I) Antes de tudo, deem-se exemplos atinentes às quatro
espécies de causas:
1) Por que o homem é corruptível? Porque é corpóreo, porque tem corpo (causa material).
2) Por que o homem é político? Porque é racional, porque é dotado de razão (causa formal).
3) Por que o homem deve louvor a Deus? Porque deus lhe deu o ser e o mantém no ser (causa
eficiente).
4) Por que o homem deve agir virtuosamente? Porque seu fim é o bem universal, a felicidade última
(causa final).
II) Desenvolvamos porém tais respostas:
1) Por que o homem é corruptível? O homem é corruptível
porque é corpóreo e todo ente corpóreo é corruptível.
2) Por que o homem é político? O homem é político porque
é racional e é próprio do ente racional aperfeiçoar-se numa pólis ou
sociedade.
3) Por que o homem deve louvor a Deus? O homem deve
louvor a Deus porque recebe dele o ser e tudo o que recebe dele o ser
lhe deve (de algum modo) louvor.
4) Por que o homem deve agir virtuosamente? O homem deve
agir virtuosamente porque seu fim é o Bem universal e todo aquele que se
ordena ao Bem universal há de agir segundo a virtude.
III) Insistamos ainda nesta estrutura mental, atendo-nos
agora ao que antecede à conclusão de que o homem é corruptível, à de que o
homem é político, à de que o homem deve louvor a Deus e à de que o homem deve
agir virtuosamente.
1) Na primeira enunciação que antecede a tais conclusões,
assinala-se que a causa pertence ou é pertinente ao Sujeito:
a) dizendo “porque é corpóreo”, indica-se, como vimos no
item I acima, que o corpo é a causa
material do homem;
b)
dizendo “porque é
racional”, indica-se que a razão é a causa
formal do homem;
c)
dizendo “porque
recebe de Deus o ser”, indica-se que Deus é a causa eficiente
do homem;
d)
e, dizendo “porque
seu fim é o Bem universal”, indica-se que o Bem universal é a causa final
do homem.
2)
Na segunda
enunciação que antecede a tais conclusões, assinala-se que a Propriedade se
segue da Causa:
a)
a corruptibilidade
se segue de ter corpo, de ser corpóreo;
b)
a politicidade se
segue de ter razão, de ser racional;
c)
o dever de louvar a
Deus se segue de ter a Deus como dador de seu ser;
d)
o agir virtuosamente
se segue de ter por fim o Bem universal.
*
* *
IV)
O SIGNO oral ou
escrito da argumentação (ou seja, da obra do raciocínio) consiste
precisamente em apresentar em certa ordem as duas proposições antecedentes e a
consequente, com o auxílio de certos adjetivos determinativos e de certas
conjunções. Vejamo-lo.
1)
Insista-se,
antes de tudo, em que a conclusão de que o
sujeito tem tal propriedade (“é corruptível”, “é político”, “deve louvor
a Deus”, “deve agir virtuosamente”) decorre de
certa causa ser pertinente ou pertencer ao sujeito (“ter corpo”, “ter
razão”, “ter a Deus por dador de seu ser”, “ter por fim alcançar o Bem”) e
do fato de seguir-se desta causa
aquela propriedade (“a corruptibilidade segue-se de ter corpo”, “a
politicidade segue-se de ser racional”, “o dever de louvor segue-se de ter a
Deus por dador de seu ser”, “o dever de agir virtuosamente segue-se de ter por
fim o Bem universal”). Ou seja:
»
O Sujeito tem tal
Propriedade porque o Sujeito tem tal Causa e de tal Causa decorre aquela
Propriedade;
»
ou, o que é dizer o
mesmo: Porque tal Propriedade decorre de tal Causa e tal Causa é
pertinente ao Sujeito, o Sujeito tem [por tal Causa] aquela Propriedade.
Observação: Note-se que em ambas as maneiras se mantém a mesma triangularidade entre Sujeito, Causa e
Propriedade, e que a Causa é sempre o termo médio que liga os dois
outros termos ou extremos.
2)
Nos silogismos seguintes, temos exemplos da
ordem e do modo como se expressa no signo linguístico da argumentatio tal
relação entre o antecedente duplo (as duas premissas) e seu consequente (a
conclusão):
a)
• Todo
ente
corpóreo é corruptível (ou seja, da Causa “ter corpo” decorre a Propriedade
“corruptível”);
• Ora, o homem é corpóreo (ou seja, a
Causa “ter corpo” é pertinente ou pertence ao Sujeito “homem”);
• Logo, o homem é corruptível (ou seja, a
Propriedade “corruptível” [decorrente da Causa “ter corpo”] dá-se no Sujeito
“homem”).
b)
• Todo
ente
racional é político (ou seja, da Causa “ter razão ou racionalidade” decorre a
Propriedade “político”);
• Ora, o homem é racional (ou seja, a
Causa “ter razão ou racionalidade” é pertinente ou pertence ao Sujeito
“homem”);
• Logo, o homem é político (ou seja, a
Propriedade “político” [decorrente da Causa “ter razão ou racionalidade”] dá-se
no Sujeito “homem”).
c)
• Todo
o que recebe de Deus
o ser deve-Lhe (de algum modo) louvor (ou seja, da Causa “receber o ser de
Deus” decorre a Propriedade “dever-Lhe louvor”);
• Ora, o homem recebe o ser de Deus (ou
seja, a Causa “receber o ser de Deus” é pertinente ou pertence ao Sujeito
“homem”);
• Logo, o homem deve louvor a Deus (ou
seja, a Propriedade “dever-Lhe louvor” [decorrente da Causa “receber o ser de
Deus”] dá-se no Sujeito “homem”).
d)
• Todo
ente que
tem por fim alcançar o Bem universal deve agir virtuosamente (ou seja, da Causa
“ter por fim alcançar o Bem universal” decorre a Propriedade “dever agir
virtuosamente”);
• Ora, o homem tem por fim alcançar o Bem
universal (ou seja, a Causa “ter por fim alcançar o Bem universal” é pertinente
ou pertence ao Sujeito “homem”);
• Logo, o homem deve agir virtuosamente (ou
seja, a Propriedade “agir virtuosamente” [decorrente da Causa “alcançar o Bem
universal”] dá-se no Sujeito “homem”).
Observação: Observe-se ainda que do antecedente (as duas premissas a
e b) se segue o consequente (a conclusão, c).