RESPOSTAS DO PROFESSOR
NO CORPO DO E-MAIL DO ALUNO
Pelo que
entendi: na busca pelo gênero próximo das ciências e das artes, o Sr. procedeu
apontando que elas são acidentes-acidentes e, mais especificamente, estão na
categoria da “qualidade”, sendo que esta categoria, por sua vez, subdivide-se
ainda em 4 subcategorias: hábito (ciências e artes aqui), potência, figura e
paixão.
Em aula
anterior, ao apresentar as 10 categorias, foi dito que a “paixão” é uma delas.
Daí a pergunta: (1) a paixão é uma subdivisão da categoria “qualidade”, (2) é
uma categoria independente da qualidade ou (3) as duas coisas (termo equívoco)?
Sendo o termo equívoco, em que diferem a paixão enquanto categoria independente
e a paixão’ enquanto subcategoria (espécie) de qualidade? E, se são de fato a
mesma coisa, por que considerá-la de dois modos (como categoria independente e
como subcategoria de qualidade) ou, ainda, por que não considerar apenas 9
categorias (nesse caso, excluindo a paixão)?
RESPOSTA. Vamos por partes.
• Em algumas aulas do curso (confesso que já não sei quais), assinalei
que os próprios termos do jargão filosófico se usam analogicamente. Em outras
palavras: usam-se para coisas diferentes segundo certo modo analógico. É o que
se dá aqui.
• Diga-se antes de tudo que as categorias ou gêneros máximos do ente são
10 e não podem ser mais nem menos que 10.
• Não obstante, paixão diz-se
duplamente:
» paixão é antes de tudo uma
das dez categorias do ente;
» e paixão é, em segundo
lugar, a terceira espécie da categoria qualidade.
• Assim, paixão diz-se da
categoria enquanto se refere ao mesmo padecer ou sofrer uma paixão.
• E paixão diz-se da terceira
espécie de qualidade enquanto se refere à determinação do
sujeito pela mesma paixão que é categoria do ente, ou seja, enquanto
desta paixão decorre uma qualidade
impressa no sujeito. (É o que se dá, por exemplo, quando a palidez da
pele sobrevém pelo padecimento de longa enfermidade [cf., para o tema, Categorias 9b 20-25]).
• Não é fácil encontrar no próprio texto das Categorias do Estagirita o que se acaba de dizer. Mas é de todo
convincente e conveniente com o conjunto da doutrina do Filósofo a explicação
que Santo Tomás dá (na Suma Teológica I-II,
q. 49, a. 2, corpus)
desta passagem das Categorias, e que sigo.
Transcreva-se a passagem tomista:
“Ora, o modo ou determinação do sujeito em seu ser acidental pode
considerar-se ou com respeito à natureza mesma do sujeito, ou com respeito à
ação e à paixão resultantes dos princípios da natureza, que são a matéria e a
forma, ou com respeito à quantidade. [...] o
modo ou a determinação do sujeito quanto à ação e à paixão constitui a segunda e a
terceira espécie de qualidade. E por isso em ambas se leva em conta a
facilidade ou a dificuldade com que se faz algo, ou se passa rápido ou dura
muito.”
• Parece que com isto se responde suficientemente à sua interrogação.