PERGUNTA DO ALUNO
Professor,
eu não entendi o porquê de não ser prova a redução por absurdo.
Na matemática não a usamos? Se alguém disser: A verdade não existe. Outro
responde: Esta sua afirmação é falsa ou verdadeira. Se falsa, prova-se (?) a
verdade existe; se a afirmação for verdadeira, prova-se (?), está aí a única
verdade, logo a verdade existe. Não podemos considerar esta argumentação como
prova de que a verdade existe?
RESPOSTA DO PROFESSOR.
Importante pergunta. Respondo-lhe por partes.
1) Antes de tudo, o que é evidente não pode ser provado. Para
entendê-lo, comece-se por dizer que o raciocínio pode cumprir duas funções.
a) Uma dessas duas funções é descobrir uma verdade desconhecida (e pois
não evidente): S (o sujeito) é C (com a causa) e C (a causa) é P (com a propriedade),
razão por que S é P. Trata-se da função inventiva
do raciocínio.
b) A outra dessas duas funções é demonstrar uma
verdade conhecida (mas não evidente): S é P porque S é C e C é P. Passa-se
assim de uma verdade conhecida por simples atribuição à mesma verdade, mas
conhecida por sua causa. Tem-se aqui a análise
ou resolução da proposição em outras
duas, com o que se manifesta a causa. Trata-se da função judicativa do raciocínio, em que se julga a verdade da atribuição.
2) Por outro ângulo, podemos ter raciocínios que
provem algo segundo o modo propter quid,
ou seja, da causa conhecida para o efeito; e podemos ter raciocínios segundo o
modo quia, ou seja, do efeito para a causa
desconhecida (que é como se prova a existência de Deus e da alma espiritual).
3) Ora, nada disto se dá na reductio ad absurdum (redução ao absurdo). Veja que, no caso citado
por você, não se raciocina segundo nenhuma das duas funções indicadas no item
1, nem se prova a existência da verdade segundo nenhum dos modos indicados no
item 2; mas tão somente se mostra que negar esta evidência (ou seja, que existe
a verdade) implica incorrer em absurdo. Com isto, insista-se, não se prova a
existência da verdade, mas tão somente se defende a verdade de uma objeção que,
como mostramos, é absurda.
4) Com efeito, que A não é não A ao mesmo tempo nem pelo mesmo aspecto,
que eu sou eu e tu és tu e que a verdade existe são evidentes, são
autoevidentes, e por isso mesmo improváveis.
(Note-se que “evidente” vem do lat.
evĭdens, ēntis, “visível, aparente; claro, manifesto; digno de
crédito”; part. pres. de evidĕor, ēris, ēri, “parecer inteiramente”.)
5) Chamar à reductio
ad absurdum prova é pois expressar-se não propriamente.