PERGUNTA
1 DO ALUNO. Que comentários
teria a fazer sobre a Neoescolástica? Ouve-se falar que foi um renascimento ou
atualização da escolástica medieval que foi rejeitada pelos modernos por
julgarem que a física e metafísica medievais foram ultrapassadas pela Ciência
Moderna. Então a Neoescolástica surgiu para conciliar a metafísica, a filosofia
medievais com as novas descobertas da Ciência Moderna.
RESPOSTA DO PROFESSOR. Desculpe-me, mas não saberia responder a isso.
Se se trata porém do Neotomismo, sim, posso fazê-lo. Foi resultado da
determinação do Papa Leão XIII de que a doutrina de Santo Tomás ocupasse o
lugar que nunca deveria ter deixado de ocupar: o de Doutrina Comum da Igreja.
E, em princípio, nada teve que ver com as descobertas da chamada “ciência
moderna”. Mas falo largamente no curso sobre este assunto, ou seja, antes de
tudo, o das ciências ditas modernas e sua anticientificidade (excetuada a
Física moderna, que tende a ser ciência
média entre a Física Geral e a Matemática) e, depois, sobre a incapacidade de
muitos aristotélicos e de alguns tomistas de assimilar como devido suas
descobertas válidas. Isto último se deveu, de modo geral, a uma inadequada
dogmatização da Cosmologia aristotélica. Mas deu-se também, agora entre os neotomistas,
o oposto de tal dogmatização: ou seja, uma concessão indevida a certas “descobertas”
das ditas ciências, como, por exemplo, a de que se deva medir o tempo pelo
atômico ou subatômico, ou as do Evolucionismo – que de fato nada têm de
provadas nem de científicas. Mais: definitivamente não está provado que a Terra
não seja o centro físico do universo. Aliás, como para medir o centro de algo é
preciso compreender visual ou intelectualmente este algo em toda a sua
amplitude e limites, e como obviamente parece impossível ao homem fazê-lo algum
dia, resulta portanto que se trata de questão em princípio insolúvel.
PERGUNTA
2 DO ALUNO. Que comentários ou
crítica o senhor faria sobre a obra O Mestre de Santo Agostinho?
RESPOSTA DO PROFESSOR. Por partes.
a) Antes de tudo, não
sou eu quem faz tais comentários ou crítica, mas o mesmo Santo Tomás, e com
toda a verdade.
b) Pois bem, por sua
teoria da “iluminação divina”, segundo a qual, em resumo, o homem só alcança
verdades por uma luz dada sempre extrinsecamente por Deus, conclui o
grande Doutor de Hipona que o magister
ou professor não tem senão de ajudar o aluno a extrair de sua mesma mente
aquilo que Deus já lhe infundiu pela referida iluminação. Corrigia assim Santo
Agostinho a tese da reminiscência de Platão (e lembre-se que Santo Agostinho
era filosoficamente platônico), tese insustentável para a Fé, porque pressupõe
a preexistência da alma ao composto humano.
c) Corrige por seu lado
Santo Tomás a Santo Agostinho, do seguinte duplo modo:
• Deus nos dá, sim, uma
luz intelectual, mas diferentemente de como pensava o Bispo de Hipona: dá-nos o
intelecto agente, que por abstração das imagens sensíveis ou fantasmas imprime,
em nosso intelecto possível, as espécies inteligíveis. São estas espécies as
que reduzem a ato o intelecto possível, que a partir de então pode operar por
si. – Tal luz agente é que, sim, é verdadeira participação na Luz divina: é um
autêntico selo do Intelecto divino no nosso.
• Se assim é, é porque
nossa alma, ao contrário do que criam os platônicos, vem ao mundo como uma tabula rasa, razão por que o papel do magister ou professor não é fazer o
aluno rememorar o que de algum modo já sabe, mas ajudá-lo ativamente a
preencher, e da maneira mais adequada, aquela tabula ou lousa em branco.