Carlos Nougué
Foi o biólogo e bioquímico russo Aleksandr Oparin (1894-1980) quem formulou a hipótese heterotrófica para o surgimento
da vida. Eis a sequência desta hipótese.
1) Os gases da atmosfera primitiva – hidrogênio, vapor d’água, amônia e
metano – foram submetidos a descargas elétricas das tempestades que se davam
sobre a Terra e a uma intensa radiação ultravioleta vinda do Sol.
2) Nos oceanos primitivos se formaram compostos: aminoácidos, açúcares, ácidos
nucleicos e ácidos graxos.
3) Estes compostos formaram os primeiros agregados de moléculas: os coacervados.
4) Interagindo entre si e com o ambiente, os coacervados evoluíram para
formas mais complexas, uns agregados com membrana, ou seja, os primeiros seres
vivos.
5) Tais agregados evoluíram até constituir as células primitivas. Como
porém na atmosfera primitiva ainda não havia gás carbônico, os primeiros seres
vivos não eram capazes de produzir alimento através da fotossíntese. Por isso,
tais seres vivos eram heterótrofos –
ou seja, que não produzem o próprio alimento. Tampouco havia oxigênio, razão
por que tais seres vivos eram “anaeróbios” – ou seja, que não respiram
oxigênio.
6) Os heterótrofos anaeróbicos, por serem fermentadores, liberaram gás carbônico na atmosfera de então.
7) Formado o gás carbônico, deram-se as condições para o surgimento dos
seres autótrofos fotossintetizantes.
8) Em razão da reação de fotossíntese, os primeiros autótrofos liberaram
gás oxigênio na atmosfera.
9) O oxigênio permitiu o surgimento dos primeiros heterótrofos aeróbios
– ou seja, que respiram oxigênio. Tais heterótrofos eram ainda unicelulares.
10) Os unicelulares fizeram-se cada vez mais complexos, até
transformar-se em pluricelulares, que acabaram por conquistar, depois de muitos
milhões de anos, a Terra.
Esta é a
hipótese, e hipótese anticientífica. O mais das vezes mera petição de princípio
– como se pode ver, “explica” a evolução pela própria e suposta evolução –, é tão
anticientífica como as correlatas hipóteses de Anaximandro e, sobretudo, de Empédocles
(a de que as partes dos animais se teriam formado antes dos próprios animais).
Quanto às supostas provas da teoria de Oparin – por experiências dos
norte-americanos Stanley Miller e Harold Urey, por um lado, e de Sidney Fox,
por outro, na década de 1950 –, resumem-se a isto.
Muller e Urey puseram num balão de vidro metano, amônia, hidrogênio e
vapor d’água, e submeteram a mistura a aquecimento prolongado. Uma centelha
elétrica de alta tensão cortava continuamente o ambiente onde estavam contidos
os gases. Ao fim de certo tempo, comprovou-se o aparecimento de moléculas de
aminoácidos no interior do balão.
Depois, Sidney Fox submeteu uma mescla de aminoácidos secos a
aquecimento também prolongado e viu que reagiam entre si, formando cadeias
peptídicas semelhantes às encontradas nas proteínas.
Pois bem, onde está a prova laboratorial do surgimento da vida, ou seja,
do primeiro ente vivente? Como se juntaram tais cadeias para constituir ao fim
de um misterioso processo o primeiro ente vivo? É impossível não ver, insista-se, que tais “provas”
não são científicas. Volte-se aos itens 4, 7,
9 e 10 acima: como se deu o que ali
se afirma? (Ressaltam-se estes itens tão só por serem ainda mais improváveis
que os demais.) – As palavras “evolução” e “evoluir” são a única explicação,
como já dito. São como palavras mágicas,
que se pretendem substituir a uma verdadeira explicação científica.