C. N.
1) Antes de mais, a Lógica ocupa-se dos atos das duas operações da razão enquanto intelecto (a simples apreensão ou inteligência dos incomplexos, e a composição intelectual), estudados respectivamente nas Categorias ou Predicamentos (com o acréscimo, posterior, do porfiriano Isagoge ou Tratado dos Predicáveis) e no Perihermeneias do Estagirita;
2) depois,
ocupa-se dos atos da operação da razão
enquanto razão (ou seja, os atos em que se vai do conhecido ao
desconhecido), os quais por sua vez também se subdividem:
•
em discurso sempre verdadeiro (ou seja, sua parte
judicativa e resolutiva ou analítica), o qual depende
tanto da figura do silogismo – tratada nos Primeiros
Analíticos – como das relações de necessidade dos conceitos, na demonstração – tratada nos Segundos
Analíticos;
•
em discurso provável ou parte inventiva, que, com
gradação de maior para menor certeza, se subdivide ainda em a) dialética [ou
seja, a fé (não a teologal) e a opinião], b) suspeita de verdade e c) indução
por sentimento, estudadas respectivamente nos Tópicos, na Retórica
e na Poética;
•
e, por fim, em discurso falso com aparência de verdade, tratado nas Refutações
Sofísticas.
Observem-se
duas coisas importantes:
1)
o ordo compositionis obriga a considerar as três operações da
razão, como acima, em sua ordem própria;
2)
pareceria que a ordem pedagógica acima exposta estivesse invertida, porque o
homem de fato só pouco a pouco se aproxima da ciência, ou seja, vai do falso ao
apodíctico passando pelo verossímil; sucede porém que o ordo
sustentationis e pois a ordem pedagógica não podem senão ir, ao
contrário, do perfeito ou necessário ao imperfeito e ao falso.[1]
[1] Com efeito, não se poderia precisar, por
exemplo, se um argumento é mais ou menos verossímil se não se soubesse qual é o
argumento verdadeiro, que sempre será a régua ou regra com que se mede
aquele.