(1935)
Rev. Pe. Bernard-Marie ALLO, O.P.
(1873-1945)
Nosso comentário indicou as razões múltiplas que
impedem de admitir neste capítulo XV [da Primeira Epístola aos Coríntios] a
ideia de uma “dupla ressurreição” dos corpos. Mas, como essa teoria foi posta
muito em voga em nossos dias, convém examiná-la mais de perto.
A interpretação do capítulo XX, 1-10, do
Apocalipse mediante um Reino de mil anos tomado à letra, com Cristo visível
regendo a terra de Seu trono, em meio aos mártires ressuscitados, possui ainda
o favor da maioria dos exegetas heterodoxos. Contudo, aqueles dentre eles aos
quais não basta repeti-la como uma lição de seu “catecismo científico” não
ignoram as graves dificuldades que ela apresenta. Por mais que uma tal
concepção seja análoga à de certos apócrifos judeus, e pareça confirmada pelo
quiliasmo de alguns antigos Padres, ela está em discordância manifesta com as
profecias do Senhor nos Sinóticos, segundo as quais a Parusia, sobrevindo de
forma inesperada, colocará um ponto final a toda a história terrestre; ela nem
mesmo pode apoiar-se em Daniel. Assim, Zahn quererá considerá-la uma revelação
nova e particularíssima concedida a São João; o católico Wikenhauser, ao
defendê-la como sentido literal, se esforçará por explicar que é apenas uma
espécie de alegoria, para significar que os mártires terão situação
privilegiada no mundo futuro. Mas aqueles que não têm de fazer apologética, por
exemplo Loisy, reconhecem sem rodeios que o milenarismo literal aparece como um
elemento estranho ao conjunto do Novo Testamento, e permanece inconciliável com
muitas afirmações do próprio Apocalipse; logo, só poderá ser um espécime
daquele conflito entre tradições heterogêneas, segundo o sistema deles, que se
encontram generosa e pouco inteligentemente justapostas num mesmo livro.
Entretanto, não se parou nesta solução desesperada; há algum tempo começou-se a
insistir em certos traços, bastante obscuros, da escatologia de São Paulo, na
qual se pretende descobrir ao menos o princípio da crença quiliasta. Teríamos
assim, na revelação cristã, duas perspectivas escatológicas em conflito: uma,
geral e isenta de quiliasmo, que é a dos Sinóticos e culmina na Segunda
Epístola de Pedro; outra, milenarista, tomada de empréstimo a círculos judeus
da mesma época, que se mescla à primeira em Paulo e desabrocha-se no
Apocalipse, Papias, Justino, Ireneu e ainda outros.
Dentre os exegetas do século XIX, Ewald (1857) e Edwards (1885) eram já
favoráveis às “duas ressurreições” no Apóstolo. Godet (“Comentário
à 1.ª Epístola aos Coríntios”, II, pp. 374.379) defende mui honestamente essa
teoria, e chega mesmo a pensar encontrá-la no restante do Novo Testamento. Toussaint, em seu comentário
católico à nossa epístola (p. 415, 1910), pendia bem visivelmente para a mesma
tese. Para Loisy não restam dúvidas. Por fim, Albert Schweitzer, em seu notável
livro sobre “A Mística do Apóstolo Paulo” (1930), infelizmente falseado por sua
tese escatologista, que faz com que ele restrinja tudo o que São Paulo diz da
união com Cristo ao intervalo de um “reino messiânico intermediário”, pretende
(pp. 94-96. al.) que uma ressurreição antecipada dos justos precederá a
ressurreição geral, para que os fiéis que estavam mortos desfrutem também dos
bens messiânicos na companhia da última geração dos vivos, “transformados”
quando da Parusia; Paulo teria sido o primeiro a encontrar essa solução,
estranha a Jesus, ao adaptar ao espiritualismo cristão a escatologia de IV Esdras e do Apocalipse de Baruque.
Nunca se teria pensado, para começar, em
descobrir semelhante teoria nas epístolas paulinas, se não tivesse havido que
encontrar a qualquer preço um paralelo ou antecedente neotestamentário para o
pretenso milenarismo de João; e o presente estudo visa mostrar à custa de que
condescendências violentas e de que recusa de análise chegou-se a tanto.
Caso se quisesse começar colocando um intervalo,
como vários fazem, entre a ressurreição dos justos e a dos réprobos, seria
necessário esquecer ou desviar de seu sentido passagens como Rom. II, 5-seguintes, que
contempla tão somente um único dia do “juízo” para uns como para os outros;
olvidar que o “Dia do Senhor”, ou Parusia, coincidirá com a ruína dos ímpios (I
Tess. V,
2.seguintes): textos claros, que nenhum outro contradiz e que todos, pelo
contrário, manifestam confirmar.
Mas a passagem de Paulo que está em causa
essencialmente é I Coríntios,
XV, 22-26; para
dela fazer exegese suficiente, devemos recorrer a um paralelo bem próximo, I Cor. XV, 50-55, e a outro mais afastado,
I Tessalonicenses
IV, 13-18.
Digamos, antes de tudo, por que é que
consideramos essa comparação entre I Cor.
e I Tess. legítima
e necessária. Embora um intervalo de cinco anos separe talvez essas duas
epístolas, nada autoriza a pensar que as ideias de Paulo quanto aos novíssimos
tenham variado durante esse tempo. Se ele tivesse tido que retificar algum
ensinamento outrora proposto por ele a seus fiéis — e isso sobre um tema tão
capital na sua pregação como eram os fins últimos —, os seus escritos nos
teriam conservado disto algum sinal, ao menos em forma de alusão. Mas toda
indicação, toda alusão dessa espécie estão ausentes.
Ele bem poderia tê-lo feito, dir-se-á, na sua
pregação oral. Ninguém negará isso. Mas apenas em desespero de causa é que se
poderia refugiar-se nessa incógnita, e somente se o conjunto das cartas de
Paulo, que são quantidades conhecidas, apresentasse incoerências ou
contradições inexplicáveis de outro modo. Tal não se dá no caso, em que as
cartas, esclarecendo-se uma por outra, mostram — ou pelo menos não excluem — a
continuidade da ideia e a coerência dos pontos de vista.
Estando isto bem compreendido, consideremos a
famosa passagem em que São Paulo supostamente teria preludiado o quiliasmo. Ela
se encontra na Iª aos
Coríntios, cap. XV, vv. 22-56.
22. Assim como, efetivamente, em Adão todos
morrem, assim também é em Cristo que todos serão vivificados. 23. Mas cada um
no posto (ou “no
grupo”) que é o seu (ὲν τῷ ἰδίῳ τάγματι): Cristo, primícias;
em seguida (ἔπειτα)
os que são de Cristo, quando de Sua Parusia. 24. E depois (εἷτα), o fim! (τὸ τέλος) quando ele entrega (παραδιδοῖ) a realeza ao Deus e
Pai, quando ele tiver feito desaparecer todo principado e toda dominação
e potestade. 25. Pois é necessário que ele reine (δεῖ γὰρ αὐτὸν βασιλεύειν)
até que ele tenha posto todos os inimigos debaixo de seus pés
(Sl. 110). 26. O último inimigo que desaparece é a Morte…
A teoria a ser julgada é a seguinte:
Entre os versículos 23 e 24 se introduziria a
noção do “reino intermediário”, como no Apocalipse. A ressurreição aconteceria
em três tempos: primeiro a de Cristo, primícias, que já ocorreu; — em seguida (ἔπειτα) a dos fiéis
de Cristo, na hora da Parusia; — e depois (εἶτα, coordenado com ἔπειτα), a do restante dos homens
(τὸ τέλος), que não participaram
da primeira. Portanto, duas ressurreições corpóreas. A segunda é separada por
um intervalo da primeira, assim como esta o foi da ressurreição de Jesus. Três
τάγματα: Cristo —
os fiéis — “os outros”. O primeiro intervalo foi preenchido
pela vida militante da Igreja até o retorno de seu Cabeça, na Parusia; pelo que
será preenchido o segundo? Pelo “reino” do Cristo que voltou a descer em meio
aos Seus, ressuscitados; Ele tomará vigorosamente em mãos o Seu poder régio
(βασιλεύειν) para reduzir todos os
poderes que ainda não Lhe estão submetidos (cfr. o Apocalipse, Gog e Magog) e destruirá todo
império da morte (que Ele lançará no tanque de fogo, Apoc.) ao ressuscitar os
últimos mortos, para os quais o juízo geral assinalará o destino eterno deles.
Admitindo-se esse paralelismo com o Apocalipse,
seria preciso no mínimo começar notando que ele claudica em vários pontos. Em
primeiro lugar, no Apocalipse o combate vitorioso contra as potestades
significadas por Gog e Magog, insufladas por Satanás liberto, ocorre somente no
fim dos Mil Anos, enquanto que em Paulo todo o reino que, nessa hipótese, se
seguiria à Parusia mostra-se ocupado por uma guerra de conquista e de
extermínio; mas poder-se-ia dizer que aí está um simples efeito de variação de
perspectiva. O que é mais grave é que, em Paulo, todos os fiéis, todos “os de
Cristo”, são ressuscitados e devem, por conseguinte, reinar com Ele, enquanto
que o Apocalipse não faz (na hipótese dos mesmos exegetas) ressuscitarem e
reinarem senão os “mártires”. Não são, portanto, em Paulo e em João, os mesmos
ressuscitados nem os mesmos “reis” — a não ser que se queira crer, com Charles
e Loisy, que “fiéis” e “mártires” sejam uma só e idêntica coisa, porque todos
os cristãos, segundo o Apocalipse, devem ser martirizados pela Besta, entre a
publicação do livro e a Parusia, ficando descurados nessa perspectiva os fiéis
mortos antes e de outro jeito; ideia formalmente contrária à de Paulo, que
representa cristãos vivendo ainda, no momento da Segunda Vinda. Mas aqueles que
não desaguam nessa fantasia (como Wikenhauser) não podem assimilar Paulo e
João; cumpre-lhes reconhecer uma divergência essencial entre essas duas
perspectivas. E não poderão justificar as ideias de Paulo como tentam fazer com
as de João, dizendo que este quis muito simplesmente ensinar, pelo empréstimo
feito ao mito judaico do “Zwischenreich”, uma glorificação especial e
antecipada de uma categoria especial de fiéis, os “mártires”; esse expediente
apologético escapará a eles no que se refere a Paulo, e terão de reconhecer que
este, diferentemente de João, não pode ser absolvido de milenarismo material.
Quanto à interpretação de João, remetemos o
leitor ao nosso comentário ao Apocalipse, no qual nada nos parece dever ser
mudado aqui. Quanto à exegese de I Cor.,
XV, 22-26, tudo dependerá primeiramente do sentido, e da função na frase, que
deve-se atribuir às expressões:
ἐν τῷ ἰδίῳ τάγματι;
εἶτα;
τὸ τέλος;
δεῖ γὰρ αὐτὸν βασιλεύειν.
εἶτα;
τὸ τέλος;
δεῖ γὰρ αὐτὸν βασιλεύειν.
1º ἐν τῷ ἰδίῳ τάγματι. — É
evidente que essa expressão comanda ao menos as duas que seguem: Χριστός e οἱ τοῦ Χριστοῦ; elas terão
(ou ocuparão) seu τάγμα respectivo. Mas o que quer dizer essa palavra τάγμα? O sentido ordinário,
desde o século IV e principalmente Xenofonte, é “corpo
de tropa”, “subdivisão militar” pequena ou grande. Ela
se encontra nos papiros, nas inscrições, em Josefo, Clemente Romano, etc., e
passa frequentemente para o sentido mais geral de “grupo” qualquer. Os Setenta
a empregam uma vintena de vezes, o mais frequentemente no sentido derivado de
“bandeira” (para congregar os grupos) e, às vezes, no sentido mais afastado de
“homens de infantaria”; os outros tradutores gregos da Bíblia fazem-na
significar “bando”, “festa”, “fileira”. Assim, sua significação no século I era
muito extensível; e, como τάγμα
etimologicamente quer dizer simplesmente: “aquilo que está ordenado” ou
“colocado em ordem”, não há nada de espantoso que adquira ainda outras
acepções. Assim, na 414ª das Definições
falsamente atribuídas a Platão, lemos: δίκαιον νόμου τάγμα ποιητικὸν δικαιοσύνης, onde ela significa
“ordenança” = “prescrição”: “prescrição legal que realiza a justiça”, vem
traduzido na coleção Budé. Aristóteles, Pol.
IV, VII (9), 3, escreve: ἐκ δυοῖν ταγμάτοιν,
τὰ μὲν ἐκ τοῦ ὀλιγαρχικοῦ νόμου τὰ δ᾽ ἐκ τοῦ δημοκρατικοῦ, onde a constituição,
seja oligárquica ou democrática, é chamada de τάγμα. De resto, partindo do sentido comum de “grupo”
ou de “tropa” que ocupa lugar determinado num desfile, militar ou não,
era fácil de passar para o de “posto”
ou “posição” de um indivíduo
na tropa. Assim, Epicuro (A
Herodotos, 71, em Diógenes Laércio I) fala das coisas φύσεως καθ᾽ ἑαυτὰ τάγμα
ἔχοντα = “que
têm
cada uma, para si, um posto seu na natureza”, e provavelmente é
o mesmo sentido que se deve reconhecer a I Clement.
XLI, 1 (apesar de XXXVII, 3, onde τάγμα
= “grupo”): ἕκαστος
ἡμῶν, ἀδελφοί,
ἐν τῷ ἰδίῳ τάγματι
εὐαρεστείτω τῷ θεῷ = “que cada um de nós, irmãos,
em seu posto, torne-se agradável a Deus”, na função
individual que desempenha antes que “no interior de sua ordem” (de
sacerdotes, levitas, leigos, XL, 6). — Então, se em nossa passagem de São Paulo
traduzimos como “em seu próprio posto”, evitaremos assim a dificuldade de fazer
“tropa” representar Cristo sozinho.
2º-3º εἶτα
τὸ τέλος. — Εἶτα significa “em
seguida”, ordinariamente em sentido cronológico; mas essa palavra,
assim como sua composta ἔπειτα,
indica frequentemente também, não uma ideia de
posterioridade no tempo com relação às
coisas que precedem em uma enumeração, mas simplesmente que
se continua a enumerar, como em português “e
ainda”, ou um “então” indefinido, ou aquilo que é imediatamente consequente, sem intervalo
temporal, bem como aquilo que é subsequente. Na mesma epístola aos Coríntios,
XII, 28, ἔπειτα indica tão
somente uma ordem inferior de dignidade, e, sobretudo, cumpre notar o que
observamos no início deste mesmo capítulo XV, v. 7. Tudo isso nos autorizará,
se necessário, a ver na εἶτα
de XV, 24, outra coisa que não a indicação de um intervalo no
qual se poderia alojar uma guerra messiânica.
Essa questão está ligada à do sentido que
convirá atribuir à palavra seguinte, τὸ τέλος. Em si, τέλος significa “fim”,
“conclusão”,
mas também “ponta”, “cauda” (Isaías
XIX, 15); essa segunda acepção (= περίττωμα, “o que resta”, Lietzmann, ad loc.) encontra-se
por exemplo em Aristóteles, De
gen. an., para “o que sobra” do alimento e vai-se embora do corpo.
Poder-se-ia pois, abstratamente falando, em nossa passagem, entendê-la do
“resto”, dos “outros”, isto é, dos homens que não são “os de Cristo”, quiçá com
uma nuance de desdém na expressão. Veremos se isso convém melhor ao contexto do
que o sentido comum e abstrato de “fim”, “conclusão”.
Mas já podemos ver que a estrutura da frase, nos
vv. 23-24, obriga por si só a ligar intimamente εἶτα τὸ τέλος
ao que segue (ὅταν
παραδιδοῖ…),
muito mais do que ao que precede. Poder-se-ia crer, à primeira vista, que εἶτα estivesse coordenado
com ἔπειτα de 23 e fosse pedido
por esse primeiro advérbio; mas, considerando melhor, evidencia-se claramente,
antes de tudo, que essa “entrega” da realeza ao Pai não
pode estar unida logicamente aos três membros (que se presume existentes) na
enumeração; pois Cristo-primícias está excluído: não é no momento de Sua
ressurreição que Ele entregou um reino pacificado a Seu Pai; essa exclusão do
primeiro membro torna, no mínimo, duvidoso o elo de ὅταν παραδ.
com o segundo membro ἔπειτα
οἱ τοῦ Χριστοῦ; o que permanece de
certo é que é impossível separar a coisa ou o acontecimento
significado por τὸ τέλος da proposição
que vem em seguida; as palavras ὅταν
παραδ.
κτέ. podem muito bem,
portanto, nada mais ser que explicação de τέλος,
ou designar um fato concomitante só com este τέλος; e então
seria naturalíssimo fazer começar uma nova frase, elíptica,
uma nova ideia, com εἶτα
τὸ τέλος, o que impediria de
insistir demasiadamente em uma coordenação de εἶτα com ἔπειτα
para concluir daí que εἶτα
introduza algo de homogêneo a οἱ τοῦ Χριστοῦ, um terceiro grupo.
4º δεῖ γὰρ αὐτὸν βασιλεύειν κτέ. —
O γάρ indica que essa frase é
explicativa; Cristo deve reinar, necessariamente, porque Ele precisa ter tempo de aniquilar todos
os Seus inimigos. Mas o tempo presente do infinitivo βασιλεύειν não mostra que
é apenas quando Ele surgir na Parusia, e tiver ressuscitado “os de Cristo”, que
Ele começará essa régia guerra que deve culminar na destruição da morte: se
Paulo seguramente tivesse querido exprimir essa ideia (Reino intermediário),
ele teria mais apropriadamente empregado o aoristo ingressivo βασιλεῦσαι.
Uma vez desembaraçados dessas preliminares, nós
poderemos determinar, para toda a perícope 22-26, parafraseando se necessário e
comentando um pouco, o sentido que parece com folga o mais natural.
22,…
é em Cristo que todos serão vivificados.
Comentadores antigos, com um ou outro moderno,
acreditaram que essa “vivificação” fosse a ressurreição corpórea em geral,
tanto dos réprobos como dos eleitos. Mas essa opinião não concorda nada com o
contexto, em que Paulo não se ocupa em absoluto senão dos que serão chamados à
vida da glória, conforme à do Cristo ressuscitado. Ele deixa, em todo este
capítulo, os condenados na penumbra. Não se compreenderia que ele dissesse que
os infelizes condenados à morte eterna serão “vivificados em Cristo”. Logo, só por
essa razão τὸ τέλος terá
pouca chance de significar: “os outros, os que não
pertencem a Cristo” e, quando da ressurreição, não obterão a salvação.
23. Mas cada um [chega a esta vivificação] no
posto que lhe convém: primeiro Cristo, primícias [dos ressuscitados gloriosos];[1] em
seguida os que são de Cristo, quando da Parusia d’Ele.
Os que são de Cristo e os que são salvos: é,
conforme todo o Novo Testamento, exatamente a mesma coisa; pois nenhum justo,
ainda que tivesse ignorado materialmente a Cristo, pode ser justificado e salvo
sem ser pela mediação de Jesus, cujos efeitos antecipados fizeram-se sentir
desde que existem os homens. Paulo afirma que Cristo tem o primeiro posto, e
Seus fiéis o segundo, depois de notável intervalo. Não era absolutamente inútil
dizer com tanta solenidade coisa tão evidente? Sem dúvida o Apóstolo teria
podido prescindir disso; mas ele faz questão de frisar, com essa
superabundância de expressão, insistindo na ordem cronológica das ressurreições
respectivas, que Cristo glorificado tem bem o papel de “primícias”, nas quais
toda a massa é santificada como consagrada a Deus e aceita por Ele (Karl Barth), — aqui,
glorificada. Pois toda a sua argumentação repousa nisso. A data anterior da
ressurreição de Jesus ilustra Sua função de “primícias”. Convinha, pois, que
Cristo estivesse, na ordem do tempo, no primeiro τάγμα, ou seja no primeiro
posto, — como um comandante que marcha à frente de suas tropas, — e que isso
fosse sublinhado por um intervalo notável de tempo entre a Sua ressurreição e a
dos homens n’Ele santificados.
Assim, não há dificuldade alguma em colocar
Cristo na enumeração, como ocupando um ἴδιον
τάγμα
só
d’Ele
(cfr. Lietzmann).
Não é necessário (cfr. Gutjahr,
al.) distinguir, entre os santos (para explicar ἐν τῷ ἰδίῳ τάγματι), diversos postos, designados a cada um
conforme seus méritos.
24. E depois (ou
então), o fim (τὸ τέλος)! pois ele entrega então
a realeza (ou o
reino) a Deus seu Pai, depois de ter feito desaparecer todo principado, toda
dominação, toda potestade.
Pela razão acima indicada, nós fazemos começar
com εἶτα uma nova frase, em vez
de coordenar εἶτα
com a ἔπειτα precedente para fazer
assim de τὸ τέλος a terceira ordem dos
ressuscitados. Teofilato, mais tarde Caetano (refutado por Estius) e alguns
outros, de fato, creram erroneamente (ver acima, sobre o v. 22) que esse τέλος significasse “os
outros” que ressuscitarão sem serem salvos. Mas
esses exegetas, ao menos, não chegavam por isso a sustentar que
haveria entre a ressurreição dos dois grupos um intervalo de reino milenário;
os dois atos deviam suceder-se imediatamente, e o juízo vir imediatamente em
seguida. (Ver abaixo a exegese de I Tess.).
Inteiramente arbitrária, e sem apoio nenhum no restante do Novo Testamento,[2] é
a opinião de Lietzmann, Loisy, al., que querem ver um intervalo de guerras
messiânicas, ou um millenium, entre a Parusia acompanhada da ressurreição dos cristãos que confessaram em
vida o nome de Cristo, e a ressurreição de um τέλος: os outros justos, os não-cristãos,
que ressuscitariam então também, mas no último posto, como um suplemento ao número
dos eleitos que o foram de pleno direito.
Jesus então destruirá todo poder oposto ao Seu,
ou que pudesse fazer sombra ao Seu,
25. Pois é preciso que dure o seu reino até que
ele tenha posto todos os seus inimigos debaixo de seus pés.
Nós entendemos βασιλεύειν — e é bem gramatical —
da duração, da prolongação do reino de Cristo, que se estenderá bastante,
através das eras, para que todos os Seus inimigos sejam derrotados um após o
outro, e para que todo poder humano se mostre vão em face do Seu. Decerto Paulo
não quer dizer que Cristo começará a ser rei em ato somente na Parusia e na ressurreição
dos cristãos; ele mais de uma vez disse expressamente que nós já estamos sob o
reinado de Cristo, Senhor (κύριος); assim, em Rom., XIV, 17, o serviço de Cristo é
identificado com o “reino de Deus”, e em Fil.,
II, 9. ss., Jesus possui já, desde a Sua exaltação, o nome divino que deve
fazer sucessivamente dobrarem-se todos os joelhos, mesmo na terra (καὶ ἐπιγείων,
v. 10). Esse reino messiânico das profecias não está,
portanto, reservado para o futuro; apenas, na época presente ele é
objeto de contradição, tem de abater progressivamente os obstáculos,
e só será reconhecido por todos quando o último tiver desaparecido.
Aí então esse reino, de certa forma, cessará, como indicam o v. 24 e, mais
adiante, o v. 28. Antigos, por exemplo Teodoreto, para esquivar essa ideia e
toda aparência de inferioridade da Segunda Pessoa divina com relação à
Primeira, contra Ário e Eunômio, compreenderam ἄχρι οὗ no sentido de grau, e não de duração:
“É
preciso que ele seja rei (ao longo da história terrestre) ao ponto de colocar todos os
seus inimigos sob seus pés”; mas essa interpretação é menos adaptada ao
contexto. De resto, os Padres já explicaram suficientemente que Cristo não
cessará de reinar após a consumação, — assim como o Pai não tinha, tampouco, suspendido
realmente o exercício de Sua realeza enquanto Cristo reinava; apenas, a
característica própria do Reino de Jesus-Messias, que era a mediação e a luta
contra os inimigos, findará na Parusia; o Salvador cessará de exercer a função
de cabeça de uma Igreja militante; como representante da humanidade, Ele
entregará ao Pai todos os troféus das Suas vitórias. Deus será “tudo em todos”,
o mundo inteiro estará conscientemente submetido ao Seu poder, não haverá mais
nenhum modo distintivo entre a dominação de Cristo como Messias e a dominação
universal de Deus; o Pai e o Filho, assentando-Se num mesmo trono (Apoc., XXII, 1, 3: “o trono
de Deus e do Cordeiro”) exercerão a mesma realeza, de forma indivisível, e em
todo ato do Homem Jesus os olhares bem-aventurados verão a descoberto a
Divindade mesma que atua. Paulo talvez tenha insistido tanto, como diz
Teodoreto, nesse retorno de todo poder a Deus, para evitar que seus convertidos
do paganismo, recordando-se das antigas fábulas deles sobre a sucessão de deuses
supremos, cressem que Jesus tivesse substituído pelo poder d’Ele o poder do
Deus de Abraão e de Moisés, que teria Se retraído para deixar Seu Filho agir em
Seu lugar. Pode ser esta uma visão justa, pois os erros pagano-gnósticos
espreitavam já a fé dos ignorantes.
26. O último inimigo aniquilado é a Morte.
A vitória de Cristo, como Messias, como cabeça e
salvador da humanidade resgatada, deve ser tão total, que não se detenha antes
de ter destruído a Morte mesma, introduzida na humanidade pela inveja do Diabo
e o pecado de Adão, e personificada aqui como o adversário último, aquele que
resistirá até o derradeiro instante. Cristo não entregará a Seu Pai um reino
pacificado senão após ter aniquilado esse último efeito do poder do Diabo. Tal
será a última obra do Seu reino messiânico, concebido como modalmente distinto
do de Seu Pai. Mas a que momento isso acontecerá? Paulo, em todo esse contexto,
não falou exceto uma vez, ao menos explicitamente, de um fato que equivalha a
uma “destruição da morte”: é a ressurreição “dos de Cristo”, no versículo 23;
além disso, o emprego dos presentes παραδιδοῖ (que é a verdadeira
lição no v. 24) e καταργεῖται
(v. 26; “o último inimigo, que desaparece então, é a Morte”), e não de um futuro em 26,
nem em 23 de um aoristo subjuntivo com valor de futuro anterior (que
ocasionaria ainda uma espera), insinua a coincidência entre, de um lado, essa
destruição da morte, assim como essa entrega de poder, marcando o fim de tudo,
τέλος, e por outro lado o
fato precedentemente enunciado, a ressurreição dos fiéis
quando da Parusia; Jesus está em posição de entregar a realeza
nesse instante, e pode-se dizer que o termo foi atingido: “E depois então, é a
consumação final, naquele momento em que Ele pode enfim entregar a Seu Pai a
plena realeza que Ele Lhe conquistou, agora que Ele destruiu todos os Seus inimigos,
dentre os quais o último a destruir, a Morte, está doravante abolida pela ressurreição.”
Essa passagem bastará, pois, interpretando-a
desta forma bem natural e bem gramatical, sem discorrer sobre um termo obscuro,
para nos ensinar toda a escatologia de Paulo (a ressurreição dos réprobos
estando somente subentendida, com o juízo), e para apartar toda ideia de “Reino
intermédio” depois da Parusia. Cumpre notar somente que Paulo nada diz aí
acerca dos homens que o Último Advento encontrará ainda vivos sobre a terra.
*
* *
* *
Caso se estime, todavia, que usamos demais do
direito de interpretação para a perícope 22-26, examinemos então a passagem do
mesmo capítulo, vv. 50 e seguintes, que nos traz de volta ao mesmo tema
escatológico.
As duas perícopes, bastante divergentes na
maioria de seus traços, têm contudo isto de explicitamente idêntico: tanto uma
como a outra terminam com a
destruição da morte, que coincide com o fim de toda a história
terrestre. Ora, caso ainda não se esteja convencido de que isso acontece no
exato momento da Parusia acompanhada da ressurreição “dos de Cristo”, e não ao
cabo de um período subsequente, as últimas dúvidas devem dissipar-se com a
leitura de 50-55, em que uma perfeita coincidência é estabelecida entre esses
três acontecimentos.
Que lugar ocupa essa perícope na argumentação de
Paulo?
Paulo responde aí a uma pergunta feita no v. 35,
àquilo que constituía a grande dificuldade para os cabeças-duras de Corinto:
35. Mas dir-se-á: “Como ressuscitam os mortos?
Mas com que espécie de corpo (ποίῳ δὲ σώματι) eles retornam?”
Em vez de resolver imediatamente o problema, o
Apóstolo multiplica considerações que devem dispor os espíritos a ouvir e
aceitar a resposta, a promessa audaciosa que será exprimida somente no v. 49 e
seguintes: a saber, que os mortos eleitos terão um corpo “pneumático”,
semelhante ao corpo glorificado de Jesus Cristo, — e, além disso, que os fiéis
que não estiverem mortos no dia em que tiver lugar essa gloriosa ressurreição
verão seus corpos transformados para se tornarem semelhantes aos primeiros em
glória (Ver o comentário e a introdução de 35-49 e 50-54).
O v. 49 responde, então, à pergunta do v. 35:
49. Tal como nós trouxemos a imagem do [homem]
feito de pó, assim nós traremos (φορέσομεν — ou
trazemos, φορέσωμεν) a imagem daquele que é do céu.
Mas Paulo quer explicar ulteriormente essa
resposta, e completá-la. Era preciso, primeiro, que ela não tivesse mais
nenhuma obscuridade; em seguida, já que se tinha tratado somente dos mortos, os
coríntios podiam indagar-se qual seria a sorte dos fiéis encontrados ainda em
vida por Cristo regressado. Ele continua então com o seguinte desenvolvimento,
que nós traduzimos, antes de tudo, com literalidade bárbara:
50. Mas eu afirmo isto, irmãos: “carne e
sangue” não pode herdar a realeza de Deus, nem a corrupção herda a
incorruptibilidade.
51. Eis que eu vos digo um mistério.
52. Nem todos nós dormiremos, mas todos nós
seremos mudados, em um instante indivisível (ἐν ἀτόμῳ), em um piscar de
olhos, quando da última trombeta; — pois a trombeta soará,
—
e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós, nós seremos mudados.
53. Pois é preciso que este corruptível se vista
de incorruptibilidade, e que este mortal se vista de imortalidade.
54. Mas quando este corruptível tiver se vestido
de incorruptibilidade e este mortal tiver se vestido de imortalidade, aí então
se cumprirá a palavra que foi escrita: “A morte foi engolida na vitória” (Is. XXV, 8).
55. “Onde [está], morte, a tua vitória? Onde
[está], morte, o teu aguilhão?” (Oseias,
XIII, 14).
56. Mas o aguilhão da morte, [é] o pecado…
Esse palavra-por-palavra servil pode dar lugar a
muitas discussões sobre o sentido preciso de termos particulares. Mas ao menos
isto é ensinado de forma manifesta: em um instante indivisível, em um piscar de
olhos, acontecerá uma ressurreição dos mortos, uma transformação dos vivos, e o
desaparecimento da morte para todo o sempre.
Se fosse de crer que dois atos, separados por um
longo intervalo, tivessem sido distinguidos na ressurreição em 20-26, ao menos
a perícope presente só pode corresponder ao último desses atos. Pois tudo se
passa quando da última
trombeta, a do fim do mundo, e a morte, — o último
inimigo, v. 26, — é aniquilada exatamente nesse instante. Dado, pois, que é a
Parusia (que não é nomeada aqui, mas que cumpre aqui subentender, como
provaremos logo mais, pela exegese de outra epístola), toda a questão do
Milênio material e terrestre fica decidida por conseguinte, e negativamente.
Ora, nada pode fazer supor que a Parusia já tenha acontecido muito tempo antes
dessa ressurreição e dessa transformação dos homens quando da “última
trombeta”; nada indica que categoria alguma de homens tenha sido ressuscitada
em uma época anterior, nem que fiel vivo algum já tenha sido transformado, — como
teria sido mister, se todos os beneficiários de um Reino de mil anos que se
intercalasse entre a Parusia e o juízo final tivessem sido, conforme
imaginações como a de Zahn,[3]
isentos da morte.
Além disso, todo mundo admira o ímpeto lírico do
Apóstolo, quando ele celebra aqui, pela segunda vez, a destruição da morte.
Esse engolimento da morte na vitória, que coincide com o τέλος, ὅταν παραδιδοῖ de 24, é
também (cfr. v. 56) a destruição, para os eleitos, de
todas as consequências da morte, a começar pela causa dela, o pecado. O que
pode haver, pois, de mais artificial, e mesmo de mais contrário a todo o
espírito deste ensinamento, que vir supor (com Joh. Weiss) que se trate nos
versículos 24, 26, — e também aqui, em 54-55, seria o cúmulo! — da ressurreição
dos réprobos? Seria realmente o caso de cantar com tais inflexões a
incorruptibilidade e a imortalidade, a vitória sobre a morte, por ocasião de
desgraçados que só revivem para ser entregues à morte eterna? — Quanto a uma
segunda leva de justos, menos pertencentes a Cristo que os demais, e que seriam
os únicos a ressuscitar então, os últimos, obrigados a esperar a última
trombeta, claro está que não se trata disso aqui, e que introduzi-los aí seria
pura imaginação.
Podemos, a esta altura, combinar e parafrasear
tudo o que Paulo ensina aos cristãos, neste capítulo XV, sobre a certeza e a
maneira da ressurreição bem-aventurada deles.[4]
Ele disse-lhes, antes de tudo, que se Cristo não
ressuscitou (como resultaria logicamente de uma negação geral da ressurreição
dos homens) e eles, por conseguinte, não devem ressuscitar tampouco, todo o
trabalho deles está perdido.
19. Se nós somos pessoas que, nesta existência,
terão “esperado” em Cristo, e nada mais que isso, nós somos de lastimar mais do
que todos os homens. 20. Sim, mas Cristo ressuscitou dos mortos! Ele ressuscitou como primícias dos que
dormem, mostrando assim – e garantindo-lhes – a sorte futura deles; pois Deus,
tomando Jesus como primícias, mostrou que Ele Se apropriava de toda a massa.
21. Eu chamo-O de “primícias”,
a Ele que nos abre o caminho para a glória, porque, depois que[5] a
morte veio por um homem (primícias
da morte e responsável pela morte de todos), é por um homem também
que virá a ressurreição dos mortos. 22. Pois assim como em Adão todos morrem (porque são da descendência dele e feitos
à semelhança dele, seres tirados do pó como ele e carregando a pena do pecado
dele, v. Rom.
V), assim é em Cristo que todos serão vivificados. 23. Mas cada qual no posto
que lhe cabe: primeiro
ressuscitado é o Cristo, como primícias; em seguida ressuscitarão
os que pertencem a Cristo, quando da Parusia d’Ele. (É necessário, com efeito, que haja um
intervalo entre as primícias e a massa donde elas foram tiradas; será todo o
curso da vida deste mundo, ao longo do qual a massa dos vivos viverá da
esperança, de uma esperança fundada e segura, conformando-se a suas primícias).
24. E depois então,
o fim; agora que Ele entrega a realeza a Deus Seu Pai, depois de ter reduzido a
nada todo principado, dominação e potestade. 25. Pois é necessário que Ele seja
Rei, Rei da história e dos
tempos messiânicos, até o fim, e que Seu reinado dure e se prolongue até aquele
instante, até que Ele tenha posto todos os seus inimigos debaixo de
Seus pés, como a Escritura
predisse do Messias. 26. O último inimigo que será então aniquilado é a morte, quando daquela ressurreição geral que
destruirá a morte, e suas causas, e suas consequências. . . . . . .
. . . . . . . . . 35. Mas vós me indagais como ela poderá acontecer, essa
ressurreição? Não concebeis que gênero de corpo poderá ser o dos ressuscitados?
(36-49. Mas vede o poder de Deus em criar todos os gêneros de corpos que Ele
quiser, e recordai-vos do que é o corpo de Jesus, o homem celeste, transformado
quando de Sua ressurreição). 49. Eis
aqui, pois, a resposta: assim como nós carregamos a semelhança do
homem feito de pó, igualmente carregaremos também a semelhança do homem
celeste: de Cristo ressuscitado.
50. Mas, para que compreendais
bem, contra toda imaginação grosseira ou insuficiente, até onde irá essa
semelhança e a quem ela se estenderá, eu vos afirmo isto, irmãos:
“a carne e o sangue”, quero
dizer aquilo que é enfermo, fraco, caduco na natureza humana,[6]
não podem herdar a realeza de Deus (participação
na qual nos é prometida);
será preciso, pois, que nós sejamos desprendidos das fraquezas, tais como as há
em nosso estado presente; esta corrupção, que era o quinhão do nosso corpo, deste
grão semeado em todas as pobrezas da vida presente e destinado a apodrecer no
sepulcro, não herda a incorruptibilidade; ela não poderá se prolongar sob o regime
da incorruptibilidade, seria contraditório; logo, será preciso que sejamos
todos mudados profundamente. 51. Eis portanto que, ademais,
eu vos revelo um mistério (pois
poderíeis indagar-vos, já que vos apresentei a morte, a morte que o próprio
Cristo teve de sofrer como condição de nossa glória futura, o que é que
sucederá àqueles que a Parusia encontrar ainda vivos). 52. Esse mistério, compreendei-o:
Não é na totalidade, sem dúvida
alguma, eu já o disse (cfr. I Tess.,
infra), que nós
dormiremos com o sono da morte;
mas é na totalidade[7]
que nós seremos mudados, transformados;
e isso em um instante indivisível, em um piscar de olhos, quando da
“última trombeta” (e não antes).
— Pois a trombeta ressoará! — nós
seremos transformados, todos os fiéis pertencentes a Cristo, seja pela
ressurreição ou de outra maneira, os mortos retomando um corpo isento de todas
as enfermidades e necessidades que ele tivera antes de morrer, e os vivos
desprendendo-se de todas essas necessidades e enfermidades sem serem obrigados
a morrer; logo, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós (falo em nome tanto dos mortos como
daqueles que não serão mortos), nós seremos todos mudados em todas as nossas condições de vida, de
forma a passar ao estado de ressuscitados ou ao mesmo estado que o dos
ressuscitados. 53. Pois é preciso que este corpo corruptível (que nós temos no presente, e que os
mortos tiveram), venha a vestir a incorruptibilidade,[8] e
que este corpo, agora mortal, vista a imortalidade. 54. E quando este corpo
corruptível tiver vestido a incorruptibilidade, e este corpo mortal tiver
vestido a imortalidade, e não
houver mais, para nenhum de nós, estas indigências “da carne e do sangue”: que
hora, ó irmãos, será esta hora em que a chegada de Cristo trará a todos nós,
mortos e vivos, a plenitude de uma vida indefectível! Aí então se
verificará, proclamada por Deus
e todos os seres, a palavra da Escritura: “A morte foi engolida na
vitória!”
55. “Onde está, ó Morte, tua vitória”?… 58.
Assim, meus irmãos mui amados, estai firmes, …não vos deixeis mais perturbar a alma por todas estas
questões sobre a ressurreição, sabendo bem que todo o vosso
trabalho não é vão no Senhor, e
vos conduzirá a uma vida completa e eternamente bem-aventurada.”
Nestas perspectivas encorajadoras que Paulo
descortina a seus coríntios, vê-se que não há a mais mínima menção de um
Milênio de felicidade que devesse começar durante a vida deles ou
posteriormente. Dir-se-á pois finalmente, conforme este capítulo XV da Primeira
aos Coríntios, ou que Paulo nem suspeitou da expectativa milenarista, ou que,
se ele a conheceu, afastou dela resolutamente os seus fiéis.
*
* *
* *
A demonstração já está bem completa a nossos
olhos. Se ainda há quem não se satisfaça com ela, examinemos a outra famosa
passagem escatológica, I Tessalonicenses,
IV, 13-18.
O intervalo de tempo que separa esta epístola da
outra não deve, asseguramo-lo mais uma vez, ser levado em consideração. Mas o
estado psicológico dos leitores difere; está, por assim dizer, virado do
avesso. Enquanto Paulo supõe, segundo os últimos versículos (50 e ss.) da
passagem precedente, que certos coríntios podiam se perguntar como é que os
vivos, no dia da Parusia, não estariam em condição inferior à dos mortos, aqui
é o inverso, e o Apóstolo vê-se obrigado a declarar aos tessalonicenses que os
vivos, no dia da Parusia, não terão sobre os mortos vantagem alguma. Estado de
espírito que nós não mais compreendemos; é de crer que aqueles piedosos e
ardentes fiéis da Macedônia tenham sido influenciados por quimeras de quiliasmo
judaico. Em Tessalônica, aguardava-se com fervor o retorno de Cristo, e muitos
para uma época próxima, antes do fim da geração contemporânea. Paulo, sem o
querer, tinha alguma parte nisso: ele os tinha entusiasmado com a esperança do
retorno de Cristo; mas a duração de seu ensinamento tinha sido muito abreviada,
— ou os espíritos deles, lentos demais em abrir-se, — para que ele os tivesse
imbuído do conhecimento das modalidades da Vinda gloriosa. Sob a influência
talvez das sinagogas locais, e dos prosélitos ou “tementes a Deus” que formavam
parte da comunidade deles (Act.
XVII, 4), acreditavam eles que Jesus, — o Messias encontrado! — logo iria
descer novamente à terra, em meio a Seus fiéis vivos, para assegurar-lhes um
período indefinido de felicidade perfeita; mas eles não enxergavam bem qual
seria a sequência dos acontecimentos, nem como é que os seus irmãos na fé que a
morte já tinha levado poderiam participar nesta felicidade. A ressurreição, que
Paulo não pode ter deixado de ensinar-lhes, impressionava-os menos do que essa
perspectiva de regeneração na terra, e parece ter permanecido para eles numa
nebulosidade longínqua.
Paulo retifica essas opiniões judaicas: ele
declara-lhes que os mortos terão acesso à felicidade ao mesmo tempo que os
vivos, e que isso será somente, de forma completa, no Dia da Ressurreição. Ele
não fixa ainda, para tanto, época alguma, respeitando a incerteza com que
Cristo, segundo os Sinóticos, quisera deixar os crentes acerca da data de Seu
retorno. É somente na Segunda Epístola aos Tessalonicenses que, tendo podido
constatar os inconvenientes desse silêncio, ele determinará uma série de
acontecimentos intermediários, cujo desenrolar empurra a Parusia para bem longe
no futuro. Ele assinala aqui duas categorias nas quais se encontrará, naquele
dia, repartida a universalidade dos fiéis: os vivos e os mortos; e, como ele e
seus leitores estão atualmente no número dos vivos, ele fala em nome dessa
categoria, sem de maneira alguma dizer ou insinuar que eles não passarão para a
outra. Toda a questão é tratada aqui unicamente do ponto de vista dos
princípios, sem nenhuma determinação individual. Eis aqui, ademais, o texto:
I Tess., IV, 13. Mas nós não queremos que permaneçais
na ignorância, irmãos, acerca dos que adormeceram, para que não vos aflijais à
maneira dos outros, os que não têm esperança (de um destino glorioso para seus finados).
14. Pois se cremos que Jesus morreu e
ressuscitou, assim os que adormeceram em Jesus (διὰ Ἰησοῦ), Deus os trará
(i.e. no-los trará novamente)[9]
com Ele (i.e. com Jesus).
15. Pois isto nós vos dizemos, falando em nome
do Senhor (cfr. I Cor.,
XV, 50 e 51): Nós, os vivos, os que somos deixados (na terra) até a Parusia do
Senhor, nós não teremos nenhuma dianteira (οὐ μὴ φθάσωμεν) sobre os que
adormeceram.[10]
16. Porque o Senhor mesmo, ao sinal, à voz do
Arcanjo, e à trombeta de Deus (cfr. I Cor.,
XV, 52), descerá do céu, e os homens mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.[11]
17. Em seguida nós, os vivos, os que fomos
deixados, todos juntos, ao mesmo tempo que eles, nós seremos arrebatados às
nuvens ao encontro de Cristo nos ares. 18. E assim nós estaremos sempre com o
Senhor…
Esse texto termina bem de trazer toda a clareza
desejável. A atitude de Paulo para com a “dupla ressurreição” e o
Milenarismo revela-se aí manifestamente negativa. Tudo aí, de fato, é
apresentado como se passando quase in
instanti, e aqui ninguém poderá duvidar de que se trata da Parusia.
Ao mesmo tempo que o Salvador, Deus faz ressurgirem os mortos (evidentemente
ressuscitados) à vista dos vivos. E, antes mesmo de Cristo ter tocado na terra,
todos os salvos, mortos e vivos, são arremessados ao Seu encontro nos ares, arrebatados às nuvens.
Não é para tornarem a descer, a fim de julgarem junto com Cristo aos réprobos
que aguardam trêmulos na terra; essa ideia de antigos como Teofilato não passa
de puro e simples acréscimo, que nada justifica, ao texto e à ideia. Pois está
dito que “assim” (οὕτως,
v. 18), ou seja, sem nenhum outro acontecimento ou formalidade intermediária,
“eles
estarão sempre com o Senhor”. O arrebatamento deles às nuvens não
foi senão o arranque da ascensão contínua deles rumo ao céu, onde repousarão
eternamente com Cristo. Não está dito que os vivos antes tiveram de ser
“transformados”; mas isso é evidente, pois eles se encontram em condição igual
à dos ressuscitados, ágeis como estes, voando com um mesmo voo.
Onde encontrar aí lugar para um Milênio
terrestre seja qual for, que separe do Juízo a Parusia?
*
* *
* *
Esta instantaneidade do drama supremo chega
mesmo a ser levada aqui tão longe, que se procura, não sem embaraço, onde,
quando e como acontecerá o Juízo geral. É, no entanto, indubitável que Paulo
anunciou-o, como os Sinóticos, como o próprio João no Evangelho e
principalmente no Apocalipse. II Cor.
V, 10, é formal, tanto para os eleitos como para os réprobos: “É preciso,
efetivamente, que todos nós sejamos citados a descoberto perante o tribunal de
Cristo, para cada um receber a retribuição do que fez com seu corpo (i. e. na
sua vida corpórea), conforme aquilo que realizou seja de bem ou de mal.” E, nos
próprios versículos que se seguem imediatamente aos que acabamos de estudar, os
ímpios são representados mergulhados na angústia quando da Parusia, que os surpreenderá
como um ladrão noturno, para sua perdição (I Tess.
V, 2-3).
Em suma, reunindo nós, junto das passagens acima
explicadas, muitas outras das Epístolas, podemos reconstituir um quadro
completo, e bem impressionante, do Último Dia. Paulo conservou nelas diversos
traços de apocalipse, o chamado angélico, a trombeta — o que era, na simbólica
judaica, sinal da salvação trazida por Deus a Seu povo, e, correlatamente, do
castigo de Seus inimigos. O sentido profundo é o mesmo de Mateus, XXIV, 27: “Assim como
o relâmpago sai do Oriente e é visto até no Ocidente, assim será a Parusia do
Filho do Homem;… 30 …então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu;… e eles
verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu;… 31 e Ele enviará Seus
anjos com a grande trombeta: e eles reunirão os Seus escolhidos dos quatro
ventos…”. Ou seja, Cristo aparecerá subitamente a todo o universo, e todos os
homens serão surpreendidos ao mesmo tempo pelo fulgor de Sua teofania. Paulo
deixa sempre de muito bom grado na penumbra o destino dos ímpios; ele não
descreverá, pois, nenhuma cena judicial desenrolando-se à maneira de um
julgamento humano, como Mateus,
XXV, 31-46. Quer isto dizer que ele suprime esses fundamentos de seu
ensinamento escatológico? De jeito nenhum, pois ele fala muitas vezes da
condenação dos réprobos, e ele tanto crê no Juízo final e universal, que ele
associa ao pronunciamento da sentença todos os santos, noutras palavras todos
os eleitos, que terão de “julgar o mundo” e mesmo os Anjos (I Cor. VI, 2-3); ele crê
naquele “fogo” do Grande Dia, que revelará o valor exato de todas as obras
humanas (ibid. III,
12-17). O juízo não é suprimido, mas a totalidade dele é contraída em um
instante indivisível; como se todos os homens, conformemente ao ensinamento
ulterior do IV Evangelho, adotassem, ao virem chegar o Cristo-Juiz, a atitude
que impõe a eles a relação em que sua consciência lhes diz que eles estão com
essa Presença (cfr. Rom.,
II, 15-16); e essa Presença sanciona o juízo deles; cada um recebe, diante dos
olhos e com a ciência e a aprovação de todo o Universo, ou uma ou outra das
duas sentenças explicitadas por São Mateus. Mas tudo isso ocorre em uma visão
rápida como o relâmpago, a partir do momento em que Cristo aparece “sobre as
nuvens”: de um só golpe, todos os véus são arrancados; todos os segredos das
consciências desnudados, aprovados ou condenados por todos os Anjos e todos os
homens juntos; todas as sentenças pronunciadas pelo Juiz e pelos próprios réus;
todo o universo renovado por toda a eternidade (Rom. VIII, 21-22); e a separação entre os bons e
os maus, feita também para toda a eternidade. Quadro ainda mais dramático do
que a descrição do Evangelho, esta concentração de grandiosidade formidável
conduz a cena ao ápice do sobrenatural, e ao mesmo tempo que produz, assim
recomposta, o máximo efeito, ela faz a transição e estabelece a união entre o
quadro do Juízo no Primeiro Evangelho e a concepção totalmente intelectual e
espiritual que dele oferece o Evangelho de João.
Mas de milenarismo, nestas fulgurantes
profecias, nem o menor vestígio.
Gostaríamos muitíssimo de concluir com esta nota
positiva e sintética. Mas, para retornar ao tema que propriamente nos ocupava,
“a segunda ressurreição corpórea”, vemos que Paulo nega-a no mínimo por
preterição. Suas profecias são mesmo incompatíveis com esse desdobramento, e
com o milenarismo, muito embora ele devesse conhecer — como faz supor I Tess., e mais não fosse que
por sua antiga formação judia, erudita e pia, — alguma forma de quiliasmo. Ele
fazia tão pouco caso deste, que nem sequer o refutou diretamente.
Portanto, se compararmos o ensinamento de Paulo
sobre os novíssimos com o do Apoc.
XX, em vez de confundi-los, desnaturando a ambos, para reduzi-los a devaneios
dignos de Papias, é necessário constatar:
1º Que eles deveriam distinguir-se já à primeira
vista, na hipótese quiliasta mesma: pois ainda que se considere que o
Apocalipse preveja um Reino dos Mártires, Paulo fala manifestamente do de todos
os justos “que são de Cristo”; logo, não se poderia, nem mesmo nessa hipótese
falsa, reduzi-los à identidade;
2º Paulo fala da ressurreição corpórea no Último
Dia; e o Apocalipse, da ressurreição espiritual das almas durante todo o Reino
messiânico;
3º O Apocalipse, para assim fazer, toma de
empréstimo a figura judaica de um “Reino intermediário” (espiritualizando-o), a
fim de significar os aspectos gloriosos na vida da Igreja militante, unida já à
Igreja triunfante no decorrer da história;[12]
enquanto Paulo contempla somente o que acontecerá no momento da Parusia, que é
para ele o fim, e não o início, do “Reino intermédio” (se se quiser assim
chamá-lo) de Jesus Cristo, a saber: aquele que começou com a Sua Primeira
Vinda, na Palestina, e dali se estendeu por toda a terra.
Concluamos, portanto, que a teoria das “duas ressurreições”
separadas por um Milênio encontra tão pouco apoio em Paulo como em qualquer
outro autor do Novo Testamento. Toda a doutrina escatológica do Apóstolo
implica mesmo a negação dessa teoria.
*
* *
* *
Com a revelação que o Apóstolo comunicou sobre
os fins últimos neste admirável capítulo XV, nós podemos formar-nos uma imagem
total da doutrina escatológica dele, espalhada por todas as suas epístolas,
especialmente I-II Tess.,
Rom., I-II Cor. e Fil.[13]
Jesus ascendido ao céu com Seu corpo glorioso
reina invisível sobre a terra, onde os Seus fiéis vivem “in Christo”, para se
prepararem para reunir-se a Ele. Como Rei e Cabeça da Igreja militante, que é
Seu corpo, Ele luta contra todos os obstáculos e os abate um após outro (I Cor. XV); a guerra é
combatida, no meio de peripécias em que a rejeição temporária e a conversão de
Israel terão grande papel (Rom.
XI), contra todas as potestades do Mal figuradas, sob suas formas mais
insolentes e mais rebeldes, n’“o homem do pecado” (II Tess.), o Anticristo. Ela
durará um longo tempo. As almas dos fiéis, “adormecidos em Cristo”, aguardam o
resultado dela em companhia de seu Mestre (II Cor. V; Fil.).
O dia chegará enfim, quando tudo estará maduro para a Vinda gloriosa; então
Jesus reaparecerá com os Seus (I Tess.),
tudo reconhecerá o Seu poder (Fil.
II, 11), os fiéis vivos não morrerão mas serão transformados (I Cor. XV), o juízo dos bons e
dos maus terá lugar (II Cor.
V, e passim), todos
os eleitos subirão ao Céu com Cristo, que entregará a Seu Pai o que Ele
conquistou, e, tendo destruído para sempre a morte (I Cor. XV), não mais terá mais
nada que vencer; Deus “será tudo em todos”, e os eleitos, glorificados mesmo em
seus corpos pelo Espírito, gozarão eternamente face a face da visão da
divindade (I Cor.
XIII) e do Deus-Homem. Quanto aos réprobos, eles serão ressuscitados também
(cfr. as palavras de Paulo em Act.
XXIV, 15, al.), e condenados a uma infelicidade eterna, mas Paulo falou deles o
menos possível em cartas nas quais ele queria estimular seus convertidos com a
esperança. Este “Apocalipse de Paulo” coincide plenamente, em substância, com
os dos Sinóticos e de João.
[Pode-se ver, quanto a este excurso e o capítulo
precedente, os comentários de GODET, TOUSSAINT, J. WEISS, LIETZMANN, BACHMANN,
LOISY, etc.; — o comentário do Pe. VOSTÉ a Tessal.;
— F. TILLMANN, Die Wiederkunft,
etc.; — A. WIKENHAUSER, Das
eschatologische Problem (Oberrheinisches Pastoralblatt 1929 e Der Sinn der Apokalypse des heiligen
Johannes, 1931); — J. WEISS, Urchristentum,
pp. 373-376; — R. REITZENSTEIN, Das
iranische Erlösungsmysterium, p. 132; — NORDEN, Die Geburt des Kindes, p. 49;
— LEISEGANG, Der Apostel Paulus
als Denker; — E. B. ALLO, L’Apocalypse
de S. Jean3, pp. CXXI-CXXXVII,
307-313, 317-329; — TOBAC, Le
Christ nouvel Adam (Rev. d’hist. ecclés. 1925, 2); — L. TONDELLI,
Gesù nella storia,
1926; — A. VITTI, Christus
Adam, de paulino hoc conceptu interpretando ejusque ab extraneis fontibus
independentia vindicanda (Biblica 7, 1926); — DIBELIUS, Urchr. Gem. et Ostern und Pfingsten; — A. SCHWEITZER, Die Mystik des Apostels Paulus.
Etc.]
_____________
PARA CITAR
ESTA TRADUÇÃO:
Padre ALLO, O.P., São Paulo e a pretensa “dupla
ressurreição corpórea”, 1935; trad. br. por F. Coelho, São
Paulo, mar. 2014, blogue Acies
Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-2g1
de: “Double
résurrection prétendue”, Excursus XLVIII de: Ernest-Bernard (em
religião Fr. Bernard-Marie) ALLO, O.P., Saint
Paul. Première Épître aux Corinthiens, 2ª ed., Paris: Lecoffre,
1934, pp. 438-454,
http://archive.org/details/MN41377ucmf_4
http://archive.org/details/MN41377ucmf_4
[Esse excurso reproduz o artigo Saint Paul et la « double
résurrection » corporelle, in: Revue Biblique XLI (1932) 187-209.]
[1] Cfr. Col., I, 18: “primogenitus ex
mortuis”.
[2] Nem mesmo em I Pet., III, 19-29; mas seria longo
demais prová-lo aqui.
[3] Em seu comentário ao
Apocalipse.
[4] Traduzimos
liberrimamente desta vez, e acrescentamos nossas explicações em itálicos.
[5] Ver com. de 21, A e B.
[6] Ou então: “a pessoa
humana, enquanto repleta de enfermidades, não pode (in sensu composito) herdar, etc.”.
[7] Πάντες tem evidentemente
a mesma extensão nos dois membros desta frase antitética: consequentemente, a
“transformação” atribuída a πάντες2 engloba também a ressurreição
propriamente dita, como um de seus dois modos eventuais. Trata-se de todos os
fiéis, de Corinto e alhures, deste tempo e de todas as outras épocas; o
ensinamento de Paulo visa a universalidade dos fiéis dignos de salvação. E ele
não pensa aqui, como tampouco em I Tess.,
em ensinar-lhes o que quer que seja sobre a data da Parusia.
[8] A palavra ἐνδύσασθαι, “vestir”, é, malgrado Joh. Weiss, uma figura muito exata,
e não uma aproximação, já que na ideia de Paulo, a despeito das teorias desses
autores, é o mesmo corpo que
era mortal e que se tornará imortal, despojando-se da veste terrestre para
vestir a veste celeste, as qualidades “pneumáticas”; não há distinção de
sujeito.
[9] Suas almas, ademais,
antes deste dia, desfrutavam já da companhia de Cristo, vide II Cor. V, 6-s. e Fil., I, 23.
[10] Paulo esperava então ser
pessoalmente um desses vivos no dia da Parusia? Seria preciso, nesse caso, que
suas previsões tivessem mudado bastante, sem que ele tivesse dito nada a
respeito, quando ele escrevia II Cor.,
V, onde ele certamente prevê sua própria morte. Isso a despeito do artigo de Lyder Brun em ZNTW, 1929, Zur Auslegung von II Kor. V, 1-10;
os vv. 6-8 seriam de uma singular banalidade, e pouco dignos do Apóstolo, se
ele só quisesse dizer aí que preferiria (μᾶλλον) ser transformado (sem
morrer) e arrebatado ao céu, antes que permanecer nas misérias desta vida; sem falar
de outras razões, que exporemos a seu tempo.
[11] Πρῶτον, “primeiro”, em correlação com ἔπειτα de 17, e não πρῶτοι, “os primeiros”, que os descobridores de
“dupla
ressurreição” em Paulo declaram ser o sentido deste πρῶτον, para introduzirem, também nesta cena, um segundo
grupo de ressuscitados.
[12] Ver o nosso Commentaire de l’Apocalypse3,
pp. 307-313, e Exc. XL, pp. 317-329.
[13] Ver nosso Comm. de l’Apocalypse3,
Introd., pp. CXXI-CXXXVII.