PERGUNTA DO ALUNO
Gostaria
de ter a sua explicação para a seguinte afirmação encontrada no livro do Padre
Edouard Hugon O.P.(Principes de Philosophie - Les Vingt-Quatre Theses
Thomistes), tradução EDIPUCRS. (As teses que dão origem à cosmologia tomista são
as teses de VIII à XII: VIII e IX sobre a matéria e a forma; X sobre a
quantidade; XI sobre o principio de individuação e XII sobre lugar.)
PERGUNTA:
Após
apresentar as teses VIII à XII, o Padre Hugon afirma o seguinte: "ESSAS
DOUTRINAS TOMISTAS SOBRE O HILEMORFISMO E SOBRE O PRINCÍPIO DE INDIVIDUAÇÃO SÃO
A REFUTAÇÃO PEREMPTÓRIA AO PANTEISMO SOB TODAS AS SUAS FORMAS".
RESPOSTA DO PROFESSOR
Para o panteísmo em todas as suas formas,
Deus e o universo são, de algum modo,
uma só coisa, uma só substância (ainda
no panteísmo brâmane ou vedista, no qual a alma dos homens ou atmã é uma
fagulha de Brama, deus ígneo). Como porém o prova o aristotelismo-tomismo, o
universo é composto de múltiplas substâncias efetivamente individuais, enquanto
Deus, conquanto seja a Substância e o maximamente indivíduo,
não entra no gênero das substâncias, porque, lembre-se, está acima de tudo,
transcende a todas as séries, a todos os gêneros e espécies, a todo o universo.* No mundo sensível as substâncias são
compostas de forma e de matéria, e precisamente são substâncias individuais
pela composição hilemórfica: com efeito, são indivíduos graças à matéria assinalada ou delimitada pela
quantidade, e são substâncias pela forma
substancial que justamente a informa
ou enforma. Mas, se se trata de verdadeiros indivíduos (você, eu, aquela
estrela, este cão, essa árvore, etc.), então é impossível o panteísmo: porque o
panteísmo supõe de algum modo que só exista uma substância individual – o deus-universo.
Observação. Uma das formas mais radicais de
panteísmo deu-se na Idade Média, com a identificação de Deus com a matéria
prima ou primeira.
*
Como diz Santo Tomás, substância tem
dois sentidos. Primeiro, substância é o que subsiste por si, o que implica a
individualidade. Segundo, substância é o que está sob acidentes, ou seja, o que
é suporte ou sujeito de acidentes. Ora, Deus não é sujeito de acidentes. Logo,
conquanto subsista por si – e subsiste por si simpliciter ou absolutamente, enquanto os demais entes só o fazem secundum quid, por certo aspecto –, Deus
não entra no gênero das substâncias.