-religion-reconnue-a-ses-fruits/
domingo, 12 de junho de 2016
Gemelação univitelina (um argumento que sempre aparece no debate sobre o aborto)
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Após a fecundação do óvulo pelo
espermatozoide, surge um novo indivíduo, um embrião unicelular chamado ovo ou
zigoto. Na quase totalidade das vezes, o zigoto desenvolve-se passando pelas
fases de mórula, blástula, gástrula etc... rumo a um indivíduo humano adulto.
Mas em um em cada 250 zigotos que se desenvolvem[1], ocorre a gemelação
monozigótica ou univitelina, ou seja, o embrião primitivo sofre uma
espécie de “divisão” e dá origem a dois ou mais indivíduos humanos. Ora,
argumenta Josef Donceel, “uma pessoa humana não se divide em duas ou mais
pessoas”[2]. Logo, segundo
ele, o zigoto não poderia ser uma pessoa humana. Não teria uma alma racional e
espiritual.
Esse argumento foi usado insistentemente (e
quase obsessivamente) por Norman Ford, a fim de negar a tese da criação e
infusão da alma racional no momento da fecundação do óvulo pelo espermatozoide
(tese da animação imediata): “Quando o zigoto forma gêmeos, cessa a
continuidade do mesmo indivíduo. Como indivíduo ontológico, o zigoto não pode
considerar-se idêntico a nenhum dos dois gêmeos que se formam por efeito do seu
desenvolvimento”[3].
Essa conclusão Ford estende a quaisquer das
duas células (blastômeros) originárias da primeira mitose do zigoto, haja ou
não gemelação: “o zigoto não sobrevive à primeira divisão mitótica,
independentemente do fato de que depois haja ou não uma divisão gemelar”[4].
A primeira mitose seria. então, uma espécie de
suicídio, de cujo cadáver emergiriam dois novos indivíduos sem continuidade com
o primeiro. Essa ideia, porém, suscita dificuldades:
1. Em que momento o zigoto “morre” e os dois
blastômeros passam a “viver”?
2. Quem controla o processo da mitose: o
zigoto moribundo ou os blastômeros recém-chamados à vida?
3. Onde estão os sinais de descontinuidade
semelhantes ao “big bang” da fertilização?[5]
A primeira mitose é realmente uma “divisão” do zigoto?
Angelo Serra, ao descrever sucintamente o
desenvolvimento embrionário humano, fala da fusão dos gametas, mas evita
falar em “divisão” do zigoto. Diz que do zigoto se forma uma segunda célula:
O primeiro evento na formação de um novo
indivíduo humano é a fusão de duas células altamente especializadas e
programadas, o óvulo e o espermatozoide, através do processo de fertilização. A
célula que dele resulta no próprio momento da fusão é chamada “zigoto” e com
ela inicia o desenvolvimento embrionário de um novo ser humano. Nela se
desenvolvem de modo altamente coordenado processos diversos que em 15-20 horas
levam à formação de uma segunda célula[6].
Quem melhor rebate o argumento de Ford, porém,
é John Billings, aquele que, com sua esposa Evelyn Billings, sistematizou o
célebre método de regulação da procriação baseado na observação do muco
cervical. Vejamos como ele rebate Ford:
Na divisão celular a célula não quebra nem seu
material genético é ‘compartilhado’; o DNA dos cromossomas produz uma réplica
de si e essa réplica é dada, junto com uma porção do citoplasma, para a nova
célula. A célula original não deixou de existir absolutamente[7].
É assim que Billings responde ao argumento de
que “o zigoto não sobrevive à primeira divisão mitótica”. Mas então parece que
é impróprio falar de “divisão” celular. Melhor seria talvez dizer “replicação”
celular, ou seja, a produção de uma célula (réplica) a partir de outra célula
(original). Vejamos agora como Billings explica a formação de gêmeos.
Se o citoplasma doado é tal que faça a nova
célula totipotente, ela pode desenvolver-se como um gêmeo, ou mesmo, de igual
maneira, produzir mais pessoas geneticamente idênticas. Novamente, as células
progenitoras não cessam de existir. Com o tempo a formação de um outro
indivíduo não é mais possível; as células adaptam-se a seus específicos papéis
quando o crescimento e o desenvolvimento prosseguem. A identidade do zigoto
como um ser humano, uma pessoa humana que continua a existir, nunca foi
comprometida[8].
O momento da criação da alma racional
Ordinariamente a geração humana se dá pela
fusão dos dois gametas. A criação e infusão da alma humana ocorrem no instante
em que os gametas deixam de existir enquanto tais e surge um novo indivíduo
humano. Esse instante está contido no evento da penetração espermática.
A gemelação monozigótica é um modo
excepcional (assexuado) de geração humana. Em tal caso, a criação da alma se dá
no momento em que uma parte se separa do embrião primitivo e torna-se um novo
indivíduo humano.
Conclui-se daí que dois gêmeos univitelinos
não são “irmãos” entre si. Um deles (não sabemos qual) é pai (ou mãe) do outro.
O gêmeo pai (ou mãe) teve origem no momento da fecundação. O gêmeo filho (ou
filha) originou-se no momento em que se separou do gêmeo pai (ou mãe).
Anápolis, 9 de junho de 2016.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
[2] Joseph DONCEEL, “Immediate animation and
delayed hominization”, Theological Studies 31/1 (1970), p. 98.
[3] Norman FORD, Quando comincio io? Il
concepimento nella storia, nella filosofia e nella scienza, Baldini &
Castoldi, Milano 1997, p. 184-185 (tradução italiana de When did I begin?
Conception of the human individual in history, philosophy and science,
Cambridge University Press, Cambridge 1988).
[5] No momento da fusão dos gametas (fertilização) há vários sinais que
indicam descontinuidade ou salto: a “onda de cálcio” no citoplasma do zigoto, a
“reação cortical” para evitar a penetração de novos espermatozoides, a expulsão
do segundo glóbulo polar, a formação dos pronúcleos e a duplicação do DNA.
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