quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Neotomismo; e o Magister de Sto. Agostinho (em resposta a perguntas de aluno do curso Por uma Filosofia Tomista)


PERGUNTA 1 DO ALUNO. Que comentários teria a fazer sobre a Neoescolástica? Ouve-se falar que foi um renascimento ou atualização da escolástica medieval que foi rejeitada pelos modernos por julgarem que a física e metafísica medievais foram ultrapassadas pela Ciência Moderna. Então a Neoescolástica surgiu para conciliar a metafísica, a filosofia medievais com as novas descobertas da Ciência Moderna.

RESPOSTA DO PROFESSOR. Desculpe-me, mas não saberia responder a isso. Se se trata porém do Neotomismo, sim, posso fazê-lo. Foi resultado da determinação do Papa Leão XIII de que a doutrina de Santo Tomás ocupasse o lugar que nunca deveria ter deixado de ocupar: o de Doutrina Comum da Igreja. E, em princípio, nada teve que ver com as descobertas da chamada “ciência moderna”. Mas falo largamente no curso sobre este assunto, ou seja, antes de tudo, o das ciências ditas modernas e sua anticientificidade (excetuada a Física moderna, que tende a ser ciência média entre a Física Geral e a Matemática) e, depois, sobre a incapacidade de muitos aristotélicos e de alguns tomistas de assimilar como devido suas descobertas válidas. Isto último se deveu, de modo geral, a uma inadequada dogmatização da Cosmologia aristotélica. Mas deu-se também, agora entre os neotomistas, o oposto de tal dogmatização: ou seja, uma concessão indevida a certas “descobertas” das ditas ciências, como, por exemplo, a de que se deva medir o tempo pelo atômico ou subatômico, ou as do Evolucionismo – que de fato nada têm de provadas nem de científicas. Mais: definitivamente não está provado que a Terra não seja o centro físico do universo. Aliás, como para medir o centro de algo é preciso compreender visual ou intelectualmente este algo em toda a sua amplitude e limites, e como obviamente parece impossível ao homem fazê-lo algum dia, resulta portanto que se trata de questão em princípio insolúvel.      

PERGUNTA 2 DO ALUNO. Que comentários ou crítica o senhor faria sobre a obra O Mestre de Santo Agostinho?


RESPOSTA DO PROFESSOR. Por partes.
a) Antes de tudo, não sou eu quem faz tais comentários ou crítica, mas o mesmo Santo Tomás, e com toda a verdade.
b) Pois bem, por sua teoria da “iluminação divina”, segundo a qual, em resumo, o homem só alcança verdades por uma luz dada sempre extrinsecamente por Deus, conclui o grande Doutor de Hipona que o magister ou professor não tem senão de ajudar o aluno a extrair de sua mesma mente aquilo que Deus já lhe infundiu pela referida iluminação. Corrigia assim Santo Agostinho a tese da reminiscência de Platão (e lembre-se que Santo Agostinho era filosoficamente platônico), tese insustentável para a Fé, porque pressupõe a preexistência da alma ao composto humano.
c) Corrige por seu lado Santo Tomás a Santo Agostinho, do seguinte duplo modo:
• Deus nos dá, sim, uma luz intelectual, mas diferentemente de como pensava o Bispo de Hipona: dá-nos o intelecto agente, que por abstração das imagens sensíveis ou fantasmas imprime, em nosso intelecto possível, as espécies inteligíveis. São estas espécies as que reduzem a ato o intelecto possível, que a partir de então pode operar por si. – Tal luz agente é que, sim, é verdadeira participação na Luz divina: é um autêntico selo do Intelecto divino no nosso.
• Se assim é, é porque nossa alma, ao contrário do que criam os platônicos, vem ao mundo como uma tabula rasa, razão por que o papel do magister ou professor não é fazer o aluno rememorar o que de algum modo já sabe, mas ajudá-lo ativamente a preencher, e da maneira mais adequada, aquela tabula ou lousa em branco.