quarta-feira, 17 de junho de 2015

Estátua de Apolo; Inteligência artificial; etc. (em resposta a perguntas de aluno do curso Por uma Filosofia Tomista)


RESPOSTAS DO PROFESSOR
NO CORPO DO E-MAIL DO ALUNO

I) No exemplo de uma estátua de Apolo esculpida por um escultor: a figura externa de Apolo que o escultor esculpiu não é uma forma acidental no sentido metafísico da palavra, ou seja, não há causa formal ou principio metafisico constitutivo?

RESPOSTA. Sim, toda e qualquer forma artística, a forma de qualquer artefato é uma forma acidental: assim, um Apolo de mármore é uma forma acidental do mármore, que por sua vez tem forma substancial. – Mas sua causa formal é a mente do artista; e a quididade da estátua está tanto na mente no artista como na mente de quem contempla a estátua, não nesta mesma.

II) Os estudos feitos sobre a inteligência artificial atualmente no MIT nos Estados Unidos podem produzir um artefato com um software que simule aproximadamente as três operações do intelecto humano?


RESPOSTA. Não conheço tais estudos. Estou certo porém de que, se podem simulá-las, não podem igualar as operações de nosso intelecto. Em que sentido o digo? No sentido de que, como os robôs e os computadores, tal inteligência não poderá ser senão uma espécie de extensão de nós, como o são aliás os instrumentos e as máquinas mecânicas; e, como estes, sempre dependerão não só da fabricação do próprio homem, mas de sua operação. E por que não as podem igualar? Porque as três operações de nosso intelecto são operações de uma alma espiritual, e só Deus pode infundir uma alma espiritual – e, ainda assim, é preciso um corpo informado por ela e ordenado a ela. Pode imaginar-se (fora da literatura) um asno com alma espiritual? Ou se requerem para tê-la todos os atributos do corpo humano (bipedalidade, postura ereta, certa configuração do tronco e dos membros, a complexidade e o tamanho do cérebro, sentidos externos e internos predisponentes para a intelecção, a capacidade da fala com seu respectivo aparelho fonador, etc.)? Pois, se não se pode admitir um asno espiritual, muito menos se pode admitir uma máquina verdadeiramente intelectual.  

III) Os inimigos da Escolástica dizem que toda a energia da Idade Média foi dirigida para o intelecto especulativo, daí o grande atraso nas ciências naturais. O que o Senhor pensa a respeito? Na minha opinião atualmente não existem grandes teóricos da ciências, os prêmios conferidos aos cientistas são por descobertas atinentes mais a experiências do que à pura ciência.

RESPOSTA. Divido-a:
a) Antes de tudo, as ciências ditas modernas, se de fato são ciências (o que discutiremos, em nosso curso, na Introdução à Física Geral), são-no num sentido preciso: são ramos da Física Geral. Quanto à Física moderna, tende a constituir uma ciência média e matemática, como já o previra Santo Tomás de Aquino.

b) Mas atenção: tais ciências são tão especulativas como o são a Física Geral, a Matemática e a Metafísica. Qual o contrário de especulativo? Prático. Pois bem, ciências práticas são a Ética e a Política (enquanto a Medicina, a Engenharia, a Música... são artes em diversos sentidos). Por isso mesmo é que ser experimental não pode ser o contrário de especulativo. Sucede apenas que as referidas ciências modernas (e se se quiser experimentais), se forem ciências, serão ramos da Física Geral, como já dito e como veremos no curso.