PERGUNTA DO ALUNO
Em várias aulas o senhor faz menção aos tipos de analogia.
Quantos são os tipos de analogia, afinal? Apenas dois? Analogia de
proporcionalidade e de atribuição? O senhor menciona a analogia por atribuição
intrínseca, existe também a extrínseca? Qual a diferença entre elas? Se bem
entendi, na analogia de proporcionalidade a distinção existente se dá por
razões quantitativas, ao passo que na analogia de atribuição se dá por razões
qualitativas, é por aí?
RESPOSTA DO PROFESSOR
Excelente pergunta; mas não,
não é bem por aí (embora alguns, como Mário Ferreira dos Santos, vão exatamente
por aí). Expliquemo-lo, mas diga-se, antes de fazê-lo, que este assunto é não
só demasiado complexo, senão muitíssimo disputado entre os mesmos tomistas: por
exemplo, não concordam inteiramente quanto a isto o Cardeal Caetano, João de
Santo Tomás, o Padre Penido e Santiago Ramírez O.P. – e às vezes divergem
profundamente. E isso é assim porque S. Tomás tampouco deixou um tratado
sistemático sobre a analogia (muito, muito longe disto). Aliás, é precisamente
por coisas como esta que ideei este curso, ou seja, para introduzir-me a mim
mesmo e a muitos no caminho da sistematização de uma filosofia tomista. E,
ainda antes de responder-lhe, devo reconhecer que ainda estou longe de
posicionar-me mais definitivamente quanto à analogia. Agora, por partes, conquanto
muito brevemente.
1) Antes de tudo, a analogia de atribuição, que se divide
em:
a) Analogia
de atribuição intrínseca, que se dá quando o significado
pelo nome se encontra realmente em todos os sujeitos de que se predica esse
nome (ou seja, em todos os analogados), mas de modo desigual por natureza: em um deles (o primeiro analogado) de modo não só
principal mas perfeito, e nos outros de modo secundário, imperfeito e derivado.
É por este tipo de analogia que conhecemos a Deus na Metafísica ou Teologia
Filosófica, como dito em alguma aula do curso.
b) Analogia de atribuição extrínseca, que se dá quando o significado
pelo nome se encontra tão somente em um dos sujeitos a que se aplica este nome,
isto é, no primeiro analogado,
enquanto nos demais analogados, os secundários, não se encontra efetivamente; não
se lhes aplica tal nome senão em razão de certas relações que têm com o
primeiro analogado. É o caso clássico de são:
quem tem saúde, quem é são (ou seja, o primeiro analogado) é o animal, enquanto
a urina pode dizer-se sã por indicar a saúde do animal, o remédio, o alimento,
as caminhadas por causar a saúde do animal, etc.
2)
Depois, a analogia de proporcionalidade,
cuja natureza seu nome mesmo já indica: trata-se de proporcionalidade análoga a
qualquer proporção matemática, e que se traduz em: A está para B assim como C
está para D. Há dois tipos de analogia de proporcionalidade:
a) A analogia de proporcionalidade própria,
que se dá quando a relação proporcional significada pelo nome análogo se
realiza de modo próprio em ambos os
pares de termos: por exemplo, a relação entre os sentidos e as espécies
sensíveis é proporcionalmente análoga à que se dá entre o intelecto e as
espécies inteligíveis, e em ambos os casos o nome conhecimento se toma em sentido próprio.
b) A analogia de proporcionalidade imprópria,
ou seja, a metafórica. Por exemplo, quando falo de “visão” intelectual, não o
faço senão por uma analogia de proporcionalidade com a visão corporal; mas
neste caso o nome “visão” não se aplica ao intelecto senão de maneira imprópria, donde o nome desta analogia.
Observação final:
Além de insistir em que este não passa de um quadro muito esquemático, diga-se
que S. Tomás alguma vez fala de três classes de analogia, e não de duas.